Pergunta ao Governo N.º 3909/XII/1

Proposta de emprego divulgada pelo IEFP para contratação de enfermeiro para Inglaterra

Proposta de emprego divulgada pelo IEFP para contratação de enfermeiro para Inglaterra

Infelizmente, tem sido prática do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) divulgar e promover propostas de emprego, nomeadamente para licenciados, com remunerações equivalentes ao salário mínimo nacional, ou ligeiramente superiores, nos montantes de 500€ a 600€, sem garantia dos direitos de trabalho, imperando a instabilidade e a precariedade nas relações laborais.
Recentemente o Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português teve conhecimento de uma proposta de emprego divulgada pelo IEFP, para contratação de um enfermeiro para Londres, em Inglaterra (oferta nº 587836220 e referência eures: M2608), que no mínimo, podemos considerá-la “insólita”.
A referida proposta estabelece como funções a desempenhar pelo enfermeiro e passo a citar “prestar apoio domiciliário a paciente em sua casa em Londres durante o período mínimo de 1 ano. O/A candidat (o/a) deverá gostar de trabalhar com idosos, e saber falar inglês. Embora mentalmente lúcido, o doente encontra-se em estado de dependência física. Os cuidados necessários de enfermagem (higiene, medicamentos) e médicos são já assegurados através de
visitas diárias que recebe por parte dos serviços de saúde e da segurança social. Contudo, necessita de apoio psicológico e na recuperação da mobilidade. Pretende profissional que seja uma força positiva e encorajadora e que esteja preparad (o/a) para interagir com os serviços médicos/hospitalares locais e disponível para preparar refeições, limpar a casa e cuidados mínimos do jardim” (sublinhado nosso).
É inacreditável que seja o Governo a promover propostas de emprego para enfermeiros, em que as funções exigidas não correspondam ao conteúdo funcional dos enfermeiros, como é exemplo “preparar refeições, limpar a casa e cuidados mínimos do jardim”. Esta proposta de emprego
constitui um ataque e uma desvalorização destes profissionais. Mais, significa uma inaceitável desqualificação dos enfermeiros, quando se tem concretizado um caminho de valorização das suas formações académicas. Acresce ainda o facto, da referida proposta de emprego não indicar a remuneração líquida e os mecanismos de articulação entre a prestação de cuidados enquanto enfermeiro e os que são assegurados através de das visitas diárias que recebe por
parte dos serviços de saúde.
Não admitimos que o IEFP, enquanto entidade da Administração Central, sob tutela direta do Governo fomente o desrespeito pela carreira de enfermeiro e pelos seus conteúdos funcionais.
Tais atitudes revelam a não dignificação destes profissionais pelo Governo. Este exemplo concreto enquadra-se nas opções políticas adotadas pelo Governo em matéria laboral: retirar direitos aos trabalhadores, aumentar a exploração e a precariedade e desvalorizar os trabalhadores.
Ao abrigo das disposições legais e regimentais aplicáveis, solicitamos ao Governo que por intermédio do Ministério da Saúde nos sejam prestados os seguintes esclarecimentos:
1.Como justifica o Governo que o IEFP divulgue e promova este tipo de propostas de emprego, exigindo como funções para um enfermeiro, a preparação de refeições, limpeza da cas ou cuidar do jardim?
2.Não considera que o fomento desta proposta de emprego constitui uma desqualificação da carreira de enfermeiro e dos seus conteúdos funcionais e um desrespeito dos profissionais?
3.Quais os critérios de seleção e de divulgação de propostas de emprego pelo IEFP? Tem em consideração a salvaguarda dos direitos dos trabalhadores ou a garantia que o conteúdo funcional exigido corresponde ao profissional que pretende contratar?
4.No caso desta oferta de emprego, o Governo teve a preocupação em pedir esclarecimentos, nomeadamente quanto à articulação entre a prestação de cuidados pelo enfermeiro e os cuidados prestados diariamente pelos serviços de saúde e quanto à disponibilidade para prepara refeições, limpar a casa ou cuidar do jardim?

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