Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP

Comício do PCP na Amadora

Áudio

Num comício que assinalou o 87º aniversário da primeira célula do PCP, na Amadora, Jerónimo de Sousa, salientou a importância que a luta que os trabalhadores e os povos travam, por todo o lado, fazendo frente à guerra declarada pelo grandes centros de decisão do capitalismo e do capital multinacional, aos salário, aos direitos laborais e ao sistema de protecção social.

Por todo o lado os trabalhadores e os povos estão a travar importantes combates em defesa das suas condições de vida fazendo frente à guerra declarada, pelos grandes centros de decisão do capitalismo e do capital multinacional, aos salários, aos direitos laborais, ao emprego, ao sistema de protecção social, aos serviços públicos, aos sectores produtivos das economias mais frágeis e à soberania dos povos.

Uma guerra que há muito se prolonga e que se encarniçou em resultado da actual crise despoletada pelos grandes interesses financeiros, especulativos e pela sua economia de casino que estão a impor políticas de austeridade aos povos e a acelerar a reversão das conquistas sociais que os trabalhadores e as populações conquistaram com as suas lutas.

Uma guerra para a qual os grandes interesses capitalistas mobilizam todos os seus recursos – económicos, políticos, militares e respectivos aparelhos de condicionamento e domínio ideológico –, nomeadamente na Europa com o objectivo da restauração mais rápida das condições de rentabilidade do capital, através da exploração do trabalho e com a transferência do pagamento da factura da crise para os povos. Objectivos que, na sua concretização, contam com a conivência de um poder político que é, em geral, a expressão dos seus interesses de rapina. 

Também aqui, no nosso país, a hora é de luta e fazer frente a esta guerra sem quartel que o grande capital europeu e nacional move contra os interesses dos trabalhadores e do povo e onde o governo do PS e o PSD se assumem, com os seus acordos e os seus Pactos de Estabilidade, como a mais destacada frente avançada da sua ofensiva.

Estamos a escassos dias da Greve Geral convocada pela CGTP e estão em curso outras iniciativas e outras lutas.

Lutas como aquela que os trabalhadores da Administração Pública acabaram de realizar. Uma grande manifestação, mais de cem mil vozes protestando contra as políticas de austeridade para os trabalhadores e de benesses para o grande capital económico e financeiro. Cem mil vozes combativas nas ruas de Lisboa, exigindo de forma viva e determinada a mudança de políticas e afirmando a sua decidida vontade de continuar a luta.

Luta que assume no próximo dia 20, uma outra faceta, com a manifestação em Lisboa da Campanha “Paz sim! NATO não!”, a efectuar entre o Marquês de Pombal e a Praça dos Restauradores, mas que é também parte integrante da luta emancipadora dos trabalhadores e dos povos, contra a exploração e dominação capitalistas, e constitui um elemento central da defesa da soberania e da democracia.

O povo português está a ser bombardeado com uma poderosa campanha que tenta apresentar a Cimeira da NATO como algo de positivo para o nosso povo, para o País e para a segurança internacional e por outro lado associar a luta pela paz à violência e insegurança! É uma campanha de mentiras, de desinformação e de intoxicação ideológica! O que se vai passar em Lisboa, lá para os lados da FIL, não é bom nem para nós, nem para nenhum povo deste Mundo.

Dessa reunião não sairá mais paz! Sairá sim mais insegurança, mais guerra, mais dinheiro para a industria da morte, mais ingerências e ameaças contra os povos e países. O resultado da Cimeira da NATO não será o desanuviamento, mas sim o reforço de uma aliança agressiva, polícia de choque do imperialismo, alargada a quase todo o globo e pronta para esmagar os direitos dos povos, onde e quando quiser, sob qualquer pretexto. O que sairá dessa Cimeira não será cooperação e diálogo mas sim renovados ataques ao direito internacional, à própria organização das Nações Unidas, à democracia, à soberania, à autodeterminação dos povos e à liberdade.

É por isso que no dia 20, lado a lado com mais de 100 organizações promotoras da “Campanha Paz Sim NATO Não”, este Partido Comunista descerá a Avenida que mais uma vez será de facto da Liberdade. Da Liberdade de dizer basta de guerras, ocupações e crimes! Da liberdade de dizer que é possível um mundo de paz e cooperação livre da exploração e da opressão do imperialismo. Da liberdade de defender a Constituição de Abril e exigir a dissolução da NATO!

