É com profundo pesar que o Secretariado do Comité Central do Partido Comunista Português cumpre o doloroso dever de informar o falecimento de António Gervásio, aos 92 anos de idade.
Nascido em São Mateus, Nossa Senhora da Vila, no concelho de Montemor-o-Novo, em 25 de Fevereiro de 1927, começou a trabalhar como operário agrícola ainda muito jovem. Destacado lutador contra o fascismo, desde muito cedo participou e dirigiu na sua terra várias lutas, nomeadamente greve nas ceifas, contra o desemprego, por melhores jornas.
Aderiu ao Partido Comunista Português em 1945 e passou à clandestinidade no Verão de 1952. Participou na direcção, do começo ao fim, da vitoriosa e histórica luta que levou à conquista das 8 horas pelo proletariado agrícola do Sul em 1962.
Foi membro do Comité Central (CC) do PCP de 1963 a 2004. Integrou a Comissão Executiva do CC entre fins de 1966 e princípios de 1967 e foi membro da Comissão Política do CC de 1976 a 1990. Membro da Comissão Central de Controlo eleito no XV Congresso, em 1996, até ao XVI Congresso, em 2000.
Foi preso três vezes, em 1947, 1960 e 1971. No conjunto, passou cinco anos e meio nas prisões fascistas do Aljube, de Caxias e de Peniche. Foi brutalmente torturado nas prisões de 1960 e 1971, com espancamentos até à perda de sentidos e a tortura do sono, sendo impedido de dormir durante 18 noites e 18 dias seguidos, cerca de 400 horas. No julgamento de Maio de 1961, foi espancado em pleno Tribunal da Boa Hora por denunciar as torturas da PIDE.
Participou na célebre fuga de Caxias no carro blindado de Salazar, em Dezembro de 1961, com mais sete camaradas, retomando de imediato a actividade partidária na clandestinidade.
Em Abril de 1974 estava na prisão do Forte de Peniche, após a condenação a 14 anos de cadeia e «medidas de segurança» em 1971, tendo sido um dos presos políticos libertados na madrugada de 27 de Abril.
Após o 25 de Abril foi deputado à Assembleia Constituinte pelo distrito de Portalegre, eleito em 1975, e deputado à Assembleia da República pelo distrito de Évora, eleito em 1979. Integrou a Assembleia Municipal de Montemor-o-Novo.
António Gervásio foi participante directo e incansável em todo o processo da Reforma Agrária nos campos do Sul, na liquidação do latifúndio e na constituição de Unidades Colectivas de Produção, e na luta sem tréguas na sua defesa.
O camarada António Gervásio, militante e dirigente comunista, deixou valiosos testemunhos da sua rica experiência de vida e de luta, nomeadamente o seu mais recente livro, «Histórias da Clandestinidade», contribuindo para preservação da memória do que foi o fascismo e de como o PCP enfrentou a repressão e se constituiu como o partido da classe operário e de todos os trabalhadores, e a força dirigente da oposição antifascista.
António Gervásio dedicou a sua vida à causa revolucionária do seu Partido de sempre, pela emancipação dos trabalhadores e dos povos, pela democracia, na resistência antifascista, na Revolução de Abril e na defesa das suas conquistas, por uma sociedade liberta da exploração e da opressão, pelo socialismo e o comunismo.
O corpo de António Gervásio estará em câmara-ardente a partir das 9h00 de amanhã, sábado, no Centro de Documentação e Arquivo da Reforma Agrária (Arquivo Municipal de Montemor-o-Novo) e o funeral realizar-se-á domingo, dia 12 de Janeiro, pelas 10h00, para o cemitério da Paz, em Setúbal, onde ocorrerá a cremação, pelas 12h00.