&quot;A encenação resignada&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

Com uma candura que seguramente levará esta conclusão à sua prosélita antologia socialista, Eduardo Prado Coelho escreve, acerca da encenação que reconhece ter existido para cobrir as últimas decisões governamentais "Digamos que não há política sem encenação e o que interessa é saber se a encenação funciona ou não."

Ignorava-se em Prado Coelho esta peculiar propensão entre o teatro e Maquiavel, mas segue-se todo um programa "Era preciso – decreta – criar as condições psicológicas para que a população tomasse consciência de que os tempos eram difíceis" (por qualquer razão misteriosa, Prado Coelho ainda não o tinha verificado...). E, pormenorizando: "Os resultados da comissão Constâncio, o protagonismo que este assumiu e o modo como o Presidente da República interveio foram etapas que permitiram a elaboração de um programa harmonizado e uma aceitação mais resignada dos factos inelutáveis."

Convenhamos, isto é mais do que uma encenação é uma conspiração!

E uma conspiração que visa, para incontida alegria de Prado Coelho, "uma aceitação mais resignada dos factos"!

"O homem das direitas crê em Deus, na fatalidade das leis económicas, no inferno, na sífilis incurável, no eterno feminino, na maldição que pesa sobre o povo judeu, na inevitabilidade da guerra, na existência eterna de "ricos e pobres".

Prado Coelho talvez se recorde, são palavras de Roger Vailland, o retrato da direita, da sua "aceitação resignada dos factos"...

José Sócrates pretende reformar mais tarde os trabalhadores da função pública; em termos de esquerda, Prado Coelho reforma-se mais cedo... Resignado.