Intervenção de António Filipe na Assembleia de República

A importância das eleições europeias que se avizinham na construção do projeto europeu

Sr.ª Presidente,
Sr. Deputado António Rodrigues,
Houve um elemento revelador na sua intervenção, quando…
Este é particularmente revelador, como verão!
Esse elemento revelador manifestou-se, quando o Sr. Deputado recusou a ideia de fazer qualquer leitura nacional das eleições europeias. É muito revelador do que vos atormenta, ou seja, os senhores têm o justo receio de que os portugueses utilizem as eleições europeias, como é seu direito, para mostrar nas urnas aquilo que pensam da política do Governo desta coligação PSD/CDS-PP, que, aliás, se apresenta como tal às eleições europeias.
Portanto, nestas eleições europeias, o Governo vai ser julgado nas urnas pelos portugueses e os senhores sabem que os portugueses sabem disso. Daí a sua insistência em não haver uma leitura nacional e em apresentar aqui, na tribuna, uma preocupação com a abstenção e uma visão idílica da Europa e da União Europeia. Esta sua visão faz lembrar, um pouco, uma visão efetivamente idílica da Europa que vem de grandes pensadores, como Vítor Hugo, que acreditavam num continente europeu fraterno, em que os vários países convivessem em cooperação, em paz.
Mas, Sr. Deputado, o Sr. Deputado acha que a União Europeia que temos hoje é isso? O Sr. Deputado não acha que a tendência para a abstenção de muitos cidadãos — preocupação que, aliás, ali manifestou —, para o crescimento de forças políticas xenófobas, racistas, de extrema-direita, na Europa, assenta, em grande medida, no incumprimento de compromissos assumidos perante os eleitores por parte dos governos e dos partidos dominantes nos países da União Europeia?!
O Sr. Deputado não acha que a situação de crise para que muitos países europeus têm sido arrastados, incluindo o nosso, incluindo, de forma dramática, os países que estão sob resgate ou intervenção externa, a mando da troica ou daquilo que lhe quiserem chamar,…
Como estava a dizer, o Sr. Deputado não considera que a forma como estes países têm sido arrastados para a crise pelos governos que têm tido — e têm sido, todos eles, dominados pelos partidos dominantes na União Europeia, ou seja, os partidos socialistas e sociais-democratas, os partidos que integram o Partido Popular Europeu, onde o PSD e o CDS se integram — tem pesadíssimas responsabilidades no descrédito e no descontentamento que grassa por essa Europa fora?
Os Srs. Deputados acham que não é preciso mudar nada nesta Europa para que os cidadãos se possam, de alguma forma, reconciliar com a atividade política e com qualquer projeto de construção europeia, seja ele qual for?

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