As propostas da Comissão relativas às negociações agrícolas no âmbito da OMC, aprovadas por unanimidade pelo Conselho, são um novo passo para uma liberalização substancial do comércio agrícola, mantendo o actual modelo baseado na promoção das exportações e insistindo na ideia de que é pela liberalização do comércio que se ajuda os países em vias de desenvolvimento, esquecendo que esta acentua a dependência alimentar e a especialização assente na monocultura para exportação, dominada pelas multinacionais agro-alimentares dos países desenvolvidos.
Ora, em vez das novas liberalizações, devia ter em conta as injustiças do sistema internacional de comércio, e defender o reconhecimento do direito à soberania e segurança alimentar, ou seja, o direito de todos os povos definirem as suas políticas agrícola e alimentar, bem como defender o reconhecimento, a todos os países, de proibirem o comércio de OGM.
A proposta ultrapassa o quadro da agenda 2000, o qual já tinha feito concessões excessivas em prejuízo das pequenas e médias explorações familiares. Daí a oposição a qualquer negociação agrícola, no âmbito da OMC, que venha dar um novo impulso à concentração, intensificação e verticalização da produção e, dessa forma, ao desaparecimento de milhares de pequenas e médias explorações, designadamente em Portugal. Registe-se que esta proposta condiciona, à partida, a revisão intercalar da PAC, o que demonstra a hipocrisia de algumas delegações no seio do Conselho.