Por uma Europa de Paz e Cooperação

O PCP promoveu um Seminário Internacional «Por uma Europa de Paz e Cooperação - Não ao militarismo, Não ao Tratado de Lisboa»,  em Lisboa. Estiveram presentes representantes de partidos comunistas e progressistas do Chipre, Espanha, França, Grécia e República Checa.

Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP

Caros convidados,
Queridos Camaradas,
Há momentos na vida e na luta em que o tempo que temos não é aquele que queremos ter. Este é um deles. O tempo de que disponho para estar aqui hoje não é aquele que gostaria de dedicar a esta iniciativa, sobretudo tendo em conta o seu rico e alargado leque de participações e a importância e actualidade do tema que ireis abordar. Mas como sabem, por vezes as agendas de campanha eleitoral são implacáveis e obrigam-nos a multiplicarmo-nos em várias iniciativas no mesmo dia. É o caso do dia de hoje. Apelo por isso à vossa compreensão.
Permitam-me então camaradas começar por valorizar a presença de todos os participantes e convidados. E ao fazê-lo, saudar de forma muito especial os representantes dos Partidos comunistas e progressistas convidados que, num muito curto espaço de tempo, responderam, todos, positivamente ao nosso convite para hoje aqui estarem.

De forma especial, porque sabemos bem como é difícil sair dos nossos países quando estamos envolvidos numa importante batalha eleitoral como estas eleições para o Parlamento Europeu. E de forma muito especial porque a vossa presença aqui hoje é uma expressão concreta da cooperação e solidariedade entre os nossos Partidos bem como um importante contributo para, no marco da campanha eleitoral da CDU, podermos abordar com especial profundidade um tema tão importante como o deste seminário.
Se há temas em que faz sentido estarmos juntos na luta, partilharmos ideias e definirmos linhas de intervenção comuns - e há-os com certeza - então, o tema da luta pela paz, contra a guerra e o militarismo é, por excelência, um deles.

Camaradas,
Temos pouco mais de duas semanas de campanha eleitoral pela frente. Dentro de 15 dias os povos dos países da União Europeia serão chamados a eleger os deputados para o Parlamento Europeu. Estas eleições são um momento importante da nossa luta comum que nos coloca sempre perante imensos desafios. Estamos empenhados no reforço eleitoral dos nossos partidos. Mas, um reforço eleitoral que não vemos como um fim em si próprio, mas sim como uma importante condição para o reforço da luta que travamos contra o actual rumo do processo dito de “construção europeia” e para abrirmos caminhos à construção de uma Europa dos trabalhadores e dos povos. Uma luta que travamos fora e dentro do Parlamento Europeu e para a qual o Grupo da Esquerda Unitária Europeia / Esquerda Verde Nórdica, tem dado um importante contributo.
Em Portugal enfrentamos este desafio eleitoral com grande confiança. Uma confiança baseada na forte luta social e de massas que os trabalhadores e o nosso povo têm travado em diversos momentos, alguns do quais os nossos convidados estrangeiros puderam testemunhar, como as jornadas de luta em Guimarães e em Lisboa, durante a Presidência Portuguesa da União Europeia. Uma confiança que resulta também das mensagens e sinais de apoio muito significativos que temos recebido por todo o país, bem como do facto de estarmos a travar esta batalha contando com um Partido e uma Coligação mais fortes na sua organização e influência social.

Mas uma batalha eleitoral marcada também por inaceitáveis actos de discriminação do nosso Partido e da CDU que revelam bem o incómodo que está a causar em alguns sectores a possibilidade real do reforço da CDU nestas eleições e nos dois processos eleitorais que se lhe seguirão em Setembro e em Outubro. Um reforço que pensamos ser condição fundamental para tornar mais próxima uma ruptura com a política de direita que os governos do PS, PSD e CDS têm vindo a praticar e para afirmar a possibilidade real de uma política alternativa, base primeira da necessária alternativa política por que lutamos no nosso país.

À semelhança de outros países da Europa, também em Portugal travamos esta batalha eleitoral no quadro do aprofundamento vertiginoso dos efeitos da crise do capitalismo. E, camaradas, quando esta gravíssima situação justificaria de todas as forças políticas uma discussão séria sobre as causas, os responsáveis, e as soluções para a crise que vivemos, em Portugal, assistimos, ao invés, a uma intensificação das manobras mediáticas que tentam retirar da agenda política a discussão sobre os problemas dos trabalhadores e do povo, a situação do país e a essência das políticas, insistindo-se e investindo-se na mediatização do acessório, do detalhe, do ataque e vitimização pessoal e do pequeno conflito partidário, alimentando-se assim o absentismo e a apatia política.
É também muito clara a fuga à discussão das grandes questões como as que estamos hoje aqui a tratar. Uma fuga que tenta esconder a coincidência de posições entre social-democracia e direita nas grandes questões europeias, nomeadamente no que toca à militarização da União Europeia. Uma coincidência que põe a nu a opção de classe que preside ao aprofundamento do rumo da União Europeia ao serviço do grande capital, militarista, directório de grandes potências.