Em Lisboa vão estar, dizem, mais de 60 chefes de Estado. Entre eles estarão alguns dos mais directos responsáveis pela situação de catástrofe social e de profunda insegurança no Mundo actual. Estarão cá Obama, Merkel, Sarkozy, Berlusconni, Barroso, entre outros. Estarão cá aqueles cujas políticas estão na origem da chantagem especulativa sobre o nosso País. Estarão cá aqueles que face à crise dizem: despeça-se, destrua-se e privatize-se! Estarão cá aqueles que no leste europeu perseguem os nossos camaradas de luta e ilegalizam Partidos Comunistas e aqueles que comandam crimes como o Afeganistão, o Paquistão ou o Iraque e que jogam com a vida do povo palestiniano como se de moedas se tratassem. Estarão cá aqueles para quem a palavra liberdade é a liberdade de oprimir e explorar. O mordomo será José Sócrates!Tal como Barroso foi na outa cimeira da Guerra!

Este é portanto o momento para demonstrar aos imperialistas reunidos em Lisboa que a sua cimeira não é Bem-Vinda a Portugal e que neste pequeno país do extremo ocidental da Europa, os ideais da revolução libertadora de Abril, o internacionalismo, a solidariedade e a paz continuam a ser valores de um povo.

Que ninguém falte no próximo dia 20 porque esta é uma importante e justa luta do nosso povo e de todos os povos do Mundo!

Lutas que além de justas são necessárias e imprescindíveis, como o é também a luta que os trabalhadores portugueses e do nosso povo travam para conter e romper o cerco que a trama dos grandes interesses permanentemente tece, para manter o seu domínio e impor a sua ordem exploradora!

A situação que vivemos no nosso país é bem o exemplo da importância dessa luta, do fazer e refazer das linhas de defesa dos interesses dos trabalhadores e das populações. Recuando acolá, somando pequenas vitórias aqui e ali, mas tomando posições e cimentando laços de combate nos que não se resignam, nem aceitam viver sob o jugo da dominação e da sistemática exploração. 

Este é um combate longo e difícil, uma guerra prolongada que se trava batalha a batalha defendendo as principais linhas de defesa dos interesses populares em todas as frentes aonde a sua sanha destruidora se faça sentir – nas empresas, nos locais de trabalho, nas escolas e nos campos, na rua!

Só a luta e acção política consciente e avisada do que está em jogo pode abrir espaço a uma ampla contra-ofensiva popular, isolar social e politicamente os que se alimentam da exploração do trabalho e dos povos e construir com as massas a mudança necessária que concretize o Portugal de progresso, de justiça e solidário a que aspiramos.

No nosso país a Greve Geral do próximo dia 24 é, no imediato, a grande resposta dos trabalhadores portugueses à ofensiva que o Governo do PS, com o apoio do PSD e o incentivo de Cavaco Silva, desenvolve contra os direitos dos trabalhadores e do povo, agravando injustiças e desigualdades e comprometendo o futuro do país.

É a resposta necessária aos que empurram para cima das costas dos trabalhadores e das populações o fardo da crise com o seu Orçamento de Estado de retrocesso, injustiça e de ruína nacional!

É a resposta dos que não aceitam um OE que pede tudo a quem menos pode e quase nada aos que muito têm: – aos grandes grupos económicos e ao grande capital financeiro que estão na causa da crise e que continuam a ser os seus principais beneficiários.

É a resposta necessária aos que se preparam, como anunciam e vão exigindo em nome da competitividade do país, novas e mais insidiosas investidas para levar mais longe o programa da política de direita de ataque aos rendimentos e condições do trabalho, como é o caso das organizações nacionais do grande patronato e a própria Comissão Europeia. 

É a resposta aos que têm estado à frente dos governos do país e que pensam que podem impunemente tornam a vida do povo num inferno para servir os grandes senhores do dinheiro!

Uma resposta que tem da parte do PCP não apenas uma indiscutível posição de solidariedade, mas que pode contar com uma activa intervenção desta força que tem orgulho de ser parte activa desse combate, que está com os seus militantes onde é preciso estar para garantir o êxito desta grande luta dos trabalhadores portugueses.

Uma força que apela a todos para que contribuam com a sua mobilização e adesão para fazerem do próximo dia 24 um momento alto de afirmação da luta do nosso povo, mas que acima de tudo está determinada e dar força e ampliar com iniciativa militante esse movimento de contestação, protesto e exigência de mudança que a luta dos trabalhadores e das populações transporta.

São fortes e muito concretas as razões da luta dos trabalhadores. São fortes e bem reais as razões de luta do nosso povo!

