Voto de Pesar N.º 345/XVI/1.ª

Pesar pelo falecimento de Rogério de Carvalho

Pesar pelo falecimento de Rogério de Carvalho

O Encenador Rogério de Carvalho faleceu no passado dia 21 de setembro, aos 88 anos de idade.

Nascido na Gabela, Angola, em setembro de 1936, Rogério de Carvalho iniciou a sua carreira enquanto aluno do Conservatório Nacional de Lisboa, atual Escola Superior de Teatro e Cinema, na qual lecionou até 2007. Dedicou quase 60 anos da sua vida ao teatro, encenando dezenas de textos de autores muito diversos, desde autores clássicos até autores contemporâneos, e trabalhou com inúmeras companhias de teatro de Portugal e de Angola, destacando-se a sua intensa colaboração com a Companhia de Teatro de Almada.

O sentido humano profundo marcou de forma determinada e permanentemente a sua atividade artística e profissional. Quando estreou a peça “Confissões” de Santo Agostinho, levada à cena em 2017 no Teatro Nacional de São João, no Porto, Rogério de Carvalho reconhecia essa sua determinação, afirmando que aquilo que levava a palco era sempre "um olhar sobre os humanos e a sua situação no mundo", fosse esse olhar "de indiferença ou de conformismo".

Com diversas companhias e diferentes encenações, revisitou com frequência o autor contemporâneo Howard Barker. “Baker”, disse Rogério de Carvalho em entrevista à Agência Lusa quando em 2015 estreou o seu texto “As Possibilidades”, “é um autor de uma atualidade muito grande [...]. Muito rapidamente transpomos o que é representado para as muitas situações de violência que atingem o mundo, como os conflitos no Médio Oriente ou a morte dos migrantes africanos no mar".

Em Almada, com a Companhia de Teatro de Almada com a qual estabeleceu uma relação de proximidade muito intensa, encenou diversas peças ao longo de quatro décadas.

Para além de uma carreira ímpar enquanto encenador, Rogério de Carvalho teve um papel profundamente marcante para gerações de atores e atrizes, que formou e acompanhou enquanto professor da Escola Superior de Teatro e Cinema.

Rogério de Carvalho trabalhou, ainda, com dezenas de companhias portuguesas de teatro, entre profissionais, amadoras e universitárias, tendo dirigido espetáculos nos Teatros Universitários do Minho e do Porto, e sendo uma referência da história recente do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC). Percorreu o país, trabalhou com atores em Angola e Moçambique. Dirigiu e orientou ainda o Núcleo de Teatro da Fundação Sindika Dikolo, em Luanda, dedicado à formação de atores e criação de peças de teatro.

Rogério de Carvalho foi distinguido com vários prémios ao longo da sua carreira, com destaque para o Grande Prémio atribuído pela Associação Portuguesa de Críticos de Teatro (APCT), o prémio de Melhor Encenação da mesma Associação, ou o Prémio Almada, na área do Teatro, atribuído pelo Instituto Português das Artes do Espetáculo.

Em julho de 2015, Rogério de Carvalho foi a figura homenageada pela 32ª edição do Festival de Teatro de Almada, promovido pela Câmara Municipal de Almada e Companhia de Teatro de Almada.

A Assembleia da República, reunida em plenário, manifesta o seu pesar pelo falecimento de Rogério de Carvalho e expressa aos seus familiares, admiradores, homens e mulheres de Teatro, as suas sentidas condolências.