A cidade berço da Revolução de Outubro, a actual São Petersburgo, foi palco, nos dias 2 e 3 de Novembro, do 19.º Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários (EIPCO), acolhido pelo Partido Comunista da Federação Russa (PCFR).
O 19.º EIPCO, que se realizou sob o lema «O 100.º aniversário da Grande Revolução Socialista de Outubro: os ideais do movimento comunista, fortalecer a luta contra as guerras imperialistas, pela paz e o socialismo», integrou-se num programa mais amplo de comemorações do centenário da Revolução de Outubro promovido pelo PCFR, que decorreu em São Petersburgo e em Moscovo, de 2 a 7 de Novembro. O Encontro Internacional foi simbolicamente realizado no Palácio Tavrichesky, na mesma sala onde Lénine apresentou as suas famosas Teses de Abril e onde foram discutidas as bases da constituição da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Aberto por Gennady Zyuganov, presidente do CC do PCFR, o Encontro Internacional teve a participação de 103 delegações de partidos comunistas e operários de todos os continentes, tendo o PCP sido representado por Pedro Guerreiro, membro do Secretariado do Comité Central e responsável da Secção Internacional, e Ângelo Alves, da Comissão Política e da Secção Internacional. Tal como todos os partidos presentes, o PCP teve oportunidade de proferir uma breve intervenção e de deixar o seu contributo para o debate.
Os partidos participantes aprovaram um Apelo onde, entre outros aspectos, sublinham a importância do legado de Lénine e do Partido Bolchevique como fonte de inspiração e experiência e o significado histórico da Revoução de Outubro de 1917, que deu início à superação revolucionária do capitalismo pelo socialismo e o comunismo. A construção de uma sociedade livre da exploração do homem pelo homem, a edificação do primeiro Estado de operários e camponeses do mundo, apontando a paz, a justiça social, a economia ao serviço dos interesses de todo o povo e a emancipação dos trabalhadores e dos povos eram elementos centrais do novo Estado soviético.
Significado universal
No Apelo reconhece-se ainda as conquistas da União Soviética, que, num espaço de tempo historicamente curto, alcançou sucessos sem precedentes nas áreas económica, social, cultural, política, científica e tecnológica, representou um estímulo para o desenvolvimento do movimento comunista internacional e para a luta dos trabalhadores nos países capitalistas, tornou-se um garante da paz e contribuiu de forma decisiva para a vitória sobre o nazi-fascismo e para a conquista da libertação nacional dos povos secularmente oprimidos e colonizados.
Apontando a necessidade de continuar a aprofundar as causas que levaram à derrota da União Soviética, o Apelo rejeita as especulações de que as mudanças contra-revolucionárias que ocorreram no final do século XX anulam o significado histórico da Revolução de Outubro e das realizações da URSS na construção da nova sociedade. Antes pelo contrário, os partidos comunistas e operários presentes no Encontro Internacional salientam que, face a um sistema capitalista mergulhado numa profunda crise estrutural e à violenta e perigosa ofensiva exploradora e agressiva do imperialismo, a actual realidade afirma o socialismo como exigência da actualidade e do futuro.
