Em articulação com a Comissão Política e o Secretariado do CC, a Direcção da Organização Regional do Porto anunciou ontem que Honório Novo (deputado à AR e anteriormente deputado ao Parlamento Europeu) será o cabeça de lista da CDU no círculo do Porto, lugar e tarefa que, como é sabido, há dois anos foram confiados a João Amaral, no quadro da mesma soberania de decisão que agora foi exercida e que, então, também significou inevitavelmente a não escolha de outros membros do PCP.
Entretanto, deturpações e calúnias em curso justificam que publicamente se enunciem as razões porque João Amaral, com quem esta questão foi naturalmente abordada, não integrará as listas de candidatos do PCP nas próximas eleições legislativas.
Por um lado, considera-se que não seria admissível que João Amaral desenvolvesse uma campanha eleitoral na base de juízos deturpadores das posições do Partido que ultimamente tem sustentado em termos de assinalável impacto público, que - sublinhe-se - incidem sobre matérias de séria repercussão pré-eleitoral e que aliás poderão ser utilizadas contra o PCP pelo PS.
Por outro lado, do ponto de vista do PCP, não seria uma atitude política razoável que o PCP exigisse que um candidato desenvolvesse uma pré-campanha e uma campanha eleitoral com orientações em muitos e importantes pontos flagrantemente opostas a juízos sobre o PCP e a orientações como as que João Amaral vem defendendo publicamente nas últimas semanas e que propiciariam uma fácil exploração política por parte de outras forças concorrentes.
De facto, não seria aceitável para a maioria dos militantes do PCP nem dignificante para a vida política que fosse candidato pelo PCP um membro do Partido que, entre outras graves deturpações, declarou recentemente que o seu Partido faz "do PS o seu inimigo principal", que o seu Partido é que tem empurrado o PS para a direita, que a maioria do Secretariado do PCP acha que "o PS é pior que o PSD" e que insinuou haver o risco de o PCP se transformar em "muleta do PSD". E sublinha-se a evidência de que estas e outras lamentáveis afirmações de João Amaral exporiam uma sua candidatura e o PCP a enormes fragilidades face aos candidatos de outras forças e designadamente do PS.
Esclarece-se ainda que a decisão tomada representa tão só o exercício pelo PCP do direito que assiste a qualquer partido de apresentar ao sufrágio candidatos em condições de defenderem convictamente as suas orientações e propostas.
O PCP sublinha que, nesta situação, não estão em causa nem opiniões divergentes com a orientação definida pelo PCP quando expressas no quadro do regular funcionamento e da vida democrática interna do Partido nem sequer todas as divergências expressas fora desse quadro, mas sim concretas atitudes e declarações públicas de João Amaral que representam uma grave deturpação da orientação e intervenção do PCP e se traduzem objectivamente num prejuízo para o esforço e trabalho do colectivo partidário de que faz parte. E que assim são responsáveis pela não manutenção como candidato às eleições legislativas de um membro do Partido que, ao longo de muitos anos, tem dado uma importante contribuição para a acção do PCP e para a sua intervenção parlamentar e a quem, mesmo depois do XVI Congresso onde exprimiu publicamente as suas divergências, continuaram a ser confiadas elevadas responsabilidades.