Intervenção de Heinz Stehr, Presidente do DKP
Perigos e potencialidades da situação internacional.
A estratégia do imperialismo e a questão energética, a luta dos povos e a experiência da América Latina, a perspectiva do socialismo.
Caros camaradas,
Sobre o tema desta Conferência, eis alguns aspectos pontos de vista do DKP.
Na Alemanha Federal está a ser apresentado, neste momento, um livro branco do Governo, no qual se justifica porque é que no mundo inteiro é necessário garantir o controlo de matérias primas com meios militares. Além disso, justifca-se mais uma vez, a parceria com os Estados Unidos na chamada “guerra ao terrorismo”. Na confrontação política interna exige-se a intervenção da Bundeswehr. Na Alemanha, tudo isto é contrário à Constituição. Segundo a Constituição alemã, a Bundeswehr não deve intervir no estrangeiro. Tem únicamente tarefas de defesa, e também, nunca deve intervir na política interna do país. A nossa realidade diária prova que o respeito pela Constituição depende de quem detem o Poder.
Por cem mil milhões de euros, a Bundeswehr está a ser transformada numa força de agressão internacional. A intervenção da marinha de guerra alemã na costa libanesa é mais um passo para a participação directa em acções de combate. E deve contribuir simultaneamente para apagar a história do fascismo. O capital alemão é responsável por duas terríveis guerras mundiais. Agora está novamente preparado para participar ao lado dos EUA na terceira guerra mundial “contra o terrorismo”.
A grande coligação composta pela CDU/CSU/SPD quer que a União Europeia e o nosso país continuem a ser parceiros imperialistas dos EUA. A chanceler Merkel anunciou que brevemente, a presidência alemã da União Europeia, vai apresentar novamente a constituição reaccionária para ser aceite. O seu conteúdo não deve ser alterado. Estão previstas apenas alterações cosméticas.
Merkel anunciou que defende a criação de uma zona de comérico livre União Europeia-EUA. A principal orientação deste Governo continua a ser a desmontagem reaccionária de todas as conquistas sociais e democráticas para servir os interesses sobretudo do grande capital transnacional.
Neste momento, na Alemanha, esta política já provocou onze milhões de pobres. Dos quais, dois milhões e meio são crianças que crescem numa situação de pobreza. 0,4% da população possui 60% da riqueza monetária do país, enquanto mais de 60% não possuem nada. A diferença entre ricos e pobres é cada vez maior.
Correspondendo ao apelo dos sindicatos organizados na Central Sindical Federal (DGB), 225 000 manifestantes protestaram nas ruas, a 21 de Outubro. Mas, a resistência ainda nao é suficientemente forte para alterar a situação política.
Neste momento, o principal objectivo é conseguir a alteração da correlação de forças favorável à classe operária e aos seus aliados. Para isso, é necessária a luta. Sem greves generalizadas e acções duras de luta não será possível travar este desenvolvimento fatídico e obter uma outra política.
Na opinião do DKP, a classe operária tem de se mobilizar em todas as grandes empresas. Tem de se constituir uma aliança entre sindicatos, movimentos sociais, como, por exemplo, o movimento da paz e o movimento ecológico, com o movimento antiglobalização e outros movimentos progressistas.
Uma mudança de política não resultará de decisões parlamentares, mas sobretudo da pressão do movimento extra-parlamentar. Se tal pressão atingir um nível elevado, então surgirão também nos parlamentos novas possibilidades para a imposição de outra política, como ainda recentemente demonstrou a luta em França contra a liquidação da protecção ao despedimento dos jovens.
As lutas actuais são predominantemente defensivas e de resistência, mas nesta luta é necessário apresentarmos alternativas, como por exemplo, a redução do tempo de trabalho sem diminuição de salário e com o aumento do número de posotos de trabalho; salários mais elevados; garantia dos sistemas sociais; alteração das leis fiscais em favor dos trabalhadores, dos desempregados e dos trabalhadores em situação precária; proibição por lei da deslocalização de postos de trabalho e dos locais de produção, em especial na grande indústria. Estas exigências só serão concretizáveis, se o poder dominante do capital for reduzido de tal maneira que reformas antimonopolistas sejam viáveis.
A tarefa do DKP, de acordo com o seu novo programa, consiste em estar presente nestes movimentos, apresentar alternativas políticas e defender objectivos políticos e sociais para a superação do sistema capitalista.
Um mundo sem guerras, só será possível com o socialismo! Um mundo sem exploração, sem opressão, sem atentados à dignidade humana e sem rebaixamento da condição humana só poderá ser um mundo socialista! Só num futuro socialista podemos imaginar um máximo de direitos democráticos e de liberdade, de autodeterminação dos povos e das pessoas!
O desenvolvimento na América Latina reforça-nos muito. Cuba, Venezuela, Bolívia e outros países ajudam-nos muito a recobrar energias. Mas não resolvem na Alemanha e na Europa, o nosso problema da propagação do socialismo de uma forma capaz de mobilizar, e, num longo processo, capaz de ganhar maiorias.
Além disso, na Alemanha, estamos confrontados com uma permanente atmosfera anti- socialista e anticomunista. Esta situação tem a sua origem da derrota do socialismo na RDA, em solo alemão. Por outro lado, em sondagens de opinião, uma maioria da população é pelo socialismo, mas acha que neste momento não é possível concretizá-lo.
Mas, o DKP não abdica de partir esta dura noz. Rosa Luxemburgo dizia: “Socialismo ou Barbárie!”. Para nós esta afirmação é actual.
Caros camaradas,
Do nosso novo programa, aprovado em Fevereiro de 2006 consta:
“Numa situação marcada pela globalização imperialista e pelo aprofundamento da União Europeia internacionaliza-se cada vez mais a luta de classes. Assim, cresce a necessidade de colocar na ordem do dia, uma resposta internacional dos partidos e organizações comunistas e de entendimento do movimento anticapitalista.
O ataque generalizado às conquistas da classe operária exige a acção conjunta do movimento operário internacional e de outras forças progressistas. O sabermos que a perspectiva futura do socialismo só em conjunto poderá ser conseguida, reforça a necessidade de intensificar a necessidade de cooperação das forças anticapitalistas.
O DKP orienta-se pela experiência de que o reforço do movimento revolucionário internacional implica o reforço do movimento revolucionário em cada país. O DKP, encara a defesa consequente da causa dos trabalhadores no próprio país ligada ao apoio solidário à luta das forças progressistas no mundo inteiro. O DKP parte do princípio fundamental de que cada partido elabora a sua política autonomamente. Cada partido é responsável perante a classe operária e sociedade do seu país, e, simultaneamente perante os trabalhadores de todos os países.
O DKP sente-se ligado por laços de solidariedade com os países que mantêm a sua orientação socialista, que hoje por ela se decidem ou amanhã para ela avançarão. Simultaneamente, apoia de uma forma solidária os avanços progressistas e o movimento antiimperialista noutros países. O DKP continuará a praticar e a reforçar a solidariedade concreta com Cuba socialista.”
Com base nestes evidentes princípios políticos, gostaríamos de propor que no nosso próximo encontro se discutisse, se os partidos aqui reunidos deveriam avançar com exigências entre si acordadas e marcar datas concretas para acções em sua defesa:
-Poderiam ser jornadas contra a política imperialista de guerra,
-e/ou uma semana de solidariedade com Cuba socialista.
Além disso, gostaríamos de estimular a realização de uma conferência científica sobre o tema “Alternativas ao capitalismo – por um futuro socialista!”.
Finalmente queremos expressar o nosso agradecimento ao PCP pela organização e realização desta Conferência!.