Intervenção de João Oliveira no Parlamento Europeu

Intervenção de apresentação do balanço do trabalho realizado no primeiro ano do actual mandato no Parlamento Europeu

Intervenção de apresentação do balanço do trabalho realizado no primeiro ano do actual mandato no Parlamento Europeu

Senhoras e senhores jornalistas,

Caros camaradas,

I

O trabalho realizado no primeiro ano do actual mandato no Parlamento Europeu confirma uma intervenção ímpar do PCP na defesa dos interesses de Portugal, da soberania e da independência nacional, dos direitos e interesses dos trabalhadores e do povo português.

A intervenção do PCP no Parlamento Europeu deu concretização a compromissos eleitorais assumidos e expressão institucional à luta dos trabalhadores e do povo.

É uma intervenção destacada na recusa e combate às imposições, constrangimentos e chantagens que a União Europeia e as suas políticas impõem a Portugal, comprometendo a sua soberania, o seu desenvolvimento e a necessária resposta aos problemas nacionais.

Continuamos a ser a voz de quem aspira à construção de uma Europa de Estados soberanos e iguais em direitos, de cooperação, de progresso social e de paz, afirmando a alternativa às políticas da direita e da social-democracia.

Somos voz da solidariedade com a luta e as causas comuns dos trabalhadores e dos povos e da ruptura com o consenso do militarismo e da guerra.

Somos a voz firme e incansável na denúncia do genocídio em Gaza e na luta para que lhe seja posto fim.

O trabalho realizado no Parlamento Europeu tem na sua base uma ligação estreita e profunda à realidade nacional, aos problemas do povo e do País, à luta dos trabalhadores e das populações.

Dele ressaltam elementos que tornam a intervenção do PCP indispensável e insubstituível.

A afirmação soberana dos interesses nacionais e a defesa intransigente dos interesses dos trabalhadores e do povo, contra as desigualdades e as injustiças, com a sua articulação solidária com a luta de outros povos por uma Europa de paz, de cooperação, de progresso social.

 

A defesa dos sectores produtivos nacionais e a luta pela recuperação de instrumentos de soberania indispensáveis à prossecução de um projecto de desenvolvimento nacional.

A afirmação de que a guerra e o militarismo não são solução e de que é preciso abrir caminhos para a Paz, assentes na negociação política e na diplomacia, tendentes a uma solução política dos conflitos internacionais.

A luta pela liberdade e pela democracia e contra as ameaças que sobre elas impendem.

A luta ambiental pelo equilíbrio ecológico, pela resolução de problemas candentes com que a Humanidade se defronta, articulada com a resposta às necessidades sociais.

 

                                                                                              II

A intensa e ampla intervenção do PCP no Parlamento Europeu no primeiro ano do actual mandato tem expressão na apresentação de centenas de propostas de alteração a textos legislativos e não legislativos, na elaboração e acompanhamento de relatórios e pareceres, em centenas de intervenções em comissões especializadas e em plenário, debates, declarações de voto, declarações escritas, perguntas à Comissão Europeia e ao Conselho, artigos em órgãos de comunicação social, além de iniciativas muito diversas em Portugal e no Parlamento Europeu.

As 187 intervenções em plenário, cerca de 50 perguntas escritas e com pedido de resposta oral à Comissão Europeia e ao Conselho, responsabilidade directa pelo acompanhamento de 13 relatórios e pareceres – destacando-se a responsabilidade como relator do Parlamento Europeu para a Estratégia de Combate à Pobreza -, além de 2 resoluções individuais e um proposta de “Acto da União”, são a parte mais visível de uma intervenção intensa e dedicada, que se destaca igualmente de um ponto de vista qualitativo.

Esta intervenção no PE está também associada a um trabalho de cooperação com outros partidos comunistas, progressistas e de esquerda da Europa, no seio do Grupo da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica (GUE/NGL) – A Esquerda no Parlamento Europeu.

 

                                                                                 III

São inúmeras as iniciativas políticas e propostas apresentadas pelo PCP no Parlamento Europeu, da defesa e aprofundamento dos direitos sociais e laborais à afirmação de uma política de desenvolvimento e soberania, da luta pela Igualdade, liberdade e democracia à defesa da sustentabilidade ecológica, mitigação e adaptação às alterações climáticas, até às questões da paz, solidariedade e cooperação.

Desse valioso património de acção e intervenção parlamentar destacam-se sete exemplos.

 

Paz e cooperação, contra o militarismo e a guerra

A iniciativa e acção política na defesa da paz e da cooperação assumiram lugar de destaque na intervenção do PCP no Parlamento Europeu.

Foram mais de uma dezena as intervenções em sessão plenária reclamando uma solução política e negociada que ponha termo à guerra na Ucrânia, que responda à segurança colectiva da Europa, assente nos princípios da carta das Nações Unidas e dos princípios da Acta Final da Conferência de Helsínquia.

