Sr.ª Presidente,
Sr. Deputado Luís Montenegro,
De facto, a sua declaração política passou por cima da realidade que os portugueses vivem e uma das primeiras questões que vale a pena colocar é a de que país é que o Sr. Deputado falou da tribuna.
Porque a vida que os portugueses levam é bem diferente da vida de facilidades que o senhor anunciou.
De resto, queria relembrar-lhe alguns números.
Pela vossa mão, a dívida pública aumentou 51 000 milhões de euros. Em 2011, os problemas do País eram o que eram; hoje, temos mais 51 000 milhões de euros, num total de 220 000 milhões que o País hoje deve.
Temos 2,7 milhões de pobres, uma boa parte acrescentada pelos senhores. É certo que ainda com a ajuda dos PEC executados pelo Governo anterior, mas a maior parte é da vossa responsabilidade.
Temos 2,1 milhões de desempregados…
São 2,1 milhões de desempregados, se contar com aqueles que os senhores tentam esconder das estatísticas! Pois esse é que é o problema!
É que os senhores querem fazer um retrato da realidade escondendo os problemas, varrendo-os para debaixo do tapete. Ora, nós já vimos o resultado que dá varrer os problemas para debaixo do tapete, nós já vimos no que dá. Não façam isso! Enfrentem os problemas, resolvam-nos! E, se não tiverem soluções para os resolver, assumam essa circunstância!
Sr. Deputado Luís Montenegro, são 2,1 milhões de desempregados num país que, nos últimos quatro anos, destruiu 500 000 postos de trabalho em termos líquidos — repito, 500 000 postos de trabalho. E a realidade do desemprego só não é pior porque uma boa parte dos portugueses emigrou, porque uma boa parte dos portugueses procurou encontrar no estrangeiro o futuro que os senhores aqui lhes negaram com a política que executaram a concretizar o pacto da troica.
Sr. Deputado Luís Montenegro, nesse país de fantasia de que o senhor fala, quero saber onde cabem os problemas que se vivem nos serviços de saúde, onde cabem os problemas que se vivem nos hospitais, que têm pouco mais de 50% dos médicos que precisavam, onde cabem os problemas dos hospitais e dos serviços de saúde do interior, que não conseguem contratar médicos porque não têm regime de incentivos, apesar de o seu Governo, por várias vezes, ter inscrito essa proposta no Orçamento do Estado.
Pergunto, ainda, onde cabem os problemas dos utentes que chegam aos centros de saúde desnutridos, em hipotermia, com desequilíbrios medicamentosos porque não têm condições para manter as suas vidas com um mínimo de dignidade, porque os senhores fizeram o esbulho de salários, de pensões, das condições de vida da generalidade dos portugueses. Onde é que nesse país de fantasia, de que o Sr. Deputado falou, cabe esta realidade que os portugueses hoje vivem?!
Para terminar, Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, queria colocar ao Sr. Deputado Luís Montenegro uma outra questão, que tem a ver com a falta de credibilidade deste Governo, com a noção que os portugueses, hoje, têm de que temos um Governo com dois pesos e duas medidas relativamente às exigências, às obrigações que impõe que se cumpram e aos sacrifícios que impõe aos portugueses e, por outro lado, as medidas das facilidades e dos favorecimentos que garantem.
Sr. Deputado, o exemplo que temos hoje com a discussão sobre a situação em que está envolvido o Primeiro-Ministro, sem os esclarecimentos que se impõem e que, ainda hoje, estão por esclarecer, é claríssimo. Ou, então, outros exemplos — e nós temos muitos para dar — de favorecimento garantido aos grandes grupos económicos: 1045 milhões de benefícios fiscais, enquanto aos portugueses exigiram o agravamento de impostos que impuseram.
Foram milhares de milhões de euros concedidos à banca, 12 000 milhões concedidos pela via do empréstimo da troica e o saque nos salários e nas reformas.
Sr. Deputado, este é um Governo que teve dois pesos e duas medidas, que prejudicou os mais fracos, aqueles que vivem do seu trabalho, para favorecer aqueles que acumulam, e continuaram a acumular, riqueza e fortuna à custa da crise do País e à custa dos portugueses.
Esse Governo, Sr. Deputado Luís Montenegro, vai ser derrotado nas eleições. Por muito que os senhores venham com essa farronca da maioria absoluta, os senhores sabem que vão ser derrotados nas eleições.