Comunicado do Gabinete de Imprensa dos Deputados do PCP ao PE

Deputados do PCP defendem fim do programa da troika

Deputados do PCP defendem fim do programa da troika

No âmbito da discussão sobre o “Relatório de investigação sobre o papel e as operações da troika nos países do programa da zona Euro”, os deputados do PCP no Parlamento Europeu, Inês Zuber e João Ferreira, apresentaram hoje um conjunto de propostas de alteração ao relatório de que é responsável a Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários.

Por um lado as alterações apresentadas desmistificam os pretextos utilizados pelo Governo da altura (PS) para a abertura das portas à ingerência e a uma agressão externa da troika (BCE, CE e FMI), manobra de que foram igualmente cúmplices os partidos da actual maioria no Governo (PSD/CDS-PP), por outro sublinham as responsabilidades da União Europeia na situação económica a que o país chegou, nomeadamente na destruição dos sectores produtivos, no crescimento do défice e da dívida pública, bem como a sua cumplicidade na especulação e na agiotagem da Banca sobre a dívida pública Portuguesa.

Inês Zuber e João Ferreira, denunciam a actual situação Portuguesa e a sua evolução económica e social em consequência das politicas decorrentes do programa da troika, sendo o “combate ao défice”, “à divida pública”, a ”falta de competitividade da economia Nacional”, não mais que falsos pretextos para a concretização de um brutal ataque aos direitos dos trabalhadores, aos salários e pensões, aos serviços públicos e a destruição da economia nacional.

Os deputados do PCP propuseram ao Parlamento Europeu o fim imediato do Memorando de entendimento com Portugal e a dissolução da troika, o reconhecimento da insustentabilidade da dívida pública Portuguesa, o que prossupõe o inicio imediato de um processo de renegociação da dívida pública portuguesa nos seus montantes, prazos, juros e condições de pagamento adequando-as às necessidades económicas e sociais e de desenvolvimento económico e social da população portuguesa.

Defenderam o reforço do Orçamento da União Europeia, tendo em vista a criação de um programa comunitário para os países com memorando de entendimento que dê prioridade á solução dos problemas sociais e à defesa, valorização e promoção dos recursos nacionais de cada um dos países afectados e da sua capacidade produtiva, nomeadamente nos sectores da agricultura, pescas e indústria.

Por último os deputados do PCP no PE, defenderam a reversibilidade dos acordos e tratados que regem a integração comunitária e o ajustamento do estatuto de cada país à vontade do seu povo e à sua real situação, devendo ser admitidas as necessárias cláusulas de excepção para esses Estados, tendo em conta que o fim imediato continua a não garantir o direito inalienável do povo Português ao seu desenvolvimento.

Considerandos:

Considerando que a despesa pública de Portugal cresceu de 42% do PIB em 2000, passando para 51% em 2010 devido à crise, por via dos estímulos à economia cuja orientação foi definida pela UE; considerando que em 2011 a despesa de protecção social era de 26,5% do PIB face a 29,1% na média da UE-28; considerando que em 2007, ou seja antes da crise internacional, o défice público era de 3,1% e que a dívida pública era de 68,3%, valores próximos dos valores impostos pelas regras do tratado de Maastricht (e próximos dos verificados em países como a Alemanha);

considerando que a dívida pública portuguesa quase duplicou desde 2007; considerando que a dívida pública portuguesa disparou com o Memorando de Entendimento, tendo em 2011 e 2012 crescido 25.300 milhões € por ano, ou seja, a um ritmo 6,4 vezes superior ao verificado entre 2001 e 2004, e 2,7 vezes superior ao registado entre 2005 e 2010; considerando que em Agosto de 2013, segundo o Banco de Portugal, a dívida das Administrações Públicas atingiu 254.638 milhões € (155,2% do PIB) e a dívida pública, segundo os critérios de Maastricht, que não inclui a totalidade da divida, alcançou 214.880 milhões € (131,4% do PIB), ou seja um valor nunca antes atingido;

considerando que segundo estudos efectuados a redução da dívida pública portuguesa para valores próximos de 60% do PIB, como está disposto no chamado tratado orçamental, só seria possível se se verificassem simultaneamente, ao longo dos próximos 20 anos, duas condições: crescimento económico significativo, na ordem dos 4% do PIB nominal e ainda um saldo primário positivo da ordem dos 3,5%;

considerando a falsa autonomia do Banco Central Europeu e uma política monetária em que prevalece a estabilidade de preços em detrimento do desenvolvimento de cada país para a valorização dos salários e rendimentos; considerando que o Banco Central Europeu não empresta aos Estados, emprestando apenas à banca a taxas de juro de menos de 1%; considerando que ao mesmo tempo é permitido à banca impor taxas de juros agiotas nos seus empréstimos, designadamente aos Estados; considerando que a manutenção da valorização excessiva do euro apenas defende os interesses dos países de economias mais fortes, impossibilitando a recuperação de países de economias frágeis;

considerando que o quadro financeiro comunitário para o período de 2007 a 2013 (como o actual: 2014-2020) ficou muito longe de corresponder às necessidades de colmatar os impactos assimétricos crescentes do mercado único da UE e de outras políticas comuns, acentuando as desigualdades entre países e entre camadas sociais;

