Intervenção de Paulo Sá na Assembleia de República

A passagem do primeiro aniversário do abalo sísmico ocorrido no Japão, que provocou um tsunami e o desastre nuclear em Fukushima, e os perigos da produção daquele tipo de energia e a necessidade da sua não importação por Portugal

Sr.ª Presidente,
Srs. Deputados,
Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia,
Trouxe hoje aqui um tema muito importante, o da energia nuclear.
Quero dizer-lhe que desde a primeira Conferência das Nações Unidas para a Aplicação Pacífica da Energia Atómica, em 1955, a energia nuclear tem sido considerada, por diversos setores, como a energia do futuro.
Contudo, a expansão do uso da energia nuclear processou-se a um ritmo modesto e sempre envolto em grande controvérsia. Para isso contribuíram vários fatores, entre os quais a segurança dos reatores, que a Sr.ª Deputada referiu, a recuperação e reciclagem dos combustíveis irradiados nos reatores e, por fim, o problema da deposição definitiva dos resíduos radioativos.
O aproveitamento da energia nuclear para fins pacíficos é uma questão muito complexa, que envolve problemas de ordem técnica e científica e alimenta receios justificados relativamente aos impactos e riscos ambientais, como o demonstram os acidentes que ocorreram e que a Sr.ª Deputada referiu, nomeadamente o problema de Fukushima.
As necessidades energéticas da humanidade têm crescido de uma forma exponencial, contudo, a energia nuclear contribui para o peso global nuns modestos 6,7%. Este número não pode crescer significativamente, até porque as reservas de combustível nuclear são limitadas e esgotar-se-iam ao fim de umas dezenas de anos.
Portanto, face ao conhecimento científico e técnico atual, entendemos que a energia nuclear não é, nem pode ser, uma alternativa aos combustíveis fósseis e que a aposta, na nossa opinião, deve ser feita nas energias renováveis.
Relativamente a Portugal, entendemos que, no atual quadro nacional, nada justifica que se avance pela via nuclear, até porque no atual nível de desenvolvimento científico e tecnológico, os graves problemas relativos ao funcionamento dos reatores e à deposição definitiva dos resíduos nucleares ainda não estão resolvidos. Entendemos, pois, que no quadro atual não se deve avançar nesta via. No entanto, estamos abertos a analisar, no futuro, face aos avanços da ciência e da tecnologia para resolver estes problemas referidos na intervenção da Sr.ª Deputada, a analisar essa possibilidade.
Termino, Sr.ª Presidente, perguntando à Sr.ª Deputada se concorda com esta perspetiva.

  • Ambiente
  • Economia e Aparelho Produtivo
  • Assembleia da República
  • Intervenções