&quot;A história de seis milhões&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

Se há acusação que nos últimos anos se tem multiplicado em Portugal é a de ser o Estado um gastador compulsivo que desbarata a riqueza do País.

Trata-se, já se vê, de um discurso caracterizadamente de direita, nisto se incluindo uma hipocrisia se se fala de salários mínimos ou cuidados de saúde, a direita entende que se anda a malbaratar o dinheiro dos contribuintes; se se alivia um imposto sobre mais-valias de especulações bolsistas e se proporciona confortáveis lucros a alguns, o Estado faz o que deve...

Ora sucede que se ficou a saber na transacta semana que os governos dos drs. Barroso e Santana tiveram um caso em que conseguiram coisa verdadeiramente notável não gastaram a mais - gastaram a menos! Em concreto, não aplicaram cerca de 6 milhões de euros dos 48,5 milhões que as instituições comunitárias concederam ao nosso país como auxílio excepcional às vítimas e prejuízos causados pelos incêndios florestais de 2003.

Esta "poupança" tem, porém, um traço peculiar não tendo utilizado os 6,2 milhões em causa (um milhão e 200 mil contos, 12 por cento do total!), Portugal vai ser obrigado a devolver a verba a Bruxelas!

Não são necessários muitos adjectivos para qualificar a incúria, a incompetência, a insensibilidade revelada por privar famílias, que viram todos os seus bens destruídos ou comunidades que viram a sua subsistência brutalmente afectada, de apoios para tanto explicitamente concedidos pelos dispositivos de solidariedade comunitária. É um puro crime.

E há circunstâncias em que fica um sentimento de que perder eleições é escassa punição.