Libertação de Ingrid Betancourt

 

Voto de congratulação pela libertação de Ingrid Betancourt

Intervenção de Bernardino Soares na AR

Sr. Presidente,

Srs. Deputados:

É com satisfação que hoje assinalamos, nesta Assembleia da República, o regresso à liberdade de Ingrid Betancourt, bem como o seu desejado reencontro com a família.

Apresentámos, por isso, um voto de congratulação  (voto n.º 163/X), que é de toda a justiça seja aprovado por esta Assembleia da República.

Este acontecimento reforça a necessidade de uma solução pacífica e negociada para o conflito, que passe pela retoma das negociações para a troca de prisioneiros, designadamente através da desmilitarização de alguns municípios para este efeito e que, ao contrário do que propagandeia o Governo de Uribe e a propaganda norte-americana, têm sido sistematicamente sabotadas pelo Governo de Uribe, apesar de insistentes apelos para que elas prossigam da parte de diversos mediadores, quer da América Latina, quer da Europa e de países da União Europeia.

Apesar da constante sabotagem das negociações por parte de Uribe, ocorreram, por exemplo, em Fevereiro, libertações unilaterais de prisioneiros por parte das FARC.

O que se passa na Colômbia não se pode reconfigurar às catalogações de organizações como terroristas feitas pela Administração norte-americana, que incluíam, até há bem pouco tempo, o ANC e, até há dias, Nelson Mandela!

Esta é a credibilidade das catalogações da Administração norteamericana!

Na semana passada, Nelson Mandela ainda era terrorista para a Administração norte-americana e pela União Europeia, onde se incluem, nestas catalogações, todos os que não se vergam perante o domínio imperialista!

Trata-se de um conflito de mais de quatro décadas, em que o país se mantém em guerra, num quadro geral de ingerência norte-americana.

Os Estados Unidos da América acicatam o conflito de forma a aumentar a sua ingerência na região e a sua provocação a outros países daquela região do mundo.

É sintomático o peso das Forças Armadas da Colômbia. Mais de 140 000 homens contra, por exemplo, 80 da vizinha Venezuela, e uma despesa militar de 3,8% do PIB. E lembre-se que a isto se juntam os milhares de paramilitares que o Governo apoia e suporta!

Estamos a falar de um regime que o PS, o PSD e o CDS glorificam, um regime torcionário, responsável por milhares de assassinatos, por torturas e por perseguição de forças políticas e sociais.

Estamos a falar de um regime - PS, PSD e CDS glorificam! - que a Confederação Internacional de Sindicatos Livres, no seu relatório anual sobre o ano 2006, bem demonstra o que é. A Colômbia é, para esta Confederação Internacional de Sindicatos Livres, o país mais perigoso para exercer a actividade sindical.

Foram assassinados, em 2006, pelos paramilitares, 78 sindicalistas.

Só até Março de 2008, já foram assassinados 17 sindicalistas, para além do assassínio de comunistas e de outros democratas candidatos a eleições que são perseguidos e assassinados naquele País.

A realidade, Sr. Presidente, Srs. Deputados, não é a propaganda norte-americana, não é a propaganda que os senhores aqui querem vender, é bem diferente! Congratulamo-nos com o regresso à liberdade de Ingrid Betancourt, mas não branqueamos o regime protofascista de Álvaro Uribe.

(...)

Sr. Presidente,

Srs. Deputados,

Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares,

V. Ex.ª fez um juízo de valor inaceitável e que repudiamos totalmente, tirando, do nosso voto, conclusões que não correspondem à realidade.

Nunca subscrevemos tais métodos e eles não se identificam com os nossos princípios, como o Sr. Ministro bem sabe. E se o que estivesse aqui em discussão, nesta Assembleia da República, fosse apenas a congratulação com o regresso à liberdade de Ingrid Betancourt, não seriam precisos vários votos, porque todos estaríamos unanimemente com essa congratulação.

Só que não foi isso que o Partido Socialista e a direita quiseram fazer.

O que o Partido Socialista e a direita quiseram fazer, hipocritamente, foi congratular-se com a liberdade de Ingrid Betancourt (voto n.º 160/X) para, depois, também hipocritamente, glorificarem um regime que assassina e promove grupos paramilitares torcionários.

O Sr. Ministro falou aqui da campanha eleitoral que Ingrid Betancourt fazia quando foi sequestrada, mas não fala dos candidatos de forças de esquerda e progressistas que, na Colômbia, quando se apresentam às eleições, são assassinados a coberto do governo de Álvaro Uribe. Estes não merecem qualquer indignação da parte do Sr. Ministro! Mas eu, Sr. Ministro, não faço como o Governo, não presumo que o Governo está de acordo com esses métodos, como o Sr. Ministro pretendeu presumir que sucedia connosco em relação a outros.

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