Acção comum e convergente
Saudando as lutas dos trabalhadores e dos povos que têm lugar por todo o mundo contra a ofensiva do imperialismo e pela soberania e independência nacionais, a paz, o progresso social e o socialismo, o 19.º EIPCO aprovou um conjunto de linhas de orientação para a acção comum e convergente: a intensificação da luta contra o anticomunismo e da solidariedade com os comunistas e todos quantos enfrentam a perseguição política, como acontece na Ucrânia; a divulgação das obras de Lénine; a comemoração do 200.º aniversário do nascimento de Karl Marx e dos 170 anos da publicação do Manifesto Comunista; a denúncia da natureza exploradora, opressora, agressiva e predadora do capitalismo e da sua ideologia; o fortalecimento da luta pelos direitos laborais, sociais, sindicais e democráticos; a defesa dos direitos e das liberdades democráticas, o combate ao racismo e ao fascismo e o assinalar da vitória sobre o nazi-fascismo e do 75.º aniversário da vitória da Batalha de Stalinegrado; a exigência do fim do bloqueio dos EUA contra Cuba e dos planos do imperialismo contra o povo cubano; o apoio do direito do povo palestiniano a um Estado livre, soberano e independente; a solidariedade com todos os povos que enfrentam a ocupação, a intervenção, a ingerência ou bloqueio do imperialismo, como a Síria e a Venezuela bolivariana; a ampliação da frente anti-imperialista para reforçar a luta pela paz, contra as agressões do imperialismo, contra a NATO e a sua expansão, contra as armas nucleares e as bases militares estrangeiras, contra o militarismo e a guerra, pelo desarmamento e a solução pacífica e justa dos conflitos internacionais baseada nos princípios do Direito Internacional.
As delegações presentes participaram ainda no amplo programa de comemoração dos 100 anos da Revolução de Outubro organizado pelo PCFR em São Petersburgo, que integrou uma Gala na Grande Sala de Concertos «Grande Outubro», a visita ao Cruzador Aurora, ancorado no rio Neva, ao Palácio de Inverno, assim como uma visita ao quarto e gabinete de Lénine no Palácio Smolni e à sala onde anunciou a vitória da Revolução Socialista de Outubro e foram aprovados os primeiros decretos do novo poder revolucionário – os decretos sobre a paz e sobre a terra.
Nos caminhos dos ideais de Outubro
Após o encerramento do 19º EIPCO as delegações dos partidos comunistas e operários deslocaram-se a Moscovo, onde participaram conjuntamente com outras dezenas de delegações de partidos progressistas, de ex-movimentos de libertação nacional e de esquerda – num total de 138 delegações – no Fórum Internacional de Forças de Esquerda, sob o tema «Outubro 1917: avançar para o socialismo!», que se realizou no dia 6 de Novembro. Nesta demonstração de unidade em torno dos ideais da Revolução de Outubro intervieram numerosos partidos e organizações, como o Partido Comunista de Cuba, o MPLA, a FRELIMO, a SWAPO, o Partido Socialista Unido da Venezuela, o Partido Comunista do Vietname, as Federações Internacionais da Juventude Democrática, Sindical Mundial, de Resistentes anti-fascistas, o Conselho Mundial da Paz, entre outras forças políticas e organizações internacionais.
Este importante Fórum mundial de forças progressistas e revolucionárias, de certa forma inédito nas últimas décadas, recebeu mensagens dos presidentes da República de Cuba, Raul Castro, da República Árabe da Síria, Bashar Al-Assad, e da Federação Russa, Vladimir Putin, que enviou igualmente uma breve mensagem ao 19.º EIPCO.
Em Moscovo, os partidos comunistas e operários e outras forças progressistas tiveram a oportunidade de prestar homenagem ao povo soviético e ao Exército Vermelho no túmulo do soldado desconhecido, de homenagear Lénine, diante do seu mausoléu, e de participar noutras iniciativas organizadas pelo PCFR, como o grandioso espectáculo do Centenário da Revolução de Outubro, onde participaram cerca de 7000 pessoas, e na manifestação e comício no dia 7 de Novembro, que além da participação de várias dezenas de milhares de pessoas e das 138 delegações presentes, contou ainda com a participação de milhares de militantes de partidos comunistas de todo o mundo, incluindo do PCP.
O exaltante programa de comemorações incluiu ainda uma parada militar que assinalou o 7 de Novembro de 1941, data que marca, a par com a batalha de Stalinegrado, o momento de viragem da Segunda Guerra Mundial, quando os soldados do Exército Vermelho, depois de desfilaram na Praça Vermelha, foram directamente para a frente de batalha entrando imediatamente em combate com as tropas nazis a 30 quilómetros de Moscovo.