Destinatário: Ministra do Trabalho Solidariedade e Segurança Social
A situação que o país e o Mundo atravessam, com medidas excecionais para situações excecionais, não poderá servir de argumento dos patrões para o atropelo dos direitos e garantias dos trabalhadores. Não pode ser usado e instrumentalizado para, aproveitando legítimas inquietações, servir de pretexto para o agravamento da exploração e para o ataque aos direitos dos trabalhadores.
Os últimas semanas dão um perigoso sinal de até onde sectores patronais estão dispostos a ir espezinhando os direitos dos trabalhadores. Indiciando um percurso que a não ser travado lançará as relações laborais numa verdadeira “lei da selva”, tem-se assistido à multiplicação de atropelos de direitos e arbitrariedades.
O Grupo Parlamentar do PCP tem vindo a alertar, mesmo antes da situação de pandemia em que nos encontramos, que em vários Call Centers (CC) as regras de higiene e segurança não são cumpridas. Com a situação em que nos encontramos, os problemas dos trabalhadores estão a agravar-se.
De acordo com informação que chegou ao Grupo Parlamentar do PCP, a Armatis LC, uma multinacional com presença em diversos países, os testemunhos que nos têm chegado são gravíssimos.Se, por um lado, vários trabalhadores terão passado para o regime de teletrabalho, por outro ainda estão muitos outros a trabalhar na empresa e nada parece estar a ser feito para a situação ser alterada. Assim, apesar de em alguns dos locais de trabalho terem sido abertas mais salas para existir uma maior distância entre os trabalhadores, a concentração continua a ser grande, impedindo o cumprimento das normas de distância social emanadas da Direção Geral de Saúde (DGS).
São poucas as normas e recomendações da DGS que estarão a ser cumpridas e da informação transmitida ao Grupo Parlamentar do PCP persistem inúmeras situações de grave risco para a saúde destes trabalhadores:
- em diversas salas estão concentrados dezenas de trabalhadores (mesmo não contabilizando com todos os que estão fora por assistência a filhos, em teletrabalho, etc.), o que vai contra a recomendação da DGS;
- os postos de trabalho e equipamentos (headsets, computadores, teclados, ratos, etc.) são ocupados e partilhados por diferentes trabalhadores a cada turno, não havendo limpezas e higienização dos mesmo;
- não há gel desinfetante suficiente para quantidade dos trabalhadores, nos vários andares e salas de trabalho, em alguns casos já desde há vários dias;
- não há ventilação apropriada dos espaços.
A ganância destas empresas está a colocar em sério risco a segurança e saúde, não só destes trabalhadores, mas de muitos outros com quem se deslocam nos transportes, por exemplo, para além das suas próprias famílias. Com o esforço pedido a todos os portugueses neste momento, não é aceitável que sejam as grandes empresas multinacionais, com lucros de milhares e milhares de euros, as primeiras a não assegurarem o cumprimento das regras, a saúde dos seus trabalhadores e a prejudicarem o combate que travamos no nosso país.
A situação que o país enfrenta não poderá, também, ser argumento para que o Estado se demita das suas funções de fiscalização e de garantia do cumprimento e respeito pelos direitos dos trabalhadores.
Assim, ao abrigo das disposições constitucionais, legais e regimentais aplicáveis, solicito ao Governo que, através do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, sejam prestados os seguintes esclarecimentos:
- Tem o Governo conhecimento da situação acima descrita de desrespeito pelos direitos dos trabalhadores?
- Tem conhecimento de alguma ação inspetiva da Autoridade para as Condições de Trabalho? Se sim, quais as conclusões?
- Que medidas vai tomar o Governo para assegurar o cumprimento dos direitos dos trabalhadores, nomeadamente a garantia de todas as condições de saúde, higiene e segurança para o cumprimento das suas funções, incluindo o acesso a equipamentos de proteção individual, a higienização e desinfeção adequadas dos espaços e dos equipamentos?
- Que medidas vai o Governo tomar para assegurar a cada trabalhador equipamento próprio pessoal e intransmissível?