Sob pena de a cada ano que passa ver desaparecer elementos que sustentam a nossa memória colectiva – edifícios, unidades industriais, monumentos, simples mas significativos locais –, parece indispensável fazer uma reflexão sobre o problema.
A situação da casa de Almeida Garrett é o caso mais actual, ainda não há muito se discutiu a situação de um edifício que durante décadas albergou a PIDE/DGS.
É evidente que os factores de lucro imobiliário contam aqui, mas tudo indica que o quadro legal necessita de estudo. A decisão oficial de preservar um edifício tem como base essencial valores físicos que podem ser avaliados com alguma objectividade (traça arquitectónica, elementos documentais ou testemunhais); mas há também factores mais subjectivos em que o exemplo mais frequente é a conservação integral da residência de uma figura que justifique aplicar o polémico conceito de casa-museu.
Nem sempre é fácil conciliar de forma razoável todos os elementos. O facto de determinada personalidade ter habitado uma casa não lhe concede automaticamente valor arquitectónico, nem é inquestionável que a figura que se entende merecedora de homenagem a receba da melhor forma mediante aquele tipo de solução.
Paris, Barcelona, por exemplo – ou cidades que sofreram graves destruições como Colónia –, apresentam numerosas soluções de conciliação de valores patrimoniais e de manutenção da memória de forma que, pela sua contemporaneidade e criatividade, acabam a constituir riquíssimos factores de fixação da memória tão ou mais ricos do que uma simples manutenção.
Há que estudar soluções.