Intervenção de António Filipe na Assembleia de República

A estabilidade financeira, a recuperação do acesso ao mercado e o desemprego

Sr.ª Presidente,
Sr. Deputado Filipe Lobo d’Ávila,
Vem aqui repetir, mais uma vez, aquele discurso recorrente que ouvimos da parte dos partidos da maioria e que tem, obviamente, como única motivação o facto de as eleições estarem à porta e de os senhores procurarem repetir até à exaustão, repetir mil vezes, na esperança de que a vossa repetição torne verdade aquilo que manifestamente não o é.
Nós bem percebemos que os senhores possam utilizar algumas afirmações do Sr. Draghi, da Sr.ª Lagarde ou de outros senhores do FMI, que procuram, afinal de contas, o mesmo que os senhores procuram, que é justificar estas políticas de austeridade que impuseram ao longo dos últimos anos. Ninguém estava à espera que as instituições da troica ou os partidos da maioria viessem reconhecer aquilo que os portugueses reconhecem, que é dizer: «Bem, afinal, as políticas que impusemos ao País fracassaram e o País está bem pior do que estava antes da imposição destas medidas de austeridade».
Não estávamos à espera que os senhores dissessem isso ou que o Sr. Draghi ou a Sr.ª Lagarde viessem dizer isso e, portanto, os senhores repetem o mesmo discurso.
Sr. Deputado Filipe Lobo d’Ávila, aquilo que disse aqui vá dizê-lo lá fora aos portugueses e logo verá as respostas que ouve.
Vá dizer aos portugueses que perderam o seu posto de trabalho que o País está melhor agora do que estava há uns anos ou vá dizer aos jovens que não encontraram emprego em Portugal e que tiveram de emigrar que regressem porque o País está melhor e logo verá o que esses jovens têm para lhe dizer.
Relativamente às instituições, os senhores invocam os relatórios e as afirmações feitos nos dias pares e ignoram os que são feitos nos dias ímpares. Porque, também vindas dessas instituições, não faltam afirmações de que Portugal está a abrandar o ritmo das reformas e que o que é preciso é restringir ainda mais a economia portuguesa e os direitos dos portugueses, flexibilizar ainda mais as relações laborais, impor a vigilância reforçada sobre a economia portuguesa, o que significa a imposição de mais austeridade.
Obviamente que temos relatórios para tudo.
Mas o que é um facto é que os senhores fizeram com que o País, económica e socialmente, caísse pelas escadas abaixo e agora, que tentam reequilibrar e subir um degrau, vêm dizer: «Isto agora está melhor do que antes de nós cairmos»!
Evidentemente que o País está muito pior, porque as pessoas não existem para satisfazer os mercados. Não é possível, não é aceitável que se imponha uma política de empobrecimento, de redução do poder de compra, de destruição da vida das pessoas para satisfazer o mercado, como se o mercado fosse uma divindade.
É com essa lógica que é preciso acabar de uma vez por todas. Os mercados foram criados pelas pessoas, não foram as pessoas que foram criadas para servir os mercados.

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