Intervenção

Intervenção do Deputado<br />Pedido de esclarecimento ao Deputado Medeiros Ferreira,

Sr. Presidente, Sr. Deputado Medeiros Ferreira, o PCP, obviamente, acompanha as preocupações, o repúdio e as medidas que impeçam que, na Europa e no mundo, os valores da xenofobia e do racismo, os valores neo-nazis ascendam ao poder. Valores esses que são alimentados, como o Sr. Deputado referiu, e bem, pelos partidos e movimentos de extrema-direita. Faço um parêntesis por causa de uma intervenção aqui há pouco produzida quanto às comparações anti-históricas acerca de outras opções e modelos de desenvolvimento da sociedade. Pode-se ter opiniões diferenciadas - e a bancada de extrema-direita deste hemiciclo tem, seguramente - sobre as várias opções ideológicas da sociedade. Mas há uma questão: é que a esquerda, os partidos comunistas, ou, como foi referido, Fidel Castro nunca defenderam nem defendem os valores da xenofobia, do racismo ou os valores neo-nazis! Defendem os valores da solidariedade, do tolerância, da paz, da igualdade e da promoção da igualdade dos cidadãos no acesso às condições de usufruto do desenvolvimento social. É uma questão de ruptura com os valores da xenofobia e do racismo que estão em ascenso. Acresce que esta bancada, esta esquerda, este PCP nunca esteve com os valores do 24 de Abril em Portugal.Dito isto, em aparte, Sr. Deputado Medeiros Ferreira, porque a questão central é aquela que o Sr. Deputado colocou, há um problema que não tem estado em debate e que tem passado discretamente à margem desta decisão da presidência da União Europeia, que eu faço a justiça de considerar que não se trata de uma mera decisão de lapela na esquerda, apesar das notícias vindas a público acerca do convite que o partido socialista austríaco tinha feito anteriormente ao mesmo partido para integrar o governo. Mas, deixando essa questão de lado, há uma questão central, Sr. Deputado, que não tem sido aqui referida, e essa é que, em minha opinião, tem de ser debatida: que razões é que levam ao ascenso de alguns destes valores na sociedade europeia e também, até, à sua popularização nalgumas camadas sociais? Essas razões têm uma resposta, Sr. Deputado: são os 20 milhões de desempregados na Europa, são os 50 milhões de pobres, é a destruição do Estado providência, é um modelo económico baseado nos valores do fundamentalismo neo-liberal que provocam uma situação, na Europa e no mundo (mas é a Europa que estamos a discutir), que alimenta certo tipo de ideias, certo tipo de valores, que justificam, por vezes, este tipo de ascensos, este tipo de movimentos. Essa é que é a questão que temos de discutir, Sr. Deputado, porque essa é uma questão na qual os partidos socialistas estão seriamente envolvidos e pela qual são seriamente co-responsáveis: pelo desenvolvimento de um modelo económico que alimenta e promove estes valores. E enquanto não se combater este modelo económico e enquanto ele não for substituído por uma política económica baseada nos valores da solidariedade e da igualdade dos cidadãos, é evidente que teremos sempre, permanentemente, perante nós, problemas desta natureza que, obviamente - e acabo como comecei -, temos de combater. E temos de combater tanto no plano das medidas políticas como no plano ideológico.

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