Hoje está muito claro o conteúdo do programa anti-social e de regressão económica que está inscrito no chamado PEC que PS e PSD acordaram aplicar até 2013 com a aprovação de Cavaco Silva. O Orçamento de Estado para 2011 que, depois de encenadas divergências e muito dramatismo, PS e PSD viabilizaram é apenas um primeiro passo desse vasto programa que escrupulosamente querem ambos ver cumprido, porque essa é a vontade dos seus mandantes – o grande capital económico e financeiro. 

Não se trata de mais um Orçamento de direita, aquele que PS e PSD ajustaram viabilizar na Assembleia da República, mas de Orçamento que seguindo as mesmas orientações de fundo de orçamentos anteriores, eleva para um patamar superior de violência a ofensiva contra as grandes massas populares. Um Orçamento que, ao mesmo tempo, toma a perversa opção de expor o país aos perigos de uma nova recessão económica e ao aumento ainda mais dramático do desemprego e de destruição da nossa capacidade produtiva.

São numerosas e drásticas as medidas que este Orçamento contém e que o transformam num opressivo instrumento de extorsão dos trabalhadores e do povo.

Um Orçamento que atinge duramente os rendimentos do trabalho, todas as reformas e pensões, sem excepção, mesmos as mais baixas, mas também os rendimentos das camadas intermédias da população portuguesa. Que ataca com uma ferocidade inaudita os trabalhadores da Administração Central, Local e do Sector Empresarial do Estado, mas que abrangerá todos os outros trabalhadores com o aumento dos impostos e dos preços, promovendo uma redução acentuada do poder compra das mais largas camadas da população.

Um Orçamento que atinge de forma cega as camadas da população mais desprotegidas e mais carenciadas, nomeadamente os desempregados, os beneficiários do rendimento social de inserção, os mais idosos, os doentes, as crianças, os excluídos.

Um Orçamento que impõe novos cortes no abono de família, nas comparticipações nos medicamentos e vai promover uma quebra acentuada do poder de compra de largas massas, não apenas pela redução dos rendimentos dos trabalhadores, do golpe no IRS, mas também por um novo aumento do IVA, da energia, dos transportes, preços dos serviços públicos e das taxas do Estado.

Um Orçamento que promove um brutal corte de cerca de três mil milhões de euros nas funções sociais do Estado, nos sectores da saúde, da educação e da segurança social em relação a 2010.

Na educação são 1.254 milhões de euros de redução com a inclusão do ensino superior. Nas transferências para a Segurança Social menos 984 milhões e no Serviço Nacional de Saúde 600 milhões.

Cortes que se alargam a outras funções sociais, incluindo nas prestações destinadas ao combate às situações de pobreza e às organizações de solidariedade social que, na ausência de outras respostas que sucessivos governos negligenciaram, estão no terreno colmatando as consequências do crescimento da pobreza, num momento em que também o INE anuncia que 21,4% da população portuguesa vive, ou melhor vivia, em privação material. 

Menos 340 milhões de euros aos que vivem em situação de carência – aos desempregados e aos beneficiários do Rendimento Social de Inserção –, enquanto destina mais mil milhões para as instituições financeiras. Milhões para cobrir os desmandos do sector financeiro, como o BPN e os buracos que deixaram com as suas actividades de jogatina no casino da globalização financeira, os seus obscuros negócios e dos offshore do branqueamento dos capitais e da fuga ao fisco e que por aí permanecem no máximo do seu esplendor!

Bastaria ver o conjunto das medidas e o seu peso, mais de 90% são medidas que atingem os trabalhadores, as funções sociais e o sistema de protecção social, para se ver quanto hipocrisia há na afirmação de José Sócrates que este é um Orçamento para defesa do Estado Social. 

José Sócrates e o PS perante esta realidade ousam ainda falar de equidade na distribuição das medidas de austeridade, apenas porque acenam com a perspectiva de um imposto sobre o sector financeiro que até hoje não definiu, nem tão pouco foi capaz de publicamente quantificar. É fácil de adivinhar porquê. Porque o imposto que falam é um imposto, como se costuma dizer para “inglês ver”. Uma prestação ínfima na imensidão de exigências para os trabalhadores e as populações. Um suporte para alimentar a crença e a propaganda da equidade e da repartição dos sacrifícios.