Denunciando o prolongamento da guerra, e a mobilização crescente de recursos para a escalada armamentista e o militarismo, alimentando os fabulosos lucros da indústria do armamento.

Combatendo uma política submetida aos ditames dos EUA e da NATO que constitui uma acrescida ameaça à paz e à segurança e que desvia para o militarismo e a guerra milhares de milhões de euros que são necessários à resolução dos problemas e melhoria das condições de vida dos trabalhadores e dos povos.

Contrariando estas opções políticas e propondo o redireccionamento dos recursos orçamentais e financeiros para a coesão económica, social e territorial.

Reclamando o fim das armas nucleares e o caminho para o desarmamento geral e controlado, em consonância com o que a Constituição da República Portuguesa preconiza.

Uma intervenção que aproveitou todos os espaços possíveis para afirmar o caminho da Paz, incluindo no Fórum Internacional pela Paz em Bruxelas, na Cimeira Alternativa à NATO em Haia ou na organização da iniciativa “80 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial: Construir a Paz e a Segurança Colectiva”.

 

Solidariedade com a Palestina. Fim ao genocídio!

O PCP protagonizou uma das mais consistentes e destacadas intervenções no Parlamento Europeu na expressão de solidariedade com o povo Palestiniano e na denúncia da política criminosa e genocida de Israel.

Uma intervenção que expôs, de forma audível e destacada no Parlamento Europeu, a profunda hipocrisia e inaceitável cumplicidade da União Europeia e da Comissão Europeia com o genocídio do povo palestiniano e a criminosa política de ocupação e agressão impunemente levada a cabo por Israel na Palestina e no Médio Oriente, que prossegue com a ausência de qualquer acção para que Israel ponha termo aos massacres, ao cruel bloqueio à Faixa de Gaza, à ocupação ilegal de territórios palestinianos, à violação do direito internacional.

Além de propostas com vista à suspensão do acordo de associação entre a União Europeia e Israel, o PCP trouxe ao Parlamento Europeu a voz dos povos que se mobilizam nas ruas em solidariedade com o povo palestiniano e em defesa dos seus direitos por via de inúmeras intervenções em sessões plenárias mas também em iniciativas que contaram com a participação alargada de deputados de vários grupos políticos - como aconteceu numa acção fotográfica de grande dimensão e num encontro com a embaixadora  da Palestina.

 

Combate à pobreza

Assume especial relevância a intervenção do Deputado do PCP como relator do Parlamento Europeu para a Estratégia de Combate à Pobreza.

A proposta de relatório apresentada aponta como objectivos estratégicos e linhas orientadoras a considerar na Estratégia de Combate à Pobreza:

a) o reconhecimento da pobreza como uma situação de violação dos direitos humanos e dos povos;

b) o estabelecimento do objectivo urgente da erradicação da pobreza, o mais tardar até 2035;

c)  a articulação adequada entre a UE e os Estados-Membros, assim como com as regiões, no respeito pelo princípio da subsidiariedade, para a realização deste objectivo;

d) a abordagem global e integrada das políticas e medidas de combate à pobreza e o objectivo da sua erradicação como critério transversal das políticas sectoriais;

e) a participação das pessoas em situação de pobreza na definição, implementação e avaliação das políticas que lhes são dirigidas, de forma adequada, efectiva e transparente.

Considerando a pobreza como violação dos direitos humanos - políticos, económicos, sociais e culturais -, a proposta de relatório aponta a necessidade de garantir o carácter indivisível e universal daqueles direitos. Incluem-se recomendações para o delinear de uma estratégia orientada para a erradicação da pobreza, uma mais justa distribuição da riqueza, o aprofundamento da participação política democrática, a par de uma correcta articulação institucional e recursos orçamentais adequados à prossecução deste objectivo.

 

Habitação

Também as questões da Habitação mereceram tratamento destacado na intervenção do PCP. Expressão disso é a apresentação de uma proposta de resolução individual apelando aos Estados Membros para que deem resposta urgente à crise da habitação, assumindo o seu papel de garante do direito à habitação, promovendo e reforçando soluções de habitação pública e o uso eficiente dos solos, controlando rendas, combatendo a especulação imobiliária; instando à criação de financiamento adicional e específico da União Europeia que os Estados Membros possam mobilizar para a expansão e requalificação dos parques habitacionais públicos e a defesa do direito a habitação digna e a preços acessíveis para todos; instando a Comissão e o Conselho a criarem condições para que os Estados Membros possam ter taxas de juro adequadas às condições de vida das famílias, ao desenvolvimento das suas economias e às necessidades das micro, pequenas e médias empresas, incluindo a possibilidade de reversão da política de altas taxas de juro decididas pelo Banco Central Europeu (BCE).

A essa iniciativa acrescentam-se propostas de debates e intervenções em sessões plenárias, perguntas com pedido de resposta escrita à Comissão, questionamentos a Comissários e ao Banco Central Europeu.

