Intervenção de Bruno Dias na Assembleia de República

Petição manifestando-se contra a privatização dos CTT

(petição n.º 313/XII/3.ª)

Sr.ª Presidente,
Sr.as e Srs. Deputados:
Muitas vezes, valorizamos as petições que são apresentadas à Assembleia da República justamente pelo seu significado mais essencial, que comporta participação, mobilização e luta dos trabalhadores e das populações em defesa de causas concretas e dos seus direitos.
As petições não são um ato isolado, são um processo de esclarecimento, de participação e de intervenção. Deverá ser difícil voltarmos a ter uma situação como a que aconteceu com esta petição do Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações.
Esta petição traduziu-se, na verdade, num contacto de norte a sul do País, mobilizado pelo Sindicato, com a participação de autarcas, de utentes e de tantos e tantos que, por todo o País, lutaram contra a privatização dos Correios.
Foram inúmeras as jornadas de luta, as concentrações, os encontros, os momentos de recolha de assinaturas. E, mais do que recolher assinaturas, recolheram forças, apoios, convergências em torno desta causa da defesa do interesse nacional.
No dia em que esta petição foi entregue à Sr.ª Presidente da Assembleia, no nosso País registava-se um dia de luta dos trabalhadores dos Correios, quer dos que estavam no ativo, quer dos que já estavam aposentados. Na véspera, eu e outros estivemos em Cabo Ruivo com o piquete de greve dos trabalhadores dos Correios e presenciámos aquela atuação vergonhosa das forças policiais.
Durante o dia que se seguiu, estivemos com os trabalhadores, acompanhando-os na sua marcha dos Restauradores até ao Terreiro do Paço. Os trabalhadores diziam bem alto que não iriam desistir de lutar contra a política de traição nacional que o Governo vinha fazendo e que continuou a fazer.
De então para cá, a vida tem dado razão ao PCP, aos trabalhadores dos CTT e a todos os que lutaram e que continuam a lutar contra esta política de entrega e de desmantelamento dos setores estratégicos, da soberania e da defesa nacional.
De então para cá, o preço do tarifário relativo ao correio azul subiu 6,38% e relativo ao correio normal subiu 12,5%. Agora, foi anunciada mais uma medida de aumento do preço dos selos e dos serviços dos correios.
De então para cá, temos vindo a assistir à política escandalosa de favorecimento dos interesses privados que tomaram conta dos Correios — a Goldman Sachs e o Deutsche Bank — e àquilo que tem vindo a acontecer no processo do Banco Postal e dos Espaços do Cidadão
Mais uma vez, verifica-se um aumento brutal dos preços praticados nos Correios, a distribuição de dividendos de 61 milhões de euros, o crescimento dos lucros de 71% face ao ano anterior, contrastando com o congelamento salarial e o ataque às obras sociais, aos direitos e aos interesses dos trabalhadores e dos utentes.
Sr.as e Srs. Deputados,
A vida está a dar razão ao PCP. Queremos saudar os trabalhadores dos Correios e todos os que lutam contra esta política de privatização, de segmentação, de desmantelamento e de entrega da soberania nacional, porque, como diz o poema do Brecht, «há aqueles que lutam toda a vida, e esses são os imprescindíveis».

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