Debate da moção de censura em defesa das gerações sacrificadas
(moção de censura n.º 2/XI/2.ª)
Sr. Presidente,
Sr. Primeiro-Ministro,
O senhor afirma-se um defensor do Estado social. É preciso, portanto, perguntar-lhe que Estado social é o seu num País em que a pobreza aumenta a olhos vistos!
Que Estado social é o seu quando mais de meio milhão de portugueses não têm médico de família, quando o seu Governo se propõe encerrar as unidades de saúde que tenham menos de 1500 utentes e quando corta, de forma drástica, nas comparticipações para transporte de doentes!
Que Estado social é este que o senhor defende, Sr. Primeiro-Ministro? Que Estado social é o seu quando 500 000 famílias perderam o abono de família, Sr. Primeiro-Ministro, por decisão do seu Governo?!
Que Estado social é que o Sr. Primeiro-Ministro defende quando o seu Governo pretende poupar 49 milhões de euros, à custa do despedimento de dezenas de milhares de professores?! É este o Estado social que defende, quando, depois de ter encerrado mais de 3000 escolas, na anterior Legislatura, o seu Governo se propõe, ainda, encerrar cerca de mais 700 escolas nos próximos tempos?!
Sr. Primeiro-Ministro, que Estado social é que o senhor defende quando aponta para um programa de privatizações que prevê privatizar empresas como os CTT, as linhas suburbanas da CP, a EMEF, a TAP, a ANA, os Estaleiros Navais de Viana do Castelo?! Isto é defender o Estado social, Sr. Primeiro-Ministro?
Que Estado social é o seu quando as famílias portuguesas estão asfixiadas pelos cortes salariais, pelos baixos salários, pelo sobreendividamento, pelo aumento do IVA, pelo aumento dos transportes, pelo aumento dos bens essenciais, quando muitas famílias portuguesas estão em seriíssimas dificuldades para satisfazer os seus encargos, para prover à sua subsistência?!
Que Estado social é o seu, Sr. Primeiro-Ministro quando o nosso País está confrontado com mais de 700 000 desempregados, quando dezenas de milhares de jovens licenciados não têm emprego nem perspectivas de vir a ter emprego no curto prazo, quando temos mais de 1,2 milhões de trabalhadores precários, quando há milhares de estudantes que vêem reduzido o seu apoio social?! Sr. Primeiro-Ministro, é este o Estado social que o senhor defende?
A quem é que o Sr. Primeiro-Ministro pede sacrifícios na situação de crise em que estamos? Não é aos grandes accionistas, não é aos especuladores, o Sr. Primeiro-Ministro pede sacrifícios aos jovens, aos trabalhadores, aos reformados. É a estes que o Sr. Primeiro-Ministro pede sacrifícios. Pergunto-lhe, Sr. Primeiro-Ministro: qual é a perspectiva que o seu Governo apresenta a estes jovens, a estes trabalhadores, aos reformados, no nosso País? A perspectiva é a de lhes dizer que, se for preciso impor mais sacrifícios, o Governo cá está para os impor. — é esta a perspectiva que o seu Governo apresenta a estes portugueses, e diz-se defensor do Estado social.
Digo-lhe, Sr. Primeiro-Ministro, que, com amigos como o senhor, o Estado social não precisa de inimigos para ser destruído. Mas também lhe digo que, se pensa que os portugueses se resignam perante estas políticas, o Sr. Primeiro-Ministro está muito bem enganado.