Intervenção de João Frazão, Membro da Comissão Política do Comité Central do PCP

Funeral de Daniel Cabrita

Caros camaradas, 

Caros amigos, 

despedimo-nos hoje de um dos nossos melhores. Acompanhamos neste último momento o Daniel Cabrita e queremos transmitir aqui, em nome da Direcção do PCP, os mais sentidos pêsames pelo seu falecimento à sua família e, em particular, à sua filha Catarina e à sua neta Alice, e a todos os amigos e camaradas que com ele privaram.

Conhecemos todos o percurso deste Barreirense, a quem a Câmara Municipal deste concelho atribuiu, em 1994, o justo galardão “Barreiro Reconhecido”, salientando as qualidades humanas e o contributo para a liberdade e a democracia no nosso País.

Um percurso de entrega do representante dos trabalhadores que enfrentou os horrores do Fascismo, a limitação de direitos, por querer participar e defender os seus pares, a prisão e a tortura, exemplo concreto que refuta as teses de que o que havia em Portugal, antes da revolução libertadora do 25 de Abril, era apenas uma ditadura autoritária. Era isso, mas era muito mais, era fascismo que nutria um ódio de classe pelos trabalhadores e que, por isso prendia, torturava, matava. Realidade que continuava a denunciar como activista da URAP.

O percurso do dirigente associativo que buscava, na sua intervenção, a mobilização de todos e a unidade de amplas massas populares, sabendo que a participação gera a consciência social e a consciência política indispensáveis para enfrentar o regime.

O percurso do trabalhador lutador anti-fascista que é um exemplo maior do papel que a classe operária e os trabalhadores tiveram na luta contra o fascismo, e, em particular, nos seus últimos anos, dando um contributo insubstituível para a crise geral do regime que conduziu à sua derrota.

O percurso do organizador que mostra como a força colectiva organizada dos trabalhadores é muito mais, é muito maior que a soma das forças individuais de cada um. A intervenção nos sindicatos fascistas e a disputa das suas direcções, no caso do Daniel Cabrita do Sindicato dos Bancários, que permitiu a criação da Intersindical, de que foi um dos fundadores, é disso lição incontornável.

O percurso do construtor da democracia, a partir do próprio centro do poder, nos Governos Provisórios, Governos revolucionários, acompanhando a luta e respondendo-lhe com acção política e institucional, para consagrar no edifício jurídico português os direitos conquistados nas fábricas, nas empresas e serviços, e para responder à ofensiva reaccionária, sendo parte integrante desse processo maior que foi a nacionalização da banca, de que era trabalhador, e de que, por estes dias, comemoramos o 50º aniversário.

O percurso do sindicalista em tempos de acção contra-revolucionária, dinamizando a intervenção e a luta dos trabalhadores em defesa da democracia nascente e contribuindo para o acerto das decisões e da iniciativa da grande central dos trabalhadores portugueses, a CGTP-IN.

O percurso do comunista, o militante empenhado mas discreto, que interveio, tendo sempre presente a orientação do seu Partido, que aliás representou como eleito autárquico neste concelho, e tendo como norte o objectivo da construção da sociedade socialista que almejava.

Mas também o percurso do homem, daquele que procurando uma vida melhor para o seu próximo, sentiu as consequências na própria pele e na sua família, do Pai que, mesmo nas duras condições, sabia que a contribuição para o bem de todos era indispensável para o bem estar dos seus.

Aqui estamos, enaltecendo as características e princípios de resistência e luta que o acompanharam ao longo de toda a sua vida.

Aqui estamos, para confirmar perante esse seu percurso que não desistimos da sua luta e continuaremos a empenhar-nos no combate às injustiças e desigualdades, pelos direitos e aspirações dos trabalhadores e do povo, no combate à política de direita, por uma vida melhor para todos.

Como sublinhou a Comissão Concelhia do Barreiro do PCP, na nota com que assinala a sua morte, “o seu exemplo de dedicação incansável ao serviço dos trabalhadores e do Povo dá-nos força para as muitas lutas do presente, para o combate aos projectos e forças reaccionários, para a construção da alternativa política e para a defesa dos Valores de Abril.

Até sempre camarada Daniel.

Até amanhã, camarada.

 

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