Da nossa parte não desistiremos de dar prioridade aos problemas dos trabalhadores e dos povos e de dar visibilidade a esta simples ideia: Há formas diferentes de olhar para a Europa. Há visões alternativas relativamente ao que deve ser uma real cooperação entre povos e países na Europa. Há outros caminhos a trilhar na construção do futuro do nosso país, da Europa e do Mundo. E é essencialmente sobre isto que os portugueses e demais povos da União Europeia terão de se pronunciar nestas eleições.
Aqui, em Portugal, várias forças políticas tentam, sistematicamente, empurrar-nos para a trincheira dos que são contra a Europa. E mil vezes lhes respondemos que contra a Europa são aqueles que insistem numa União Europeia construída nas costas dos povos, contra os seus direitos e aspirações. Contra a Europa são aqueles que insistem numa União Europeia que em tempo de profunda crise não apresenta uma única medida de fundo para resolver o problema dos mais de 20 millhões de desempregados mas que é particularmente rápida e eficiente quando se trata de insistir na sua militarização, de decidir a sua participação nas guerras imperialistas – como no Iraque e no Afeganistão -, de reforçar o seu cordão umbilical com a NATO e de investir nos gastos militares e no desenvolvimento do complexo industrial militar europeu.

Portugal tem sido, infelizmente, um agente particularmente activo deste processo. Fosse com a direita, seja agora com o PS no governo. Foi nos Açores que Durão Barroso, bem conhecido de todos vós, recebeu a cimeira da guerra. Foi o actual primeiro-ministro Sócrates que com um caloroso abraço comemorou com Durão Barroso a assinatura do projecto de Tratado de Lisboa. É o governo do PS que se tem afirmado como um dos mais entusiastas defensores do reforço da participação europeia na guerra do Afeganistão. E foi este mesmo governo que acedeu receber a próxima cimeira da NATO que aprovará o seu novo e ainda mais agressivo conceito estratégico. Mas não avançarão sem a nossa determinada oposição e luta defendendo uma política externa para Portugal que respeite os princípios da Constituição da República Portuguesa, o direito internacional, a soberania e a autodeterminação dos povos.

Camaradas e Amigos,
Olhando para a Europa em tempo de eleições e de crise, parece-nos possível identificar uma estratégia comum das forças dominantes que se unem na defesa desta União Europeia: ela é a fuga às grandes questões fracturantes do ponto de vista político e ideológico. Uma fuga que visa impedir a tomada de consciência política, a reflexão e a discussão sobre as reais alternativas e, assim, semear o conformismo e a apatia - quer em relação à crise que vivemos, quer em relação ao caminho e pensamento único que tentam impor aos povos da Europa.

E é exactamente contra o conformismo e a apatia que organizaremos amanhã, aquela que será com toda a certeza, a maior iniciativa de massas desta campanha eleitoral: A marcha “protesto, confiança e luta”. Uma marcha que demonstrará a profunda confiança com que olhamos para estas eleições e para a luta que se lhes seguirá e que afirmará claramente aos trabalhadores e ao nosso povo que está nas suas mãos mudar este país e a Europa.
Será um momento especial para nós. Uma Marcha de todos aqueles que ao longo destes anos acreditaram, acreditam, e irão continuar a acreditar na força de um povo unido na sua luta para transformar o país e o mundo em que vivemos. Uma Marcha que dará corpo à ideia de que sim é possível Abril de novo com a força do povo. E uma Marcha que, para nossa alegria, contará com a presença de alguns de vós que noutros países da Europa connosco partilham a ideia de que um outro mundo - o de paz, progresso e justiça social - e uma outra Europa - a dos trabalhadores e dos povos - são possíveis.
Camaradas e amigos,

Em Portugal é hábito dizer-se que aos amigos não se agradece. Portanto, como estamos entre amigos, não o farei. Mas ao melhor estilo português, garanto aos nossos convidados estrangeiros que tudo faremos para que durante a vossa estadia no nosso País se sintam em casa. E também vos garantimos que, quer antes, quer depois das eleições, podem contar com o apoio e solidariedade deste Partido Comunista Português que quer continuar a contribuir para reforçar a nossa cooperação e amizade e com isso reforçar a luta dos trabalhadores e dos povos dos nossos países. Termino pedindo-vos que transmitam aos vossos Partidos, aos muitos camaradas que nos vossos países estão a travar esta batalha eleitoral, os calorosos votos de sucessos nestas eleições. Sucessos vossos que serão também sucessos nossos. Porque, como refere o Apelo Comum para as Eleições aprovado recentemente na Reunião de Chipre, “a solidariedade é a nossa força”!

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