Encontro Internacionalde Partidos Comunistas e Operários
Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP
É com grande alegria que, em nome do Partido Comunista Português, vos dou as fraternais boas-vindas a Portugal e vos desejo uma agradável e proveitosa estadia no nosso país. Espero que tenham oportunidade não só de tirar todo o partido possível deste Encontro Internacional mas de ficar a conhecer melhor a realidade do nosso Partido e do nosso País que é hoje marcada por importantes processos de luta social.
E falando de luta, de certo que compreendereis que, desta tribuna, expresse a solidariedade aos trabalhadores da função pública que se encontram, ontem e hoje, em luta, levando a cabo uma importante greve pela defesa dos seus direitos que o actual governo do Partido Socialista tenta delapidar e destruir.
É uma grande honra para o Partido Comunista Português receber tão numerosos e responsáveis representantes de Partidos Comunistas e Operários de todo o mundo no nosso Encontro.
Temos pela frente três dias de intenso trabalho, de discussão, de trocas de informações e opiniões sobre a evolução da situação internacional e de procura de acção comum ou convergente dos nossos partidos, partindo da diversidade de posições e condições de luta em que cada um dos nossos partidos intervém.
É um desafio exigente, mas o facto de o decidirmos levar por diante – no quadro de um profundo respeito pelas características, pela autonomia e pela História de cada um dos nossos partidos – é já de si um sinal importante da vontade de todos nós, valorizando o que nos une, procurar cooperação e acção comum.
Para o PCP a realização de encontros deste tipo assume no presente uma grande importância.
Em primeiro lugar porque eles respondem à necessidade de uma troca regular de informações e opiniões sobre a evolução da situação em cada um dos nossos países e sobre a situação internacional. Necessidade essa cada vez maior quanto a evolução da situação internacional assume hoje ritmos impressionantes, aspectos contraditórios e é marcada por um alto grau de instabilidade e insegurança. Continuando a dar grande importância às relações bilaterais, pensamos que momentos como este são oportunidades riquíssimas não só para aprofundar o nosso conhecimento e análise mas também para identificar, num quadro de ofensiva multifacetada do imperialismo, as principais tendências de desenvolvimento da situação internacional.
Em segundo lugar porque pensamos que à estreita cooperação das classes dominantes e à ofensiva global do imperialismo é cada vez mais necessário responder com acção comum ou convergente que dê voz às aspirações dos trabalhadores e dos povos, que trave o passo à violenta ofensiva do imperialismo e que fortaleça a nossa compreensão recíproca.
Partindo do princípio fundamental de que o lugar dos comunistas portugueses é junto e no seio dos trabalhadores e do povo; partindo da ideia central de que o plano nacional continua a ser determinante na luta de classes, cada vez mais viva e intensa; partindo do princípio de que a maior contribuição que este Partido pode dar para a luta mais geral pela superação revolucionária do capitalismo, é o reforço da sua organização e da sua ligação às massas - entendemos também ser necessário encontrarmos em conjunto soluções mais estáveis de cooperação que afirmem as políticas alternativas que os comunistas e os revolucionários preconizam. A cooperação e a solidariedade são para nós a base do fortalecimento do nosso movimento e numa situação caracterizada ainda como de resistência e de acumulação de forças, mas também já por sinais, ainda que frágeis, de recuperação, temos que ter a capacidade para identificar e valorizar aquilo que nos pode unir.
Em terceiro lugar porque, momentos como este são oportunidades chave para conhecermos mais de perto as lutas em que os nossos povos estão envolvidos. Um melhor conhecimento recíproco cimenta a confiança e fortalece a solidariedade internacionalista. Solidariedade essa que não é conjuntural, é intrínseca aos nossos valores, à nossa História comum, à nossa forma de ser e estar no mundo enquanto comunistas e revolucionários. É uma solidariedade com conteúdo político, uma solidariedade intimamente ligada aos fundamentos do internacionalismo proletário, uma solidariedade de classe. Saúdo assim todas as forças revolucionárias, todos os partidos comunistas, que das mais variadas formas, prosseguem corajosos processos de resistência contra a ocupação militar estrangeira, contra as agressões, as ameaças e ingerências do imperialismo ou que prosseguem, alguns há décadas, lutas pelos seus direitos nacionais. E, permitam-me, tendo em conta a ausência forçada neste nosso Encontro de representantes do povo palestiniano sujeito a mais um massacre por parte de Israel, que saúde com uma grande solidariedade o povo mártir da Palestina. Saúdo ainda todos aqueles que sujeitos ao recrudescimento do anticomunismo e de medidas antidemocráticas, alvos da perseguição política fascizante, prosseguem a sua luta em condições extremamente difíceis e mesmo na clandestinidade. Saúdo-os a todos fazendo votos que deste Encontro a solidariedade, concreta e actuante, possa sair reforçada, seja através de posições políticas ou de acções e iniciativas comuns.
Por último, em quarto lugar, damos grande importância a encontros deste tipo, porque é neles que podemos, a par com outras iniciativas de carácter bilateral ou multilateral, avançar na reflexão e na intervenção que conduzam à afirmação do socialismo, numa concepção necessariamente renovada e enriquecida pelas lições da experiência, como a real alternativa ao actual sistema. E esta, é uma tarefa fundamental dos nossos partidos. Vivemos tempos de intensa luta ideológica, com importantes potencialidades de avanço progressista que colocam a necessidade de dar mais visibilidade à actualidade do ideal comunista, ao socialismo. Aprendendo com as experiências positivas e negativas, com as vitórias e as derrotas e rejeitando simultaneamente a deturpação, a caricaturização e a revisão da História gloriosa de libertação dos povos; combatendo as novas velhas tendências de criminalização das resistências, em particular dos comunistas e afirmando, a novidade, o carácter intrinsecamente democrático do socialismo, estaremos sem dúvida a contribuir para que a Humanidade conheça um porvir mais livre, mais justo, mais pacífico, fraterno e democrático.
A todos, votos de bom trabalho e uma palavra final de grande confiança. Confiança que sentimos actualmente em Portugal.
Confiança nos trabalhadores, no nosso povo, na sua luta, no nosso Partido e na nossa luta.
Confiança que, olhando para esta sala, sentimos em relação ao futuro dos povos de todo o mundo.