1. O Partido Comunista Português foi uma das cinco organizações partidárias que a Intersindical convidou a associar-se às comemorações do 1º de Maio de 1975. As outras foram o Partido Socialista, o Movimento Democrático Português I CDE, a Frente Socialista Popular e o Movimento da Esquerda Socialista.
O Partido Comunista Português aceitou sem qualquer condição o convite da Intersindical, participou desde a primeira hora nos trabalhos preparatórios do 1º de Maio e está por isso em condições de esclarecer os factos que antecederam as comemorações e os que tiveram lugar no decorrer destas. Este esclarecimento toma-se ainda necessário, apesar de tudo o que já foi dito sobre os acontecimentos, em consequência da campanha de desinformação que a direcção do PS continua a levar a cabo.
2. A direcção do PS respondeu ao convite da Intersindical propondo a participação do PPD e colocando as condições seguintes: só participaria na cabeça da manifestação e na tribuna e só usaria da palavra no comício desde que a Intersindical excluísse o Movimento de Esquerda Socialista e a Frente Socialista Popular da cabeça da manifestação, da tribuna e do uso da palavra. Em prolongadas e laboriosas negociações, o PCP, a Intersindical e as outras organizações convidadas tentaram demover a direcção do PS desta posição discriminatória, apelaram para o significado unitário da data do 1º de Maio, para o significado especial que adquiria no nosso pais um ano após o grandioso 1º de Maio de 1974 e por Sc realizar com a presença do Presidente da República, do primeiro-ministro e de outros membros proeminentes do Conselho da Revolução e do MFA; demonstraram que uma tal atitude impositiva contrariava as afirmações abundantes dos dirigentes do PS, que pretendem apresentar-se como campeões do pluralismo e da liberdade partidária.
A tudo se mostrou surda a direcção do PS, que insistiu sempre em fazer um desfile diferenciado.
O PCP, a Intersindical e as outras organizações convidadas propuseram várias modalidades de acordo: diferenciação de tempos de intervenção, organização da ordem das intervenções e outras mais.
Ante tudo se mostrou intransigente a direcção do PS.
Em face disto e no sentido de não criar dificuldades a participação do Presidente da República, do primeiro-ministro e dos outros dirigentes do MFA, o PCP resolveu prescindir do uso da palavra propondo que discursassem apenas os representantes da Intersindical e do MFA. Esta proposta foi aceite e o PS declarou que nestas condições participaria na manifestação e no comício e não criaria qualquer dificuldade. Os factos posteriores demonstraram que não o dizia com sinceridade.
3. A direcção do PS alterou unilateralmente o local da concentração da Avenida Guerra Junqueiro para a Praça do Chile, queixando-se depois que lhe barravam o caminho de acesso ao Estádio 1º de Maio.
Os dirigentes do PS recusaram-se a tomar posição na cabeça da manifestação, apesar de muito instados e da decisão de os aguardar.
Os dirigentes do PS não tomaram lugar na tribuna, nem no camarote que lhes estava reservado, na hora e nas condições acordadas.
A direcção do PS promoveu a separação da sua manifestação à entrada da Alameda Afonso Henriques, fê-la seguir pela Rua Actor Taborda (e não pela Avenida Almirante Reis, por onde seguiu a manifestação de toda a gente), forçou a entrada na manifestação unitária na Praça do Areeiro. Grupos de indivíduos portadores de bandeiras do PS tentaram após isto romper a manifestação unitária em vários pontos. Um troço de manifestantes empunhando numerosas bandeiras do PS e da JS manifestaram-se demoradamente à porta do Estádio 1º de Maio, bloqueando a entrada e impedindo que milhares de pessoas assistissem às cerimónias.
Dirigentes bem conhecidos e filiados do PS fizeram tudo para perturbar a audição dos discursos, não só o da Intersindical, mas também os do Primeiro-Ministro e do Presidente da República, usando para tanto uma instalação sonora, previamente montada, sem conhecimento dos organizadores larga profusão de megafones, apitos e outros instrumentos. O ministro Mário Soares foi ele próprio um elemento de perturbação. Movimentando-se, gesticulando, falando, concitando a atenção dos seus seguidores, e tudo isto enquanto o Primeiro-Ministro e o Presidente da República proferiam as suas intervenções.
4. É hoje evidente que a direcção do PS negociou com a Intersindical e as outras organizações convidadas numa posição de permanente deslealdade. Não se compreende que o PS aceitasse o convite para participar numa iniciativa promovida pela Intersindical e que realizasse ao mesmo tempo a mobilização dos seus filiados para essa iniciativa com palavras de ordem hostis à Intersindical. Não se compreende que o PS fosse à Festa dos Trabalhadores no Estádio 1º de Maio não para saudar a Intersindical e a 1egislação com que o Conselho da Revolução entendeu reconhecer o seu papel na vida nacional, mas para contestar uma e outra.
A reclamação de «eleições nos sindicatos» com que o PS quis marcar a sua intervenção nas comemorações do 1º de Maio é uma palavra de ordem puramente demagógica. Pois as actuais direcções dos Sindicatos foram realmente eleitas e a lei sindical agora aprovada pelo Conselho da Revolução prevê precisamente a realização de eleições em todos os sindicatos num curto prazo. O PS reclama assim o que realmente existe e o que já está decidido. Mas, ao fazê-lo, a direcção do PS pretende enganar as massas populares e a opinião pública insinuando a ideia de que há uma qualquer ditadura nos sindicatos e que a nova lei consagra essa ditadura.
5. Pode asseverar-se que o PS pretendeu diminuir o alcance de uma grande manifestação popular de apoio ao processo revolucionário em curso e aos traços mais salientes deste processo na fase actual: as nacionalizações, as medidas de reforma agrária e o controlo dos trabalhadores sobre a produção. Não o conseguiu realizar. A mobilização dos seus filiados não esteve à altura das suas ambições, o que mostra que os votos não são a única medida para avaliar a força e a capacidade de um partido. As manifestações que a direcção do PS sentiu necessidade de convocar para a tarde de 2 de Maio devem ser entendidas como uma tentativa de reparar o desaire do dia 1º de Maio, não por quaisquer imaginárias ofensas sofridas, mas precisamente por não conseguirem realizar a operação de boicote planeada. Quem esteve, no entanto, nas manifestações do PS do dia 2 de Maio? Os que estão com a revolução? Os que querem a consolidação e o desenvolvimento do processo revolucionário? Os que querem reforçar a sua principal força motriz, isto é, a aliança Povo-MFA? Não, foi a «santa aliança» anticomunista, designadamente, o PPD, o CDS, o PPM, o MRPP, a AOC e outros afins.
6. As comemorações do 1º de Maio, os incidentes provocados pela direcção do PS e as iniciativas Políticas em que esta se envolveu a seguir constituem matéria de reflexão para todas as forças autenticamente revolucionárias, para todos os que querem consolidar as liberdades e a democracia e reconstruir o Pais por uma via socialista.
O PCP, pela sua parte, continua pronto a considerar com todas as forças democráticas e, nomeadamente, com o Partido Socialista o momento actual da nossa revolução, todas as possibilidades de cooperação tendo em vista a construção de um regime democrático a caminho do socialismo.