Nos últimos tempos e à volta do Orçamento temos assistido a essa espécie de teatro trágico entre PS e PSD sobre as diferenças das suas propostas e da iminência de uma crise política. Uma peça que serve a ambos e que ambos gostam de levar à cena de um sistema mediático, sempre pronto a fazer-lhes o jogo da credibilização do  rotativismo que alimenta essa espécie de bipartidarismo à portuguesa que nos desgoverna e que está levar o país para o  fundo. Uma peça que, nestes últimos tempos, tem servido para o PSD vender, face ao descrédito do governo do PS que cada vez mais faz a política que PSD faria e quer fazer, a ilusão da mudança por si protagonizada e ao mesmo tempo justificar, debaixo da bandeira do dever patriótico, a inevitabilidade da aprovação deste Orçamento de ruína das massas!

Dissemos ilusão de mudança, porque é de ilusão que se trata. Nem é o dever patriótico que leva o PSD à viabilização do Orçamento, mas o dever de solidariedade de classe com os grandes grupos económicos  e os banqueiros que não escondem que este é o seu Orçamento.
Não é qualquer projecto de mudança que o PSD apresenta, mas a continuação da sua política de direita de sempre, como mais uma vez se confirma com a sua convergência naquilo que é fundamental neste Orçamento, nomeadamente nas medidas de expropriação das massas trabalhadoras e que são a essência deste Orçamento. Isso vê-se na sua convergência no corte dos salários, no congelamento e na redução do poder compra de todas as reformas. Nas medidas de estrangulamento dos serviços públicos. Nos cortes do abono de família, do subsídio de desemprego e das prestações sociais, na redução da comparticipação nos medicamentos. Em relação ao aumento dos impostos, nomeadamente do IVA e em relação ao qual rapidamente acertaram o passo para o taxar a 23%.
Unidos estiveram na manutenção dos benefícios fiscais à banca e aos grandes grupos económicos, no apoio às privatizações de empresas e serviços públicos, fonte de novos negócios e de lucro fácil para os mesmos do costume.
Tão pouco acabaram divididos em relação ao aumento dos impostos sobre os rendimentos do trabalho que continua a crescer, enquanto a receita proveniente do IRC prevista baixa 2,7%, apesar do aumento dos lucros dos grandes grupos económicos.
Os quatro maiores bancos privados arrecadaram 4,1 milhões de euros por dia nestes primeiros nove meses de 2010. A Brisa 401,7 milhões, mais 282%;  a Galp 266 milhões, mais quase 50%; a PT 5.617 milhões, quase 1500%, entre outras.
Ainda na passada 6ª feira o país tomou conhecimento que os lucros das empresas cotadas na bolsa –  as empresas do PSI20 – aumentaram 40% nestes mesmos nove meses, confirmando que a crise não lhes bate à porta! Entretanto os impostos de tais lucros não têm expressão no Orçamento. A taxa efectiva do IRC da banca nos primeiros 9 meses deste ano de 2010, rondam os 9%, confirmando o velho dito se não queres pagar impostos torna-te banqueiro! 
A situação de descaramento total é o que se passa com a Portugal Telecom que não paga impostos pelas mais-valias que obteve com a venda da Vivo à Telefónica e, para por os seus accionistas a salvo do pagamento dos impostos devidos, decide antecipar o pagamento de dividendos em 2010, garantindo assim uma “poupança” fiscal de 260 milhões de euros, por comparação com o pagamento dos mesmos dividendos em 2011.

Um escândalo que não parece preocupar os implacáveis defensores da ditadura do défice! Alguns dos que tomaram tal decisão e outros dos que se vão abotoar com os dividendos são daqueles que, na TV e nos jornais, falam em cortes de salários e na inevitabilidade das medidas de austeridade para conter o défice das contas publicas.

Grandes patriotas, só se lembram do défice quando é o povo a pagar! 

Mas o grande argumento que levou à a provação deste Orçamento de desastre nacional, era  o da necessidade de com urgência “acalmar os mercados” que especulavam com a dívida. A receita inadiável e inevitável para impedir que os mercados estrangulassem o país com taxas de juro leoninas.

O que é que nos aconteceu? Orçamento aprovado e os juros da dívida não só não desceram, como subiram sucessivamente batendo novos recordes, confirmando o que o nosso Partido dizia: que  não era pela redução do défice que pararíamos a especulação. Na verdade confirmou-se!

Não era com mais um ou menos ponto percentual no défice do Orçamento que os mercados, isto é, os mega bancos, nomeadamente os bancos da Alemanha, da França e da Holanda iriam parar de especular. A travagem da especulação sobre a dívida pública, com as taxas de juro de agiotagem que estão a ser praticadas exigia uma solução política. Uma mudança de orientação do Directório das grandes potências, da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu. Tal como exige também uma ruptura com as orientações políticas que conduziram o país a esta situação de grave dependência.

