Foi numa missão de luta pela defesa da paz, contra a guerra e o embargo, que integrámos a delegação ao Iraque com mais de trinta deputados do Parlamento Europeu, de onze países e quatro diferentes grupos políticos.
O apelo que subscrevemos de solidariedade com o povo iraquiano nada tem a ver com a condenação que fazemos do regime de Saddam Hussein. A verdade é que para condenar um regime e satisfazer os interesses hegemónicos e imperialistas da Administração Bush, que pretende controlar o petróleo do Iraque, não se pode condenar um povo a uma catástrofe humanitária. Não se pode aceitar o sofrimento de largos milhões de pessoas e morte de muitas centenas de milhar, que vivem já hoje em condições muito precárias por causa do embargo.
O que pretendemos, tal como a maioria da população portuguesa, é que não haja guerra, e se desenvolvam todas as iniciativas que possam promover a paz. Depois de 22 anos de guerras e privações, o povo iraquiano sofre. Como pudemos constatar durante a visita a hospitais e escolas, em Bagdade e outras zonas, assiste-se a uma regressão económica e social importante. A saúde, a educação e os serviços essenciais são deficientes. O ambiente está muito degradado. É que mais de dez anos de embargo destruíram a economia e não permitem a recuperação dos equipamentos nem garantem um mínimo de qualidade de vida. A taxa de mortalidade infantil, que há doze anos variava entre 40 e 50 por mil nascimentos, hoje quase triplicou. Uma em cada sete crianças morrem antes dos cinco anos, e uma criança em cada três está subalimentada, apesar do programa " petróleo por alimentos", coordenado pela ONU, que permite a distribuição gratuita pelo governo iraquiano de 18 quilogramas de alimentos mensais a cada pessoa. Ora, nestas condições, uma guerra agravaria tudo, e com a fragilidade social existente morreriam muito mais do que os cerca de 200 mil pessoas da guerra anterior.
Durante a visita foi particularmente chocante, como referiu o presidente do meu Grupo parlamentar, Francis Wurtz, ver a "recordação" que a guerra do Golfo deixou nos espíritos, na zona desmilitarizada do sul do Iraque, onde um cemitério enorme de carcassas de carros, tanques, jeeps, ambulâncias e autocarros atesta as últimas horas do conflito, já quando as tropas iraquianas recuavam, e os americanos fizeram um último bombardeamento, provocando mais de 30 mil vítimas inúteis.
Tal como afirmou o porta-voz dos inspectores da ONU, enquanto os inspectores estiverem no terreno, Saddam não fabricará armas proibidas. Por outro lado, é impossível terminar a sua missão em dois meses. Assim, é necessário mais tempo. E com mais tempo é possível obter o desarmamento completo sem a guerra. Daí também a importância das posições franco-alemãs contra a guerra e da Cimeira especial que o Conselho vai realizar, em Bruxelas, no próximo dia 17 de Fevereiro. Esperemos que haja condições para um recuo dos governantes seguidistas de Bush, que assinaram a carta de apoio à Administração americana. E que a União Europeia possa dizer, a uma só voz, não à guerra. É que sem paz não pode haver desenvolvimento e a própria Cimeira da Primavera será um fracasso se não for possível evitar a guerra.
Daí também o apelo que fazemos a todos para que participem nas manifestações de 15 de Fevereiro, contra a guerra e pela paz. Só uma grande mobilização popular poderá impedir esta tragédia e obrigar a Administração americana e todos os que apoiam a psicose belicista e imperialista de Bush, como o governo português, a parar a máquina da guerra que está pronta a actuar a qualquer momento.
Paremos a guerra antes que comece.