Interpelação ao Governo nº 13/X (PCP) Centrada nas questões das injustiças sociais, do emprego e dos direitos dos trabalhadores
Intervenção de Bernardino Soares
Senhor Presidente,
Senhores Deputados,
"Portugal é um dos países da Europa onde a desigualdade é
maior e onde o desemprego mais rapidamente cresceu."
É preciso "lançar uma dinâmica de crescimento progressivo
da economia, que permita também combater o desemprego e reduzir as
desigualdades sociais".
O "desígnio nacional de Portugal se voltar a aproximar, de
forma decidida e sustentada, do nível de desenvolvimento dos países mais
avançados da União Europeia".
"A economia portuguesa não tem futuro como uma economia de
baixos salários e de baixos custos."
Estas frases, por muito estranho que pareça, constam do
Programa do Governo, deste Governo que hoje aqui interveio nesta interpelação.
Só que nesta interpelação do PCP, que tomou a grave
situação do desemprego como um dos seus temas centrais, o Governo procurou
falar pouco dos dados do desemprego. É aliás o que faz sempre que o desemprego
aumenta.
De facto, cada vez que se fala em desemprego, o Governo
desaparece para parte incerta; cada vez que se fala de desemprego o Governo
"anda a monte", desaparece e o Primeiro-Ministro torna-se invisível ou pelo
menos cumpre um rigoroso voto de silêncio.
Nesta interpelação o Governo passou de fugida pelo problema
do desemprego. Que aliás gosta de citar a partir apenas dos dados do IEFP que
assinalam, ao mesmo tempo que o INE apresenta a maior taxa de desemprego dos
últimos 20 anos, uma diminuição em Abril do desemprego registado de -10,4% e um
aumento dos empregados de +21,7%. É no mínimo estranho. Neste debate o Governo
só falou dos dados do IEFP.
O Governo não quer por isso falar de um problema maior da
sociedade portuguesa - o desemprego onde é visível o fracasso da sua política,
designadamente da sua política económica.
Não tenhamos dúvidas. A situação do desemprego é filha da
política económica do Governo. Ao contrário do que anunciava o programa do
Governo, o que temos não é uma aproximação "aos níveis de desenvolvimento dos
países mais avançados da União Europeia". De facto é verdade. A forma eficaz de
resolver o problema desemprego é uma política económica orientada para o crescimento
económico e o desenvolvimento.
Só que essa não é a política do Governo. A política do
Governo é trocar um maior crescimento económico por uma absurda submissão aos
critérios do défice, por uma diminuição brutal do investimento público que arrasta
consigo a diminuição do investimento privado, por uma diminuição dos
rendimentos dos trabalhadores, a quem cabe parte cada vez menor da riqueza
criada do país.
Se o Sr. Ministro afirma que só o crescimento económico
levará à diminuição do desemprego a conclusão é simples: se há aumento do
desemprego a responsabilidade tem de cair sobre a política económica do Governo.
O Governo não tem nenhuma perspectiva de diminuição séria
do desemprego porque sabe que a sua política não conduz ao isso mais ao contrário.
Sr. Presidente
Extraordinariamente o Governo respondeu há pouco ao
Deputado Agostinho Lopes que não tem simpatia pela precariedade. É
extraordinário que um Governo diga isto e ao mesmo tempo mantenha o Código de
Trabalho, faça aprovar uma lei que escancara o recurso ao trabalho temporário e
é cúmplice, pelo menos por passividade.
E anuncia mais. Fala já na "capacidade de adaptação das
empresas sem a qual crescimento e emprego serão seriamente ameaçados". É um
eufemismo para abrir caminho à destruição de direitos e à flexigurança que vai
fazendo o seu caminho no discurso do Governo. É a chantagem sobre os
trabalhadores com o cutelo do desemprego. É a famosa teoria patronal que quer
trocar direitos por emprego ou como ainda hoje se lê na comunicação social: "Vale a pena fazer agora alguns sacrifícios,
para manter o trabalho
Só há emprego se o despedimento for
à vontade do patrão
Trouxemos exemplos concretos da vida real que o Governo não
gostaria de ouvir: Quimonda, Delphi, Blaupunkt, comércio, TAP, rodoviários e
tantos outros. É a dura realidade da violação dos direitos da compressão dos
salários, do aumento da exploração.
Trouxemos a realidade dos baixos salários que o governo
queria erradicar do modelo de desenvolvimento português, mas que na prática
perpetua e alimenta.
Trouxemos também a realidade da imposição descarada de uma
política de imposição de limitações no direito à greve na administração pública
e em empresas tuteladas pelo Governo que querem definir serviços máximos em vez
de serviços mínimos. É o Governo enquanto Estado patrão que dá o mau exemplo no
desrespeito do sagrado direito à greve. E que incentiva o patronato a fazer o
mesmo.
Esta interpelação foi eficaz na
denúncia das políticas do Governo.
Por todo o país aumenta a contestação a esta política que
terá certamente um ponto alto na justa convocação da Greve Geral pela CGTP.
O país precisa de outra política. De outra política
económica, de outra política social. É isso que o país real exige. É isso que
continuaremos a defender. É preciso uma mudança de rumo que inverta a
destruição da nossa estrutura económica e do nosso aparelho produtivo, que
distribua justamente a riqueza e que garanta direitos aos trabalhadores.
Uma política que é o oposto da política de direita que o
Governo do PS está a seguir.