(debate da moção de censura n.º 3/XII/2.ª)
Sr.ª Presidente,
Sr. Primeiro-Ministro,
A intervenção que aqui fez é reveladora de uma enorme falta de vergonha, acima de tudo, porque, menos de um dia depois de o seu Ministro das Finanças anunciar o mais brutal assalto ao bolso dos portugueses de que temos memória, o Sr. Primeiro-Ministro veio aqui dizer que o País está no bom caminho e que não há outro caminho. É de uma grande falta de vergonha, Sr. Primeiro-Ministro.
Disse o senhor que não há alternativa à austeridade.
Sr. Primeiro-Ministro, isto não é austeridade, isto é puro terrorismo social — não tem outro nome, Sr. Primeiro-Ministro!
O Governo não tem legitimidade para levar por diante esta política, que é ilegítima porque é, verdadeiramente, uma política de traição nacional.
Os senhores prometeram um Governo para Portugal, mas os senhores comportam-se não como o Governo de Portugal mas como uma regência para gerir o País às ordens de uma ocupação estrangeira, à custa da miséria dos portugueses.
Este é o Governo que está a arrastar o País para a miséria, mas é também ele próprio uma miséria de Governo, Sr. Primeiro-Ministro.
É um Governo em que os ministros se afundam em trapalhadas e em enxovalhos, é um Governo que não pode sair à rua porque os seus membros são tratados pelos portugueses como se fossem vulgares gatunos.
O senhor veio aqui falar de sucessos, mas o resultado da sua governação (sei que é duro, mas os senhores têm de ouvir) é um ciclo vicioso de desemprego, de recessão, de empobrecimento, de miséria, e os portugueses não aceitam essa política.
O senhor veio aqui dizer que não há outro caminho que não seja o suicídio, a liquidação do nosso País, e isso os portugueses não aceitam!
O que está em causa, hoje, é muito claro, é a demissão deste Governo.
A demissão deste Governo — e os portugueses têm cada vez mais consciência disso — é o único caminho para evitar a tragédia social para onde os senhores estão a arrastar o País, a grande velocidade. Por isso, só há um caminho para o País, que é a demissão deste Governo.
Sr. Primeiro-Ministro, não somos só nós que o dizemos, é o País que o exige todos os dias. Este Governo sairá e não o fará pela porta da frente mas, sim, pela porta das traseiras, que é a única porta por onde os portugueses deixam os membros do Governo sair à rua.
O Governo poderá sobreviver hoje, nesta Assembleia, à moção de censura, mas não sobreviverá à censura que vai por esse País fora. E, até à demissão deste Governo, temos a certeza absoluta que essa censura, a censura dos portugueses, vai continuar.