Artigo de Ruben de Carvalho no «Diário de Notícias»

«Quatro»

A presença do ministro da Saúde na Assembleia da República para o debate sobre a vaga de calor ficará como dos mais caricatos episódios da política portuguesa.

O Observatório Nacional de Saúde avaliou em 1300 o número de óbitos causados pelo calor, dado que é sensivelmente esse o número de falecimentos a mais para as médias nacionais _ o que aponta evidentemente uma causa excepcional. Daqueles 1300, 545 verificaram-se em estabelecimentos públicos e foram analisadas estas certidões de óbito.

Ora, segundo o dr. Luís Filipe Pereira, apenas quatro (quatro!) são «atribuíveis ao excesso de calor na primeira quinzena de Agosto».

Qualquer pateta sabe que o calor em si não mata: o falecimento dá-se porque a temperatura agravou um qualquer quadro de risco. Se um calor sufocante desencadear um acidente cardiovascular, seguramente que o médico não escreverá que o doente morreu de calor! Mas se o paciente estivesse num ambiente climatizado ou informado e preparado para os perigos, possivelmente o coração teria resistido.

Mas há até uma circunstância particular: morreram dezoito pessoas queimadas. O nosso ministro da Saúde entenderá que nem essas devem ser «atribuíveis ao excesso de calor na primeira quinzena de Agosto»?