No primeiro dia de 2022 passarão vinte anos desde que entraram em circulação as moedas e notas de Euro.
Portugal aderiu à moeda única três anos antes, em 1999, data em que formalmente deixou de ter uma moeda, um banco central, uma política monetária, financeira e cambial, independentes.
Mas o numerário físico em euros, em vez de escudos, só foi introduzido no começo de 2002 e é esta data que os portugueses recordam melhor.
Vinte anos passados, a realidade desmente a propaganda e dá razão aos que, como o PCP, previram e preveniram para os impactos da adesão.
Este é o tempo de recordar, entre outras, as promessas de melhoria dos salários e do poder de compra dos portugueses, de convergência com os países com salários mais elevados. Promessas desfeitas pela realidade, que nos trouxe, sim, a degradação dos salários e do poder de compra. Em Portugal, o Governo PS não vai além dos 705 de euros de salário mínimo até final de 2022. Ao mesmo tempo que na Alemanha, o salário mínimo atingirá dentro em breve os 2000 euros. Em Portugal, o salário médio está pouco acima dos 1000 euros. Quando lá fora, na Zona Euro, esse mesmo salário anda em média nos 1900 euros.
As consequências do Euro foram, e continuam a ser, desastrosas para Portugal e para o povo português.
Governos de PS, PSD e CDS, que nos meteram no Euro, atiram culpas uns aos outros, mas ocultam o seu compromisso comum com o Euro e os danos que causou, e causa, ao País e ao povo português.
Depois de aderir ao Euro, o crescimento económico nacional reduziu-se a menos de um quarto.
O Euro trouxe recessão e estagnação, uma grande insuficiência de crescimento. O nosso País, como os outros, atravessou ciclos económicos e crises, mas a moeda única não o protegeu, bem pelo contrário, como se viu durante o período da troika. Portugal não perdeu anos, perdeu décadas.
Em vez de nos colocar no “pelotão da frente”, como anunciava a propaganda, o Euro coloca Portugal cada vez mais na cauda da Europa. Não houve convergência com a média europeia, muito menos com os países mais avançados, houve divergência. Portugal tornou-se um dos países que menos cresce no mundo.
Aos que hoje choram lágrimas de crocodilo pela estagnação económica do País nas duas últimas décadas importa lembrar a relação causa-efeito que existe entre o Euro e esta realidade.
O Euro não foi feito para Portugal. Foi feito à medida das necessidades e dos interesses do capital financeiro, das multinacionais europeias, da capacidade produtiva e exportadora da Alemanha.
Foi com o Euro que foi brutalmente reduzido o investimento, privado e público, mesmo com os fundos comunitários e o plano de recuperação e resiliência, que pagaremos mais tarde.
A produção nacional tem sido prejudicada. O Euro encarece as nossas exportações, substitui produções nacionais por importações, prejudica a nossa indústria, a nossa agricultura e pescas.
Promove o desemprego, a precariedade, o empobrecimento, a emigração, a desertificação. Estimula o endividamento externo, a saída de rendimentos e de capitais. Aumenta o endividamento público. Deixa o País à mercê do BCE, dos especuladores e das agências de rating.
Portugal, dentro do Euro, converteu-se num dos países com a maior dívida externa e num dos países com a maior dívida pública do mundo.
Os factos estão bem à vista. O Euro é um obstáculo ao desenvolvimento do País.
Portugal precisa de libertar-se do Euro. Precisa de uma moeda própria, ajustada à sua realidade e também às suas potencialidades, que promova o investimento, a modernização do aparelho produtivo, a diversificação do comércio externo, a eficiência dos serviços públicos, o aumento dos salários e a qualificação dos trabalhadores. Que faculte margens de manobra, que as regras da “governação económica” da Zona Euro nos retiram.
Para o PCP, os direitos, os salários, o desenvolvimento, a resposta aos problemas do povo e do País, sobrepõem-se às imposições externas. Não há inevitabilidades. Esse é um dos princípios da política patriótica e de esquerda que propomos aos trabalhadores e ao povo português.