Intervenção de Alma Rivera na Assembleia de República, Reunião Plenária

O que irá ditar o futuro é a força dos trabalhadores: a sua unidade, determinação e coragem

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Quinta-feira passada tivemos aqui no Parlamento um momento que teve tanto de caricato como de simbólico.

Aqui dentro tínhamos o Governo, pela voz do Sr. Ministro da Economia, a dizer-nos maravilhas sobre a situação do país: “Desempenho muito bom”, “o PIB aumentou”, “mais oportunidades e mais emprego”, “grande Capacidade exportadora”, (…)

Lá fora, frente à Assembleia da República, nesse preciso momento, estavam milhares de trabalhadores para quem esse discurso não faz muito sentido, não cola com a realidade do dia-a-dia, com a gestão do orçamento familiar.

Lá fora, estavam milhares de trabalhadores a dizer que o País, que a economia só está bem se os trabalhadores estiverem bem, se quem produz a riqueza neste país, estiver bem.

E não está.

Porque a vida se vai dificultando de dia para dia, à medida que os preços sobem, à medida que o valor real dos salários encolhe, à medida que as pensões não chegam para pagar as despesas, a conta da farmácia.

Porque a economia e o país não estão bem se aquilo que se vê é a riqueza a concentrar-se cada vez mais.

Ao dia 9, às centenas de ações em todo o País na jornada de indignação e protesto convocada pela CGTP, soma-se a manifestação dos professores convocada pela Fenprof com a Plataforma dos sindicatos e as lutas de outros sectores de trabalhadores e da população.

São centenas de milhares, de norte a sul do país, a mandar uma mensagem clara ao Governo: este não é o caminho.

É preciso outro rumo: aumento dos salários, valorizar carreiras e profissões, combater o aumento do custo de vida, controlar os preços, aumento das pensões. Isso tem de ser ouvido.

Quinta-feira passada, quando o governo se regozijava com os seus números (da dívida, do défice, do pib…) nas empresas, nos locais de trabalho, com greves, paralisações, plenários, concentrações, em frente a este Parlamento, a mensagem foi dada.

Basta desta injustiça descarada.

Temos bancos como o Santander quase a duplicar os lucros, temos a banca privada a ter 4,4 milhões por dia (!) enquanto milhares de famílias estão em risco de perder a sua casa com os aumentos dos juros decididos pelo BCE, acatados acriticamente pelo Governo e pelo Banco de Portugal, mas também com recusa em encolher as margens de lucros dos bancos, como aqui ficou provado ontem.

A Galp fez 1.104 mil milhões de euros, bateu também o seu record, com o povo a pagar os combustíveis mais caros e o estado a enfiar 3 mil milhões de dinheiro público nas petrolíferas.

A EDP acumula lucros obscenos, porque os preços não são controlados e andamos a pagar contas da eletricidade inacreditáveis. Porque grande parte dos seus trabalhadores estão na precariedade.

Passa-se frio, passa-se mal em Portugal para manter dividendos.

Ou o que dizer das portagens a aumentar, para sacrifício de famílias e empresas, e estarmos a ver os lucros da Brisa a aumentar mais de 20%?

Ou a grande distribuição: com a Sonae e a Jerónimo Martins a lucrarem quase dois milhões por dia. Conseguidos à custa de trabalhadores, alguns com 30 anos de casa, a receber 805 euros e porque cada vez que uma família faz compras nem percebe de onde é que vem uma soma tão alta, tal é o aumento dos preços.

Isto não são só números. Isto são os números das vidas adiadas, desespero de famílias, pobreza e injustiças.

Se há 2,6 milhões de pessoas a viver com menos de 660 euros mensais em Portugal e há quase 400 mil crianças na pobreza, não estamos no caminho certo.

Não pega o discurso de que é preciso primeiro produzir para distribuir ou de que se se aumentam salários vem a espiral inflacionista. Porque estão aí os resultados económicos, está aí inflação na mesma e não houve aumento real de salários para ninguém, excepto administradores e companhia…

Não pega que os trabalhadores têm de empobrecer e calar porque tivemos a pandemia, antes tinha sido o défice abaixo dos 3%, agora é a guerra e depois será outra coisa qualquer.

O que se passa neste país é que o Governo está a servir o lado dos grandes grupos económicos e financeiros e não o lado do povo e de quem vive do seu trabalho.

O que se passa é que a faca e o queijo estão na mão do patronato, que tem os instrumentos ao seu dispor para fazer chantagem, para bloquear a negociação colectiva, para não aumentar salários.

O que se passa é que o PS aprova uma “agenda do trabalho digno”mas mantém as indignidades que estão na legislação laboral. Mantém os retrocessos impostos pelo governo PSD/CDS.

São as mesmas opções:

Manter a caducidade;não repor o princípio do tratamento mais favorável; os vínculos precarios em postos de trabalho permanentes;Manter a loucura dos horários de trabalho, da laboração contínua, do trabalho por turnos, os bancos de horas, flexibilidade e adaptabilidades que desregulam a vida dos trabalhadores; manter o despedimento barato para quem o faz e o trabalho suplementar de borla; manter os ataques à Liberdade sindical.

O que se passa é que se estão a destruir deliberadamente a Escola Pública, o Serviço Nacional de Saúde, os serviços públicos, com a insistência na desvalorização dos seus profissionais e nos salários vergonhosos. E assim se abre a porta ao negócio nos direitos fundamentais como a educação e a saúde.

O governo tarda no respeito pelos professores, pelos profissionais de saúde, pelos trabalhadores da administração local, central, da justiça, das forças de segurança. Insiste em adiar carreiras, progressões, aumentos salariais e ao fazê-lo opta pela injustiça.

E o que estamos a ver, aquilo que o Governo e esta Assembleia deviam prestar atenção, o que teve enorme expressão na semana passada e que não irá parar até haver resposta aos problemas, são pessoas a fazer das injustiças força para lutar.

Com coragem, a fazer frente à repressão que existe nos locais de trabalho, à perseguição de quem levanta a cabeça pelos seus direitos.

Quem produz a riqueza é quem trabalha, são os trabalhadores.

Mas podemos ter outra certeza: o que irá ditar o futuro é a força desses trabalhadores. A sua unidade, a sua determinação, a sua coragem.

Não faltou nos últimos dias e não faltará.

Com o PCP, o partido dos trabalhadores, ao seu lado como sempre.

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