A situação de endividamento do país não é um problema novo que agora alguns parecem ter descoberto é um dos mais graves sintomas da política de desastre nacional que, PS, PSD e CDS com o apoio do actual Presidente da República e agora novamente candidato, têm imposto ao país.

Há muito que este é um problema identificado como um dos problema centrais do nosso desastroso modelo de desenvolvimento. Em dez anos o valor do endividamento externo líquido (envolvendo dívida pública e privada) passou de  cerca de 50 mil milhões de euros em 2000 correspondente a 40% do PIB, para mais de 182 mil milhões de euros em 2009, correspondente a 109% do PIB.

Uma realidade que confirma, tal como o PCP há muito vem alertando, que o problema central do país não é o défice público ou a dívida pública como PS, PSD e CDS querem fazer crer, mas sim a dívida externa global (pública e privada) em consequência de um processo de desindustrialização, de degradação e do abandono do aparelho produtivo, das privatizações, do domínio do capital estrangeiro sobre a economia nacional, da entrada de Portugal na União Económica e Monetária e de uma política monetária e cambial conduzida pelo Banco Central Europeu e pelos interesses da Alemanha.

O PCP considera que a resposta a este saque aos recursos nacionais a que assistimos não está nem em novas medidas, ditas de austeridade, ou cedências do Governo português perante a agiotagem e os interesses do grande capital, nem no recurso ao FMI ou ao fundo de garantia da União Europeia como alguns se atrevem a admitir. Por mais que se reduza o défice a especulação vai continuar. Na verdade, especulam porque está na sua natureza especular. Especulam porque com as premissas da União Económica e Monetária e a política do BCE ganham montes de dinheiro. Especulam porque encontram da parte do governo português a atitude obediente e servil de quem está sempre pronto para ceder a nova chantagem, a impor mais sacrifícios aos trabalhadores e ao povo, a comprometer a situação do país.

Cavaco Silva veio criticar aqueles que como nós denunciam e atacam os especuladores e os que com eles são coniventes, por omissão e acção. Diz, Cavaco Silva que não vale a pena criticar, porque a “retórica (como se fosse apenas retórica e não proposta concreta) de ataque às posições dos mercados internacionais, não beneficia o país.

Cavaco Silva não está apenas a fazer um convite à resignação, as suas opiniões são uma declaração de rendição! Rendição cega à vontade dos mercados! Rendição às orientações do neoliberalismo dominante que aprisionou o poder político e usurpou a legitimidade dos povos e dos Órgãos políticos por si eleitos de decidirem da vida colectiva em função dos interesses gerais.

Cavaco Silva sabe, tal como Sócrates e Passos Coelho, que a política de austeridade é a política de aprofundamento da exploração dos povos. É o instrumento de extorsão das massas a favor dos especuladores e dos detentores do domínio do mercado. Sabem disso e são coniventes! Querem o nosso silêncio! Querem um país de joelhos! Podem render-se uns e outros! Aqui, da nossa parte, da parte do PCP não há espaço para a rendição. Aqui há luta. Aqui há proposta e o apontar do caminho dos que não se entregam, nem se resignam! Por isso reafirmamos que é no plano da iniciativa e intervenção política que se terá de dar resposta ao problema do endividamento e da especulação.

Da nossa parte, da parte do PCP consideramos que o Estado português deverá desenvolver de imediato as medidas adequadas visando a diversificação das suas fontes de financiamento designadamente por via de negociações bilaterais, procurando outras fontes mais vantajosas fora daquelas que nos estão a ser impostas pelos “mega-bancos” da União Europeia e dos EUA.

Mas é preciso ao mesmo tempo desenvolver uma política activa de emissão de Dívida Pública dirigida a investidores individuais nacionais (famílias) – Certificados de Aforro e Certificados de Tesouro – remunerados a taxas convidativas à captação da poupança nacional, ao invés daquilo que o Governo PS fez, que praticamente liquidou estes instrumentos de poupança interna, num favor prestado à banca e ao sector financeiro.

