&quot;... Como vai este país?&quot;<br />António Abreu na &quot;Capital&quot;

O pacote laboral foi aprovado, com os votos contra da oposição. Mas com a benção das mãozinhas de alguns dirigentes da UGT. Cuja federação de professores deu ao mesmo tempo cobertura a um modelo de concursos que não contempla a vinculação extraordinária de seis mil docentes. E com o encerramento de uma série de empresas de outros sectores de actividade, cujos incógnitos patrões (já repararam que nunca lhes mostram as caras?) aproveitaram a boleia da nova dinâmica e coragem reformistas do Governo.

E com a direita a promover grandes consensos nacionais e de patriotismo que a todos nos seriam exigidos , como mostrou o sentido de Estado, que levaram PSD e PS a aprovar o Programa de Estabilidade e Crescimento, e que se teria continuidade em novas reformas.

Do sistema político, claro.

E certamente orientadas pelo aumento da transparência dos actos do Governo, o culto dos bons exemplos de ética e abstinência dos governantes em tempo de crise para os outros, na moderação salarial de assessores de ministros que assim se vão defendendo , na interrupção do saneamento de pessoas que se meteram ao caminho no combate aos crimes de colarinho branco ou no respeito pela proporcionalidade de votos em mandatos e no desfazer de bipolarizações que perpetuam os centrões em políticas e em boys.

Durão Barroso chamou depois os economistas, que deram o amen à contenção salarial e à elevação da competitividade que faça crescer as exportações ( na base evidentemente de salários menores e competitivos com os de alguns países do 3º Mundo até para que certas empresas não se vejam constrangidas a deslocalizar-se) .Felizmente que assim se vão construindo os grandes consensos, mandando às malvas a chatice das negociações colectivas !

Cavaco Silva não podia faltar à chamada e, a solo, como convem em primárias no PSD. Sendo categórico de que não se exige moderação mas congelamento salarial na Função Pública e descida da tributação das empresas (certamente em nome da inovação tecnológica que atingiram ao tempo dos seus governos ou também para se não verem compelidas a deslocalizações...)..O Governo, aluno obediente do professor, anunciou logo aos sindicatos o congelamento.

Santana Lopes, não tão versado nestas questões da macro-economia, mas para não se atrasar nas primárias da Buenos Aires para Belém, lá foi desnivelando, em palavras, o tráfego das Amoreiras para a Alameda das Linhas de Torres, insistindo no atravessamento da cidade por mais tráfego, e tirando outros coelhos da cartola a um ritmo ligeiramente superior ao que nos tem habituado. Mas quebrando o verniz ao despedir Ribeiro Telles e afirmando , face aos protestos de Juntas de Freguesia de Ameixoeira e Carnide, a propósito do Plano e Orçamento para 2003,que “para a próxima não levam nada”. Para quem quer mais poderes presidenciais, não está mal, não senhor !

Regalado, esqueço o frio e conforto-me na nova cultura de exigência de que os nossos maiores vão fazendo prova e que os oráculos confirmam.

- Maya e Zandinga, estais dispensados!

Os comunistas é que dirão (silenciai-os, pois, em nome do optimismo nacional !) que tudo tresanda a trapaça. Que a crise financeira está ligada a outra, económica .

Que a quebra na procura interna já tem, pelo menos três anos. Que com o alargamento da UE vamos, em certos indicadores, passar para 26º lugar. Que a procura externa se irá reduzir sem inovação e qualidade da oferta. Que, assim, o crescimento económico passará a negativo na espiral das quebras do mercado interno decorrentes da quebra de salários.

Que, do conjunto dos factores que determinam a produtividade e competitividade, é, precisamente, o alargamento da procura interna que poderá pressionar as empresas a agir sobre outros factores que condicionam aqueles índices (I §D, novas tecnologias, novos modelos de organização e gestão, inovação e diversidade nas ofertas para o consumo).

Que o Estado tem que estimular estes processos ,dadas as características do nosso tecido económico, maioritariamente constituído por micro e pequenas e médias empresas. Que, certamente têm que ser apoiadas para a exportação, mas não na base da redução dos custos e direitos do trabalho, essenciais para o desenvolvimento prioritário da procura interna que contribua para atenuar os deficites, especialmente numa integração que nos dificultará as exportações.

Para que se crie um ambiente de maior confiança, que contrarie o efeito desastroso que teve no país uma embalagem pré-eleitoral no verbalismo da direita, baseada no catastrofismo, que beneficiou maior desregulamentação, justificou a delapidação de meios de soberania para obter receitas extraordinárias , libertou o bota-abaixismo e se lançou no aumento generalizado de preços.,

“Olá, Sr. Contente? Como vai, Sr. Feliz, diga à gente, diga à gente...”

O autor destas linhas não pretende, com o tom irónico, iludir a gravidade da situação. Pelo contrário. Por isso convida todos os que não querem que lhes empurrem o País para o abismo, a participarem, com os trabalhadores, na grande manifestação de dia 15 de Fevereiro em Lisboa. Todos os que não aceitam o amen do Governo à guerra que, sendo do Sr. Bush, terá consequências imprevisíveis para toda a Humanidade.