Intervenção de

O Iraque cinco anos depois - Intervenção de Jorge Machado na AR

 

 

Declaração política, a propósito do 5.º aniversário da guerra do Iraque, lembrando o número de mortes que esta veio causar , não atingindo o objectivo de combate ao terrorismo e ameaçando a paz mundial

 

 

Senhor Presidente,

Senhoras e Senhores Deputados,

Um milhão de mortos. É este o número assustador, é esta a estimativa que diversas organizações internacionais fazem do número de pessoas que morreram, quando se assinala o quinto ano de guerra no Iraque.

Depois da vergonhosa cimeira dos Açores, a ilegal e criminosa guerra começa a 20 de Março de 2003. Passados cinco anos, esta guerra não só não resolveu nenhum dos problemas dos iraquianos, como perpetuou, e em certos aspectos agravou, o sofrimento deste povo.   

Cinco anos depois continuam a existir assassinatos selectivos, prisões secretas, condenações, muitas delas à pena de morte, baseadas em confissões obtidas sob tortura.

Hoje existem cerca de 5 milhões de Iraquianos refugiados.

Hoje temos uma situação de desastre humanitário no Iraque.

Hoje 3 em cada 4 iraquianos não tem acesso seguro a água potável.

Dados das Nações Unidas referem que 43% dos iraquianos vivem em pobreza extrema; 60 a 70% da população activa está desempregada; 80% da população não tem saneamento básico; e as crianças são as principais vítimas, a mortalidade e subnutrição infantil disparou para valores assustadores.

Os Estados Unidos e os seus fiéis aliados utilizam, criminosamente, armas proibidas pelas nações unidas tais como bombas com urânio empobrecido, fósforo branco e bombas de fragmentação que vão prolongar por muito tempo os efeitos, já devastadores, da guerra.

Mas são também os americanos que sofrem as consequências desta guerra.

São já 4 mil os soldados americanos mortos na guerra e mais de 29 mil soldados feridos.

São, essencialmente, jovens das camadas mais desfavorecidas da população norte-americana que pagam com a vida a guerra imperialista decidida pela administração Bush.

Ao contrário do que afirma a propaganda norte-americana, o mundo não ficou mais seguro, antes pelo contrário. A deliberada destabilização do médio oriente, o conflito no Afeganistão, a perpetuação do massacre na Palestina, a guerra no Líbano, as provocações à Síria e as ameaças ao Irão são o caldo de cultura para o terrorismo e são um factor de preocupação a uma ameaça a paz mundial.

Não obstante este cenário, Dick Cheney e o presidente Bush afirmam hipocritamente que "foi um esforço bem sucedido" e que o "êxito que está a ser vivido no Iraque é inegável"

Senhor Presidente,

Senhoras e Senhores Deputados

Saddam Hussein era um ditador tirano. Mas importa referir que ele chegou ao poder e aí se perpetuou devido ao apoio dos Estados Unidos da América.

Enquanto este se dedicava a massacrar curdos, a perseguir e matar comunistas e outros democratas, era um aliado dos Estados Unidos da América, quando deixou de servir os interesses norte-americanos, passou a ser um cruel ditador e uma ameaça a segurança mundial.

Além deste argumento os Estados Unidos da América anunciaram o perigo iminente das armas de destruição maciça e uma suposta ligação à Al Qaeda.

Os Estados Unidos da América sabiam que não existiam armas de destruição maciça e sabiam que não havia qualquer ligação entre Saddam Hussein e a Al Qaeda, tal como afirma um relatório do próprio pentágono.

Esta guerra foi assim justificada com o recurso escandaloso e deliberado à mentira ao embuste para esconder os verdadeiros objectivos imperialista dos Estado Unidos da América.

Esta guerra surge porque os Estados Unidos da América arrogam-se senhores do mundo e impõem, seja a custo for, os seus objectivos geoestratégicos.

Esta guerra surge para que os Estados Unidos da América tenham o controlo sobre o petróleo iraquiano e para imporem o seu domínio imperialista.

Contudo os objectivos saíram frustrados, aqueles que afirmavam que a guerra seria um passeio triunfal sobre Bagdad enganaram-se. Hoje a guerra no Iraque é mais um dos desastres militares dos Estados Unidos da América a juntar a tantos outros da triste longa história militar deste país.

Hoje além do crescente terrorismo, há quem resista e combata a ocupação americana na defesa de um Iraque livre o soberano.

Portugal, infelizmente, ficará para sempre associado a esta guerra criminosa do imperialismo Americano.

O então primeiro-ministro Durão Barroso, além de se prestar a um vergonhoso papel de mestre de cerimónias na cimeira dos Açores jurou, juntamente com o então ministro da defesa Paulo Portas, a pés juntos, que viu provas da existência de armas de destruição maciça que nunca existiram. Hoje reconhece que se enganou.  

O então Presidente da República, o socialista Jorge Sampaio, assistiu impávido e sereno a todos estes acontecimentos e permitiu mesmo o envio da GNR para o Iraque. Até o Primeiro-ministro José Sócrates que, enquanto deputado da oposição dizia que era preciso saber distinguir aliado de seguidor, que não apoiava uma guerra ilegal, em 2007 aparece sorridentemente ao lado do Presidente George Bush enquanto este agradecia o apoio do povo Português a guerra do Iraque.

Senhor Presidente,

Senhoras e Senhores Deputados,

Cinco anos depois, Durão Barroso é presidente da comissão europeia, Blair e Aznar já saíram, Bush está prestes a ir embora, e ficaram os crimes de guerra e contra a humanidade ainda sem data de julgamento marcada e um gigantesco problema por resolver.

Disse.

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