Estamos a viver um período particularmente complexo da integração
europeia. O NÃO do povo irlandês ao Tratado de Nice soou como uma
campainha de alarme para o mau estar que se vive, as dúvidas e interrogações
com o aprofundamento da integração, acompanhadas de perdas crescentes
de soberania em áreas que os povos sentem de um modo muito particular
e profundo, designadamente nas áreas das políticas militar e externa,
em políticas internas particularmente sensíveis, como segurança
interna, imigração e direito de asilo.
O respeito pela opinião dos povos obrigava a que, depois da negativa
no referendo da Irlanda, de imediato se considerasse que o Tratado de Nice fosse
revisto antes de prosseguir o processo de ratificação por parte
dos outros 14 Estados - membros. Só que, como é conhecido, não
foi isso que aconteceu, o que diz muito do conceito de democracia dos responsáveis
da União Europeia.
O crescente descontentamento que se vive, é resultado, também,
da intensificação das políticas neoliberais, da persistente
prioridade aos interesses dos grupos económicos e das multinacionais,
com menosprezo do bem estar social e a desvalorização dos graves
problemas da pobreza e exclusão social, do desemprego e do emprego precário.
São ainda lados da mesma moeda, o defraudar das expectativas criadas
em torno da moeda única, o arrefecimento económico no momento
em que se prepara a entrada em circulação do euro, as incertezas
relativamente ao calendário previsto para o alargamento e as suas possíveis
consequências, o aumento das desigualdades no plano mundial com a globalização
capitalista, a arrogância do Presidente americano quanto ao Protocolo
de Quioto e à corrida aos armamentos com o projecto do escudo anti-misseis.
Como sabemos que a luta institucional e de massas é o caminho para alterar
a situação, procuramos dar o nosso modesto contributo, incluindo
através desta publicação que aborda algumas das áreas
que nos mereceram maior atenção e que continuam na ordem do dia.