Às manifestações contra a guerra que há oito dias mobilizaram milhões em todo o mundo seguiram-se vários equívocos que importa registar.
Durão Barroso, por exemplo, “atirou-se” aos manifestantes porque estão a apoiar Saddam Hussein e o seu regime. Provas supremas para esta tese? Pois, a deslocação de euro deputados e sindicalistas portugueses a Bagdad, umas quantas bandeiras iraquianas que apareceram na “manif”, e ainda – sacrilégio supremo – a ausência de críticas ao ditador iraquiano.
Esquece o Primeiro Ministro que a Bagdad se deslocaram representantes da Comissão Europeia, da Presidência Grega da União Europeia, delegações parlamentares de origens diversas, altos dignitários de várias religiões, incluindo representantes de João Paulo II. E, ao que consta e se sabe de fonte segura, nenhum destes “viajantes” defendeu ou defende o regime iraquiano…
Esquece o Primeiro Ministro que os manifestantes sabem bem a diferença que existe entre um povo e o regime que o oprime, conhecem Saddam desde os tempos em que matava curdos e comunistas aos milhares, em que fazia parte do “eixo do bem” da administração americana e se albergava sob o manto do silêncio dos partidos que hoje, no Governo português, fazem rufar os tambores da guerra.
Mas há uma coisa em que Barroso não se engana: os manifestantes criticaram (muito e bem) o seu Governo. Porque não levantou um dedo em defesa da Paz; porque se junta a Aznar e Blair para escrever “cartas de amor” a Bush (numa acção que nos “corredores europeus” passou a ser conhecida como a “traição dos cinco”); porque rasteja da forma mais servil ante as imposições americanas e continua a disponibilizar-se para permitir o uso do solo português para aventuras guerreiras; porque, enfim, mostra bem quanto é favorável à Guerra, quanto se opõe à Paz, quanto é insensível perante a morte de milhares de crianças, de homens e mulheres inocentes!
Mas há mais, há outros equívocos.
Há também aqueles que exprimem o receio por eventuais represálias financeiras que podem vir a atingir Portugal. É que, dizem, a Alemanha pode “vir a cobrar” pela hostilidade com que Portugal tratou as suas posições “menos guerreiras”…
Para alguns, argumentos deste tipo justificariam uma atitude menos pró americana e mais favorável a uma “guerra avalizada pelo Conselho de Segurança”. Assim a modos que Portugal deveria trocar sangue por fundos comunitários em vez de estar a trocar sangue por petróleo…
Mas será que uns e outros julgam que estamos cegos? Será que, uns e outros, não sabem que já percebemos que o que está em jogo não são os direitos humanos (e então os outros?), não são as armas de destruição maciça (e então os outros?), mas pura e simplesmente o controlo mundial de todas as fontes de energia!