&quot;A direita na crise&quot;<br />Ruben de Carvalho no &quot;Diário de Notícias&quot;

A direita e o capital consideram, evidentemente, que Santana Lopes como primeiro-ministro é uma catástrofe nacional. Mas receiam ainda mais que eleições antecipadas afastem PSD e PP do poder. Tentam assim uma de duas soluções: ou encontrar dentro do PSD uma alternativa para primeiro-ministro que tranquilize Belém ou então conformar-se como mal menor com Santana a prazo: levar Jorge Sampaio a não convocar eleições, esperando resolver posterior e palacianamente a questão. Qualquer é desastrosa. Nem é necessária imaginação para se prever o explosivo caldo político de um PSD presidido por Santana guerrilhando com um «usurpador» (e quem o apoiou...) que lhe retirou S. Bento. Tudo devidamente embrulhado nos curto-circuitos com Paulo Portas (Santana estará dele mais perto do qualquer «terceira personalidade») e o agravamento dos conflitos internos, já exuberantes com Durão Barroso. Instabilidade constante, colapso a prazo. Mas contemporizar com Santana em S. Bento é fazê-lo com o forrobodó político-económico imediato e a total ingenuidade de admitir que nos dois anos que faltam para novo ciclo eleitoral ele não será capaz de defender-se e levar mais longe a degradação do «aparelho» e dos «autarcas», que já agora jogou o que jogou. Num caso e noutro, além do desastre governativo, tenderá, com a ajuda da coligação PP, a uma crise interna que pode pôr em causa o próprio PSD enquanto partido. Por lá, parece haver quem já tenha percebido.