Enquanto no Iraque prossegue a ocupação pelo exército americano e seus aliados, contra quem o povo iraquiano luta de forma comparável à do povo da Palestina contra os ocupantes israelitas, o mundo viveu os últimos dias na esperança que Bush perdesse as eleições nos EUA.
Certamente nunca umas eleições foram tão acompanhadas pela comunicação social, e pelas populações mais diversas, como estas eleições americanas. E se, por um lado, isso se deve ao crescente poder americano no mundo, por outro lado, a maioria da população, no plano mundial, gostaria de ver Bush derrotado, sobretudo por causa da guerra no Iraque e não tanto por se identificar com o democrata Kerry.
É que nunca um Presidente malbaratou tão rapidamente o caudal de emoção afectiva e de simpatia para com o povo americano, após os trágicos acontecimentos de 11 de Setembro de 2001, como Bush e o seu governo com a teoria da “guerra preventiva”, e, acima de tudo, com a ilegal e injusta guerra no Iraque, não olhando a meios para atingir os seus fins: o controlo do petróleo e das riquezas desse país, a pretexto da guerra contra o terrorismo, da existência de armas de destruição massiva e do derrube de um ditador.
Mesmo quando ainda havia quem acreditasse na tese da existência de armas de destruição massiva que Saddam Hussein teria, assistimos, em Fevereiro e Março de 2003, às mais grandiosas jornadas de luta contra a guerra, envolvendo dezenas de milhões de pessoas, um pouco por todo o mundo.
Cedo ficou claro que a mentira despudorada servira apenas para dar cobertura a uma nova fase do colonialismo, contra o qual o povo continua a lutar. Todos sabemos que nem o mais moderno e poderoso exército do mundo consegue destruir a capacidade de luta de um povo determinado a viver de forma autónoma e independente. Julgava-se que o imperialismo americano tinha aprendido a lição com a derrota no Vietname. Mas não.
Agora, todos os dias a comunicação social noticia mortos ou feridos do exército ocupante, o que, é evidente, incomoda a população americana que ali vê morrer os seus filhos, sem sentir as glórias prometidas com o derrube do ditador. Há muito que Saddam está preso. Mas a luta do povo continua. Por que quer escolher os seus dirigentes, e não ser governados por quem os americanos decidem. Por que quer que as tropas ocupantes saiam do seu Iraque. Porque querem ser donos do seu destino e viver um futuro de paz. Calcula-se que esta guerra já tenha custado cerca de 100 mil mortos iraquianos. Mas os bombardeamentos americanos continuam. As condições sanitárias e alimentares do povo iraquiano são desastrosas. O que significa que ainda se está longe de saber quantos milhares mais poderão morrer antes de acabar esta tragédia. Tal como dizíamos no início do ano passado: Sabe-se como uma guerra começa. Não se sabe como acaba. Os senhores da guerra, e todos os que os apoiaram, julgavam que bastava a exibição do poder bélico, a propaganda da guerra contra o ditador, a difusão da dita democracia americana, para chegar, ver e vencer. Enganaram-se. O povo iraquiano depressa compreendeu que a dita democracia do invasor americano usava processos e métodos iguais ou piores do que os do ditador. E que a solução passa pelo fim da ocupação pelo exército invasor.
Daí, a importância das eleições americanas. São a réstia de esperança dos povos do mundo no fim rápido da guerra. No Iraque e na Palestina. A esperança numa forma diferente de relacionamento com o mundo. Sem usar o poder das armas.
Enquanto escrevo, as eleições decorrem nos EUA. Espero que Bush perca. Mesmo não tendo ilusões sobre Kerry, o mais importante é a derrota dos senhores da guerra. Com isso, abre-se uma fresta na janela da esperança, em busca de uma paz justa para a Palestina, o Iraque e o Afeganistão. É na busca desse arco-íris de esperança, no meio das tempestades que têm assolado o mundo, que, hoje, milhões de pessoas esperam os resultados das eleições americanas. Mesmo que, como todos os arco-íris, seja fugaz.