Intervenção de Honório Novo na Assembleia de República

Manifestação de compreensão e solidariedade com os cidadãos, centrando-se na quinta avaliação do Programa de Ajustamento Económico de Portugal e apelo ao Partido Socialista no sentido de um consenso para cumprimento do Programa de Ajustamento

Sr.ª Presidente,
Sr. Deputado Mota Pinto,
Confesso que começo a estar cansado do «sacudir a água do capote» entre elementos e Deputados do PS e do PSD sobre a responsabilidade do Memorando de maio de 2011. O País está farto de vos ouvir «sacudir a água do capote» de uns sobre os outros.
Mas, Sr. Deputado Mota Pinto, o senhor subiu à Tribuna para nos vir dizer que tinha sido um sucesso a avaliação positiva da quinta avaliação.
Sr. Deputado, diga-me uma coisa: o senhor está convicto daquilo que disse? Acha que ter o desemprego que temos é um sucesso? Acha que ter falências de milhares e milhares de empresas todos os dias é um sucesso? Acha que ter manchas de pobreza cada mais indignas é um sucesso? Acha que ter famílias inteiras que não pagam nem a conta da água nem a conta da luz, ou que pagam alternadamente uma das duas contas, porque não têm dinheiro nem para a alimentação nem para pagar as contas de casa é um sucesso? Acha que é um sucesso as famílias devolverem as casas que tinham comprado por ausência de poder de compra para as pagar? É um sucesso?!
Sr. Deputado Mota Pinto, o senhor pode ter as palavras mais simpáticas e de consideração pelo esforço dos portugueses, mas é responsável por essa situação que os portugueses vivem. Não «passe as mãos pelos ombros» daqueles que sofrem, porque não tem o direito de o fazer, Sr. Deputado!
Sr. Deputado, queria deixar-lhe uma outra pergunta, dirigida a quem foi, durante muito tempo, Presidente da Comissão de Orçamento.
O senhor tem um programa que falhou; um programa que mantinha objetivos, que tinha medidas aprovadas, as quais foram todas implementadas, e que falhou rotundamente. O senhor, em nome do rigor, devia ter começado a sua intervenção por uma análise daquilo que falhou, mas não o fez, e com isso mostra que não está ética e honestamente neste debate.
Mais, Sr. Deputado, se quisesse impor rigor no seu próprio raciocínio pensaria o seguinte: se a receita falhou, não podemos continuar a impor mais austeridade, medidas ainda mais recessivas, convencidos de que agora vamos cumprir os objetivos.
O senhor bem sabe que insistir na mesma receita não vai salvar ninguém. Não vai salvar o País, não vai salvar a dívida do País, não vai desenvolver o País, vai, sim, lançá-lo naquilo que o senhor diz que não lança, ou seja, no caminho da Grécia, no caminho do abismo. E o senhor vai ser responsável por isso!

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