 

Quadro Financeiro Plurianual 2028-2034

A discussão do Quadro Financeiro Plurianual 2028-2034 é uma das discussões que marcarão o actual mandato no Parlamento Europeu. E o Deputado do PCP assume a responsabilidade de relator-sombra do Grupo GUE/NGL para o Quadro Financeiro Plurianual 2028-2034.

A par da denúncia do aprofundamento das orientações políticas neoliberais, militaristas e federalistas, o Deputado do PCP apresentou um conjunto de propostas que afirmam a necessidade de um orçamento alternativo que efectivamente sirva os interesses dos trabalhadores e dos povos, o desenvolvimento económico e o progresso social, a coesão económica e social, a paz e a cooperação.

Das propostas apresentadas destacam-se:

- o reforço do orçamento a longo-prazo, assente no aumento das contribuições dos Estados a partir do seu Rendimento Nacional Bruto, de forma a que o orçamento cumpra a sua função redistributiva e compensatória, contribuindo para esbater assimetrias e desigualdades nos níveis de desenvolvimento entre os diferentes países;

- o reforço dos fundos da coesão, dos destinados à agricultura e pescas, bem como o Fundo Social Europeu +, incluindo a criação de uma linha autónoma para a Garantia para a Infância, com orçamento específico e significativo;

- a definição da “coesão económica, social e territorial” como princípio horizontal do orçamento a longo prazo da União Europeia, exigindo a avaliação do impacto na coesão, entre e dentro de cada país, de todas as despesas, políticas ou acções no âmbito da União Europeia;

- a promoção do pleno aproveitamento das potencialidades de desenvolvimento de cada país através, nomeadamente, do apoio à modernização dos sectores produtivos, incluindo o apoio à actividade industrial, e do investimento público nas estruturas de apoio à produção;

- o investimento nos serviços públicos para a garantia da sua qualidade e acesso universal e gratuito pelas populações;

- a criação de financiamento adicional e específico da União Europeia para a expansão e requalificação dos parques habitacionais públicos;

- a rejeição da utilização de recursos orçamentais para a confrontação, a escalada armamentista e a guerra e o apoio a uma política de defesa da paz, dos princípios da Carta da ONU e do direito internacional.

 

Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)

Além da intervenção relativa ao Quadro Financeiro Plurianual, merece ainda destaque a iniciativa política relativa ao Mecanismo de Recuperação e Resiliência (MRR) e ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Tendo em conta os atrasos significativos na execução dos Planos de Recuperação e Resiliência (PRR) e da possibilidade do desaproveitamento dos fundos associados, o PCP promoveu várias e diferenciadas iniciativas no Parlamento Europeu com o objectivo de propor o alargamento do prazo de execução do PRR.

Além do questionamento à Comissão Europeia e da proposta de agendamento de debates sobre esta questão, o PCP apresentou propostas visando a extensão do prazo de execução do PRR, incluindo uma proposta de “Acto da União” que tinha como objectivo instar Comissão Europeia a apresentar uma alteração ao Regulamento do MRR que contivesse o alargamento do prazo de execução dos PRRs até Agosto de 2028.

 

Investimento Directo Externo (IDE)

Um dos processos em que o Deputado do PCP interveio também como relator-sombra foi o processo legislativo relativo ao Investimento Directo Externo (IDE) da UE.

Em causa está um mecanismo que permite à União Europeia decidir sobre o investimento que é feito em cada país por parte de empresas ou investidores exteriores ao espaço da UE.

A intervenção do PCP denunciou a possibilidade de condicionamento de decisões nacionais pela União Europeia, expressando a preocupação com os impactos deste mecanismo, particularmente para países como Portugal, sobretudo quando aliado à política de facilitação de fusões e aquisições promovida pela UE. Desta combinação pode resultar a acentuação de assimetrias de desenvolvimento entre países, com particular prejuízo para Portugal.

 

Tendo isso em conta, o PCP apresentou propostas que refletiram a necessidade de assegurar que a análise e a validação de um investimento estrangeiro se mantenha uma competência exclusiva e soberana do Estado-Membro em causa, de estender o âmbito do Regulamento à protecção de serviços públicos essenciais, assim como alargar as suas disposições para se considerarem:

•           os impactos sociais em termos de perturbação do mercado de trabalho, perda de postos de trabalho ou deterioração de condições de trabalho

•           os ambientais nos Estados-Membros visados pelo investimento estrangeiro ou noutro Estado-Membro devido ao investimento estrangeiro

•           A salvaguarda do interesse público na produção de bens e na prestação de serviços essenciais

•           A salvaguarda do controlo público em sectores de importância estratégica, como a energia, as telecomunicações, a banca ou os seguros, bem como em serviços públicos essenciais, como a saúde, a educação ou os sistemas de segurança social

•           A defesa dos consumidores.

 

 

 

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