Mas não de pode ficar por aqui. Nós consideremos que é necessária uma intervenção firme do Governo junto da União Europeia visando pôr fim aos  instrumentos que permitem a actual especulação financeira que arrasa a situação económica e as condições de vida de países como o nosso. Como? Alterando os estatutos, as orientações e a falsa autonomia do Banco Central Europeu. Suspendendo imediatamente o Pacto de Estabilidade e as políticas liberalizadoras e privatizadoras da Estratégia 2020. Pondo fim aos paraísos fiscais, à livre circulação dos capitais e impondo a taxação dos movimentos de capitais especultativos.
Mas cima de tudo resolver a questão mais decisiva e estratégica que se coloca para responder ao problema do endividamento externo. A decisiva questão do crescimento económico e o desenvolvimento de uma política de defesa e promoção da produção nacional, na indústria, na agricultura e nas pescas, capaz de adoptar uma política de Estado de produção nacional de produtos importados que permita que o país, em vez de produzir cada vez menos para dever cada vez mais, produza e exporte cada vez mais para dever cada vez menos.

Uma situação que exige uma política de ruptura com as actuais orientações e uma nova política patriótica e de esquerda capaz de levar para frente tais tarefas. Uma política que dê prioridade ao país e não aos interesse do grande capital monopolista.

Já se perdeu tempo demais e querem continuar a adiar o que é preciso fazer! É no quadro da luta por uma alternativa, por um novo rumo para o país e perante a actual ofensiva que as eleições presidenciais assumem uma inegável importância na evolução da situação política nacional. Uma importância que nos levou a promover e levar para frente a candidatura de Francisco Lopes. Uma candidatura que está hoje lançada e que avança com êxito por todo o país.

A única candidatura que os portugueses podem encontrar do lado dos trabalhadores, do nosso povo, sem ambiguidades, sem silêncios calculados e a única que está empenhada na grande batalha pela ruptura e pela mudança. A única candidatura que não tem no seu percurso e projecto, nem comprometimentos, nem cumplicidades com a política de direita. A única que está  liberta de apoios dos que são responsáveis pelo caminho de injustiças, exploração, retrocesso social e declínio económico na vida nacional. 

A candidatura que se apresenta perante os trabalhadores e o povo com um projecto político claro, patriótico e de esquerda, capaz de enfrentar a gravidade da situação a que o País chegou e lançar Portugal no caminho do desenvolvimento, da justiça e do progresso social.

Estamos a cerca de dois meses das eleições para a Presidência da República.

Vamos ao combate afirmando a distinta natureza da nossa candidatura e denunciando com clareza os projectos dos que têm como principal objectivo perpetuar a política da direita. Desde logo, dando um decidido combate à candidatura de Cavaco Silva de enfeudamento aos grandes interesse económicos e financeiros.

A candidatura da  “cooperação estratégica”, que incentivou e deu força à mais brutal das ofensivas contra os trabalhadores e os interesses populares que tem nos PEC e no presente Orçamento o exemplo da sua verdadeira opção de classe e dos interesses que promove e protege. Dessa candidatura que mais se bateu para promover o “consenso da desgraça e da ruína do país” nestes anos, que esteve à frente da Presidência da República e que bem merecia, se nesse tempo estivéssemos, o cognome de “Presidente da crise”.
A candidatura da dissimulação. Desse candidato que desde 1980, como Ministro das Finanças e depois como Primeiro-Ministro, tem assumido as mais altas responsabilidades políticas no país, mas que se coloca com todo o desplante acima de toda a gente, apontando o dedo a tudo e a todos do alto da sua jactância professoral, na típica postura dos que nunca assumem as suas responsabilidades e que empurram para os outros as consequências desastrosas dos seus actos ou das suas omissões. Que diz o que seria do país sem a sua acção, sem seus alertas, sem os compromissos que estimulou. Como se esses compromissos não fossem a causa do desastre a que conduziram o país! Desse candidato que dizia, em 2005, estar destinado a salvar o país, mas que acabado o seu mandato o deixa pior do que o encontrou!

Mas combate e denúncia também das candidaturas que não saem de cima do muro, que ora criticam as consequências da política de direita, ora são o seu amparo. Que estão a favor e contra o Orçamento. Que dão uma no prego e outra na ferradura!

Portugal pode e deve vencer apoiando esta nossa candidatura, a candidatura de Francisco Lopes, a candidatura dos que não aceitam o Portugal das desigualdades sociais e das injustiças. A candidatura que não desiste de Portugal e que com toda a determinação e confiança luta por um Portugal democrático, justo, solidário e desenvolvido. 

Sim! Digam ao camarada Francisco Lopes para avançar com confiança porque tem a nossa confiança. Temos convicção que todos juntos saberemos dar a resposta que se impõe aos desafios que temos pela frente!