Intervenção de Paulo Raimundo, Secretário-Geral do PCP, Marcha Nacional da CGTP-IN contra o Pacote Laboral

Marcha Nacional da CGTP-IN contra o Pacote Laboral

A oposição do PCP a este ante-projeto do governo já é mais do que conhecida, mas como é que viu as declarações do primeiro-ministro sobre a possibilidade da greve geral, pedindo responsabilidade às centrais sindicais e dizendo que os interesses dos trabalhadores não devem ser capturados pelos interesses partidários?

Olhe, é preciso uma grande lata. Um governo e um primeiro-ministro que tem como objetivo aumentar mais a precariedade para além daquela que já existe e já é aos milhares de desregular os horários de trabalho completamente, de pôr os trabalhadores a trabalhar ainda mais horas, mais tempo e mais horas e sem receber, um governo quer abrir o despedimento sem justa causa, quer atacar direitos, quer acabar com as perspectivas todas de futuro à juventude, obrigando-os a trabalhar para o resto da sua vida sobre precariedade e contratos a prazo infinitos. É preciso uma grande lata vir com essa conversa. Isto é uma grande demonstração, uma grande demonstração daquilo que temos dito. A política e a opção política tem que ser ao serviço daqueles que põem o país a funcionar, daqueles que criam a riqueza. Estes trabalhadores todos, em particular os mais jovens e as mulheres, mulheres também elas alvo deste ataque brutal do pacote laboral, nomeadamente com os ataques à parentalidade, à maternidade. Ora, isto é que preciso resolver de uma vez por todas. Tudo o resto é para nós nos entretermos e para, diria assim, para que haja uma boca aqui, uma boca ali. Nós não caímos nesta casca de banana. É preciso rejeitar, derrotar e retirar este pacote laboral. Aquilo que é preciso não é mais precariedade, nem mais desregulação das horas de trabalho. O que é preciso é estabilidade, mais salários, mais tempo para viver e mais tempo para estar, nomeadamente para cuidar dos filhos. 

Montenegro ontem criticou também os partidos que realmente se associam a estas manifestações e os sindicatos de estarem capturados por partidos como o PCP o Bloco, que participam nestas manifestações. Acha qu essas palavras são também sensatas numa altura em que está a decorrer a negociação na concertação social?

Nós temos um governo, um governo em particular quatro partidos PSD, CDS, Chega, Iniciativa Liberal, completamente capturados e nas mãos dos grandes grupos económicos. Veja-se o orçamento do Estado, veja-se os benefícios fiscais, veja-se a descida dos impostos sobre os lucros, veja-se isso tudo e vamos ver quem é que está capturado por quem. Quem está capturado pelos grandes interesses é o governo e os partidos do governo. Esta gente que põe o país a funcionar esta gente que põe a economia a funcionar esta gente que cria a riqueza não está capturada por nada, a não ser pela sua força, pela sua determinação e pela sua vontade de ter uma vida melhor e o direito ter uma vida melhor. É isso que estão aqui fazer, a dizer não ao pacote laboral, a dizer não à precariedade, a dizer não às desregulação dos horários de trabalho, a dizer não aos despedimentos sem justa causa, a dizer sim ao respeito, à dignidade, aos salários, à estabilidade e à vida melhor que têm direito. Isso é que é a grande questão.

Será a primeira greve geral desde 2013?

Olhe, esta grande demonstração de força no seguimento de outras anteriores, com uma grande determinação, uma grande participação, uma grande vontade lá está de travar o pacote laboral, mas também de abrir o caminho que se impõe, q ue é o caminho dos salários e da estabilidade, esta grande força vai ter que ter continuidade. Ora, se vai ter que ter continuidade, cabe aos trabalhadores e aos seus órgãos representativos definir qual é a continuidade que vai ter e vamos esperar o que é que vai acontecer.

Perguntava-lhe se acha que estes tempos se comparam aos tempos da troika?

Os tempos não se repetem, mas diria assim que há cheirinhos. Cheira a troika. Cheira a troika, mas não é de agora. Cheira a troika no orçamento, cheira a troika no desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde, cheira a troika no que diz respeito à educação e às propinas. Cheira a troika na lei laboral. Cheira, cheira.

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