Pergunta ao Governo N.º 2576/XII/1

Impactos ambientais da exploração de depósitos minerais de feldspato em plena Serra de Monchique (Algarve)

Impactos ambientais da exploração de depósitos minerais de feldspato em plena Serra de Monchique (Algarve)

No dia 23 de Março de 2011, a Direcção-Geral de Energia e Geologia fez publicar no Diário da
República, 2ª Série, n.º 58, o Aviso n.º 7325/2011, relativo ao pedido da FELMICA – Minerais
Industriais S.A. de atribuição de direitos de prospeção e pesquisa de depósitos minerais de
feldspato, na zona denominada “Corte Grande”, com área de 1,6 km2, localizada na Serra de
Monchique.
Posteriormente, no dia 9 de Agosto de 2011, a Direcção-Geral de Energia e Geologia fez
publicar no Diário da República, 2ª Série, n.º 152, o Aviso n.º 15635/2011, relativo ao pedido da
SIFUCEL – Sílicas S.A. de atribuição de direitos de prospeção e pesquisa de depósitos minerais
de feldspato, na zona denominada “Carapitotas”, com área de 1,0 km2, localizada também na
Serra de Monchique.
Em resposta a uma pergunta do Grupo Parlamentar do PCP (n.º 632/XII/1ª, de 15 de Setembro
de 2011), o Governo, através do Ministério da Economia e do Emprego, informou, no dia 13 de
outubro de 2011, que ainda não tinha sido tomada qualquer decisão relativamente à atribuição
de direitos de prospeção e pesquisa de depósitos minerais de feldspato na Serra de Monchique,
informação confirmada, posteriormente, no dia 21 de março de 2012, na resposta a uma
pergunta sobre o mesmo assunto de outro grupo parlamentar.
A questão dos impactos ambientais da exploração de feldspato em plena Serra de Monchique
foi por nós levantada em duas audições à Sr.ª Ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do
Ordenamento do Território, realizadas no dia 27 de Setembro de 2011 (audição da Comissão do
Ambiente, Ordenamento do Território e Poder Local) e 18 de Novembro de 2011 (audição
conjunta da Comissão do Ambiente, Ordenamento do Território e Poder Local e da Comissão de
Orçamento, Finanças e Administração Pública). Em ambas as ocasiões, a resposta foi vaga,
sendo a questão dos impactos ambientais remetida para uma análise futura a realizar pelo
Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território.
Estamos plenamente conscientes que as empresas FELMICA – Minerais Industriais S.A.e
SIFUCEL – Sílicas S.A.apenas pediram, nesta fase, a atribuição de direitos de prospeção e
pesquisa de feldspato. Contudo, não o fizeram, com certeza, apenas para satisfazerem uma
curiosidade puramente académica (avaliação da dimensão e qualidade dos recursos de
feldspato), mas, obviamente, para passarem, numa segunda fase, à sua exploração.
Assim, o Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território não
pode continuar a alegar que apenas está em causa a prospeção e pesquisa de feldspato; terá,
obrigatoriamente, de se pronunciar sobre a questão central: a possibilidade de se proceder à
exploração de depósitos minerais de feldspato em plena Serra de Monchique, numa área
classificadas no âmbito da Rede Natura 2000, integrando a Zona de Proteção Especial de
Monchique, e pertencendo ainda à Reserva Ecologia Nacional, numa área que alberga uma
diversidade biológica especial e por vezes única, que possui ainda uma grande riqueza florística,
tendo o ecossistema florestal sido identificado como uma das hot-spots forests das florestas
naturais europeias, num concelho em que existe um total aproximado de 2.530 km de linhas de
água, situando-se aí as cabeceiras da ribeira de Aljezur, Seixe, Bensafrim, Torre, Farelo, Boina,
Barranco dos Toiros e de Monchique.
A exploração de feldspato em plena Serra de Monchique, com minas a céu aberto a rasgarem
profundamente as vertentes sul da Picota, não deixaria de ter profundos e negativos impactos
no ecossistema, na fauna e flora, nos recursos hídricos, na qualidade do ar e na paisagem, pelo
que o Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território não pode
continuar a adiar uma tomada de posição pública sobre esta matéria.
Pelo exposto e com base nos termos regimentais aplicáveis, vimos por este meio perguntar ao
Governo, através do Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do
Território, o seguinte:
1.Tem o Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território
acompanhado, junto do Ministério da Economia e do Emprego, o processo de atribuição de
direitos de prospeção e pesquisa de depósitos minerais de feldspato, nas zonas
denominadas “Corte Grande” e “Carapitotas, localizadas na Serra de Monchique? Além do
parecer emitido pelo Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, no dia 14 de
Agosto, o Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, ou
algum dos seus organismos, emitiu mais algum parecer sobre a prospeção, pesquisa e/ou
exploração de feldspato na Serra de Monchique?
2.Tendo em conta que a exploração de feldspato na Serra de Monchique não deixaria de ter
profundos impactos negativos numaáreade tão elevado valor e sensibilidade
ecológicos,considera a Sr.ª Ministra aceitável que o Ministério da Agricultura, do Mar, do
Ambiente e do Ordenamento do Território mantenha, durante meses, um silêncio de chumbo
sobre este assunto?
3.Quando tenciona a Sr.ª Ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do
Território tomar uma posição pública sobre a exploração de feldspato na Serra de
Monchique, para além das vagas declarações proferidas nas audições realizadas na
Assembleia da República nos dias 27 de Setembro e 18 de Novembro de 2011?

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