Pelo que representam na luta dos trabalhadores e dos povos pela sua emancipação, há acontecimentos na História da Humanidade que jamais podem ser esquecidos e cuja memória tem de ser defendida contra todas as tentativas de apagamento e adulteração.
O 9 de Maio de 1945, que assinala a derrota do nazi-fascismo e o fim da Segunda Guerra Mundial na Europa, é um desses acontecimentos.
Neste ano em que se comemoram os 75 anos do dia da Vitória, num tempo marcado por incertezas em que, alimentadas pela própria natureza do capitalismo e pelo aprofundamento de uma crise que o surto epidémico torna ainda mais evidente, ressurge a ameaça do fascismo e da guerra, mais necessário se torna defender a verdade histórica e retirar lições para a luta na actualidade contra o imperialismo, o fascismo e a guerra e pela liberdade, a soberania e a paz.
A Segunda Guerra Mundial foi o resultado do agravamento das contradições entre as grandes potências capitalistas, da luta pela repartilha do mundo em esferas de influência e de domínio e da sua intenção comum de destruir o primeiro Estado socialista, a URSS. Todos os esforços do governo soviético para isolar a Alemanha nazi e os seus aliados do “Eixo” e criar um sistema de segurança colectiva foram recusados pelos governos do Reino Unido e da França, ao mesmo tempo que pactuavam com sucessivas agressões expansionistas do nazismo alemão, assim como do fascismo italiano e do militarismo japonês. O Pacto de Munique, acordado entre o Reino Unido, a França, a Alemanha e a Itália, em 1938, que abriu caminho ao desmembramento e ocupação da Checoslováquia e com que os governos do Reino Unido e da França pretenderam empurrar as hordas nazis contra a União Soviética, ficará para a História como uma das mais negras provas das responsabilidades das chamadas “democracias ocidentais” no desencadeamento da guerra. O facto de mais tarde se terem visto forçadas a aliar-se com a União Soviética não apaga esta realidade.
O nazi-fascismo foi a expressão mais terrorista do grande capital. Alimentado e apoiado pelos grandes monopólios alemães – como a Krupp, a IG-Farben, a Siemens e outros – e colocado ao seu serviço, o nazismo cometeu os maiores crimes contra o povo alemão e contra os povos vítimas da invasão e ocupação pelas suas hordas militares. Milhões de seres humanos, prisioneiros de guerra e civis, foram friamente massacrados, fuzilados ou exterminados em campos de concentração, de que Auschwitz, é exemplo particularmente sinistro. Não deixar cair no esquecimento esta barbárie e os seus responsáveis e celebrar os 75 anos de uma data que simboliza a libertação da Humanidade do pesadelo nazi é um dever de quantos amam a liberdade e a paz.
As tentativas de falsificação da História da Segunda Guerra Mundial assumiram nos últimos tempos expressões particularmente graves, e tanto mais quando se inserem na justificação do militarismo e das guerras de agressão e visam caucionar os sectores mais reaccionários e agressivos do imperialismo que jogam cada vez mais no fascismo e na guerra como “saída” para o aprofundamento da crise estrutural do sistema. Tais tentativas não só branqueiam o fascismo e escondem o papel dos comunistas na resistência anti-fascista, como vão mesmo ao ponto de, deturpando completamente a realidade, procurar responsabilizar a União Soviética pelo desencadeamento da guerra, como faz uma resolução aprovada no Parlamento Europeu, em Setembro passado.
O PCP considera necessário denunciar e dar firme combate a tão perversas tentativas de falsificação lembrando que o anti-comunismo e o avanço do fascismo andam de mãos dadas. A verdade histórica é a de que os comunistas, que foram o primeiro alvo e as primeiras vítimas do nazi-fascismo, constituíram a grande força da Resistência anti-fascista à ocupação nazi chegando em muitos países a constituir poderosas forças de guerrilha. E foi a URSS, o povo soviético, o seu partido comunista e Exército Vermelho que deram a maior e mais decisiva contribuição para a derrota do nazi-fascismo, pagando com o seu patriotismo e internacionalismo a perda de mais de 20 milhões de vidas. As heróicas batalhas de Moscovo, Leninegrado e Estalinegrado, só possíveis pela superioridade do socialismo, jamais serão esquecidas.
Comemorando o 75.º aniversário do 9 de Maio, o PCP lembra a activa colaboração, a coberto de uma falsa “neutralidade”, prestada pelo governo de Salazar a Hitler e a operação demagógica a que o então regime fascista foi obrigado perante as grandes manifestações de alegria com que o povo português festejou a Vitória e o desenvolvimento da luta democrática e anti-fascista que a derrota do nazi-fascismo favoreceu. E lembra igualmente como o regime fascista rapidamente reforçou a repressão, graças ao apoio dos EUA, que em Abril de 1949 tornaram Portugal membro fundador da NATO. Quando a extrema-direita e o fascismo procuram avançar no mundo, quando a tentativa de branqueamento de quase meio século de fascismo em Portugal chega ao ponto de pretender reabilitar Salazar, ao mesmo tempo que ataca as comemorações do 25 de Abril, é oportuno lembrar as cumplicidades e responsabilidades do ditador e da ditadura fascista na maior tragédia do século XX.
No 75.º aniversário da Vitória, o PCP reafirma o seu compromisso de sempre com os trabalhadores e o povo português, com os ideais da liberdade, da democracia, do progresso social, do socialismo, da paz, a que dedicou os seus quase cem anos de vida. Como reafirma a sua confiança em que a unidade e a luta das forças anti-fascistas e anti-imperialistas do mundo derrotará as inquietantes ameaças contra a liberdade, o progresso social e a paz que pairam sobre a Humanidade. A Vitória sobre o nazi-fascismo foi alcançada à custa de grandes sacrifícios, mas mostrou que, por mais poderoso que seja o inimigo, é possível resistir e vencer.