Intervenção de

Injustiças sociais, do emprego e dos direitos dos trabalhadores - Intervenção de Miguel Tiago na AR

Interpelação ao Governo n.º 13/X - Centrada nas questões das injustiças sociais, do emprego e dos direitos dos trabalhadores

 

Sr. Presidente,
Srs. Membros do Governo,
Srs. Deputados:

Todos sabemos bem que o Governo tem apostado na propaganda junto da juventude, desdobra-se em anúncios da sua preocupação fingida, acena que «sim» ao discurso do Sr. Presidente da República que apela ao empreendedorismo juvenil.

Sabemos que o Governo se multiplica em esforços para fazer crer aos jovens que tudo vai bem, como, aliás, se esforça para esconder as suas políticas anti-sociais junto da população portuguesa em geral e dos trabalhadores em particular.

A verdade, no entanto, contradiz o sorriso forçado do Governo. Os números do desemprego juvenil crescem significativamente, pressionando mais os jovens, a cada dia que passa, a submeterem-se ao trabalho sem direitos. São estes números de desemprego que o Governo não combate, antes empola, que servem de ameaça constante aos jovens trabalhadores.

É com receio de integrarem esses números que as jovens se submetem a assinar contratos ilegais, em que se comprometem com os patrões a não engravidarem, a não casarem, como acontece hoje em muitas empresas.

É com receio de integrar os números do desemprego juvenil que milhares de jovens são forçados a trabalhar com vínculos precários, a desempenhar tarefas para as quais não foram admitidos nem para elas são pagos.

É com esse receio que os jovens se submetem a fazer mais horas sem pagamento, que são obrigados a cumprir os caprichos de um patronato cada vez mais parasitário e prepotente que usa o desemprego como ameaça contra os direitos dos trabalhadores.

O Governo sabe bem que os desempregados são o contingente de recurso, de reserva do capital, por isso, não o combate com políticas consistentes de criação de emprego, por isso, continua a aplicar a política dos baixos salários e da desregulamentação dos direitos no trabalho.

A taxa de desemprego juvenil (até aos 25 anos) atinge 18,5%, o que equivale a cerca de 100 000 jovens sem emprego. A este número juntam-se os milhares de jovens que integram os 1,2 milhões de trabalhadores com vínculo precário.

São os jovens estudantes também que, face ao desemprego generalizado, são obrigados a deixar para segundo plano os estudos para contribuírem financeiramente para a economia familiar, agravando o fenómeno do abandono escolar.

A propósito, Sr. Ministro, que papel tem tido o seu Ministério na «famosa» Comissão Interministerial de Juventude, que foi anunciada pelo Governo mas sobre a qual, até hoje, não houve uma única notícia?

Pode o Governo fingir que a política de trabalho não tem nada a ver com política de juventude, mas as centenas de milhares de jovens no desemprego e as centenas de milhares que não sabem se amanhã ainda têm emprego terão uma opinião bem diferente da sua.

É que são os jovens os mais afectados pelas políticas neoliberais que o Governo prossegue, são os jovens a nova geração sem direitos que o Governo socialista sempre ajudou, e ajuda, a criar.

Depois, admire-se, Sr. Ministro, que os jovens façam manifestações aos milhares e que participem intensamente na luta contra as políticas que, todos os dias, sentem como um cerrado ataque aos seus direitos.

 

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