Homenagem a Arnaldo Mesquita na Cooperativa Árvore – Porto,
Estimados amigos,
Um conhecido poeta escreveu um dia que confessava ter vivido. Arnaldo Mesquita é um desses homens com uma vida e um percurso fascinantes.
Dolorosos por vezes, carregados de incertezas e inquietações, mas com um rumo alicerçado nas suas convicções democráticas e revolucionárias, um camarada que muito antes de Abril deu a sua inestimável contribuição para que esse Abril fosse possível.
Nascido em 1930 (está portanto a caminho da bela idade de 80 anos) na freguesia de Torno, concelho de Lousada no Distrito do Porto, sempre se manteve ligado à sua terra, onde desenvolveu uma intensa actividade cívica, cultural e política que o tornaram numa incontornável referência de coerência democrática, respeitado mesmo pelos seus adversários políticos.
Licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra em 1954. Advogado de profissão destacou-se pela competência com que defendeu numerosos presos políticos, a coragem e combatividade com que enfrentou a PIDE e os seus “Tribunais Plenários”, a solicitude e generosidade que sempre dispensou a quantos procuraram o seu conselho político e jurídico experiente e a sua ajuda desinteressada (particularmente jovens perseguidos pelo fascismo), a intensa actividade que desenvolveu de solidariedade para com todas as vítimas da repressão, nomeadamente para erguer com democratas das mais variadas tendências a Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos que tão importante papel desempenhou nos últimos anos da ditadura.
Aderiu ao PCP com apenas 19 anos de idade, na sequência da sua participação no MUD Juvenil e da batalha em torno da candidatura do General Norton de Matos às eleições-burla de 1949.
Perseguido pela sua actividade revolucionária foi preso pela PIDE várias vezes (três, a primeira em 1955) e, violentamente torturado, teve sempre um comportamento digno e firme perante a polícia, defendendo o Partido e os seus segredos. Como milhares e milhares de outros comunistas e antifascistas, conheceu a “tortura do sono” e a “estátua”, monstruosidades que apesar de há muito condenadas pela consciência democrática, regressaram aos EUA pelas mãos sujas de sangue da administração Bush, mas que não podemos permitir que regressem ao nosso país. E para isso, 35 anos após a nossa bela revolução libertadora de Abril que tanto deve também à empenhada militância do camarada Arnaldo Mesquita, é necessário dar o mais intransigente combate às tentativas de branquear o fascismo e seus principais dignitários, e de reescrever a História da revolução portuguesa e do século XX apagando dela as grandes conquistas e avanços libertadores que a marcam e o papel nela desempenhado pela luta da classe operária e das massas populares e pelo PCP.
Como revolucionário comunista, como militante antifascista, como advogado democrata, Arnaldo Mesquita esteve presente em todas as grandes batalhas do seu/nosso tempo, trate-se das grandes batalhas da Oposição Democrática como a campanha de Arlindo Vicente e Humberto Delgado e as eleições-burla de 1969 e 1973, do movimento da paz e da luta contra a NATO e a participação do Portugal fascista na sua fundação, ou da luta pela Amnistia e de solidariedade com os presos políticos. Nesta sua intensa actividade que só problemas de saúde limitaram, o camarada Arnaldo Mesquita deu provas de grande firmeza política e ideológica e de confiança no seu Partido de sempre tendo desempenhado tarefas de uma grande responsabilidade e grande risco, como a sua participação no V Congresso do Partido em 1957.
A sua primeira causa diz muito do seu relevante papel como advogado antifascista: o julgamento de Rui Luís Gomes, Virgínia Moura, Lobão Vital, José Morgado e Albertino Macedo, democratas destacados que com ele partilharam importantes combates políticos, e entre os quais queria lembrar o camarada Hernâni Silva, que durante muito tempo assegurou a sua ligação ao Partido nos duros tempos da clandestinidade.
Como intelectual o camarada Arnaldo Mesquita publicou vários livros de poemas que têm a forte e inspirada marca dos valores humanistas que nortearam a sua vida e do ideal comunista que animou e anima a sua personalidade de lutador.
Não é possível esquecer nestas breves palavras uma referência de grande admiração e apreço para com a camarada Alcina Gomes a companheira de sempre do camarada Arnaldo Mesquita.
Nestas singelas palavras eu quis transmitir quanto apreço e admiração sente e tem o nosso colectivo partidário pelo camarada Arnaldo Mesquita.
Valeu e vale a pena a tua luta, o teu ideal, o teu/nosso projecto de transformação social e da busca de uma vida melhor, camarada!