considerando que as reformas da Política Agrícola Comum e da Política Comum de Pescas acentuaram o caminho de liberalização da agricultura e a degradação do sector das pescas, deixando em ainda maiores dificuldades os pequenos e médios agricultores e a agricultura familiar, assim como as comunidades piscatórias;

considerando que a adesão de países como Portugal à UE, de economias frágeis, tendo que fazer face à concorrência relativamente a economias com clara vantagem competitiva, conduziu a processos de desindustrialização (quando a sua indústria estava fragilizada relativamente às suas necessidades); considerando que a par de um processo de desindustrialização se acentuou a orientação para a destruição da capacidade produtiva na agricultura e pescas (PAC e PCP);

considerando que o Memorando de Entendimento com Portugal contribuiu para a redução brutal dos custos unitários do trabalho (com uma quebra real no valor dos salários próxima dos 15% neste período) e um volumoso programa de privatizações, ambos concorrendo para uma desigual redistribuição dos rendimentos nacionais em favor do capital e em desfavor do trabalho e para uma ainda maior concentração e centralização de capital;

considerando que a escalada das taxas de juro sobre a dívida pública portuguesa teve a cumplicidade activa da União Europeia que ficou a assistir sem intervir quando no actual contexto político-institucional poderia ter-lhe posto fim, como o demonstrou a acção do BCE em outros casos;

considerando que as fragilidades da economia portuguesa, agravadas por sucessivas políticas apoiadas pela UE, nomeadamente os chamados PECs (a partir de 2010), conduziram e um efeito recessivo e à espiral de agravamento das taxas de juro, à chantagem e à extorsão pelos bancos e investidores em dívida soberana;

considerando que a aplicação do Memorando de Entendimento agravou de forma exponencial os indicadores económicos portugueses, provocando a queda abrupta do PIB e do investimento público que recuou para níveis da década 80, e também do consumo público e privado; considerando que o consumo das famílias diminuiu bastante, que diminuiu a produção agrícola, industrial e de energia, bem como o comércio; considerando que nos últimos 2 anos o emprego total caiu 8,1% e foram destruídos 400 mil empregos;

considerando o sofrimento que está a ser imposto ao povo português expresso no agravamento da pobreza, do desemprego, da miséria, do colapso de vários serviços públicos e também da emigração, contribuindo para que nos últimos dois anos mais de 220 mil portugueses tivessem sido obrigados a emigrar saindo do país;

considerando que o Memorando de Entendimento com Portugal visa atacar os direitos dos trabalhadores, os seus salários e pensões, a destruição dos serviços públicos e os despedimentos neste sector; considerando os níveis elevadíssimos de desemprego, particularmente dos jovens, a falência de milhares de PME's; considerando que a degradação das condições sociais e o aumento da exploração dos trabalhadores contrasta com o aumento do grupo de milionários e das suas fortunas em Portugal desde o início da vigência do Memorando de Entendimento.

Pontos:

Considera que o Memorando de Entendimento com Portugal constituiu um acto de ingerência, ilegítimo e antidemocrático pela decisão político-institucional, violando princípios e direitos consagrados na Constituição da República Portuguesa e sobretudo pelo seu conteúdo que configura um verdadeiro Pacto de Agressão ao povo e ao país;

considera que o Memorando de Entendimento com Portugal tem sido um milionário pacote de apoio e garantias à banca e aos grandes grupos económicos, de entrega de recursos públicos à agiotagem e especulação nos mercados financeiros;

defende o fim imediato do Memorando de Entendimento com Portugal e a dissolução da troika;

reconhece a insustentabilidade da dívida pública portuguesa e defende o início imediato de um processo de renegociação da dívida pública portuguesa nos seus montantes, prazos, juros e condições de pagamento adequando-as às necessidades económicas, sociais e de desenvolvimento económico e social do país e da população portuguesa;

rejeita todas as imposições, condicionantes e limitações que firam o direito soberano de Portugal decidir das suas políticas económicas, incluindo a gestão dos seus recursos naturais e as suas relações comerciais;

considera que as orientações definidas pela União Económica e Monetária, designadamente do Pacto de Estabilidade e Crescimento (agora reforçado com o six pack, o two pack e o chamado tratado orçamental) são claramente desajustadas das crescentes desigualdades entre países e as suas necessidades específicas; considera que a obsessão pelo cumprimento do défice orçamental, por políticas restritivas de investimento público, pela privatização e degradação de serviços públicos, pela diminuição de salários, pensões, reformas e outras prestações sociais conduzirá ao aprofundamento da crise;

denuncia que o fim imediato do Memorando de Entendimento continua a não garantir o direito inalienável do povo português ao desenvolvimento; defende a imediata revogação do Pacto de Estabilidade, o six pack, two pack e o chamado tratado orçamental, assim como o fim do processo do semestre europeu e da governação económica;

defende a reversibilidade dos acordos e tratados que regem a integração comunitária e o ajustamento do estatuto de cada país à vontade do seu povo e à sua real situação, devendo ser admitidas as necessárias cláusulas de excepção para esses Estados;

defende o reforço do Orçamento da UE para pelo menos o dobro e a criação de um programa da UE para os países com Memorando de Entendimento que dê prioridade à solução dos problemas sociais e à defesa, valorização e promoção dos recursos nacionais de cada um dos países afectados e da sua capacidade produtiva, nomeadamente nos sectores da agricultura, pescas e indústria, condição determinante para a defesa, valorização dos trabalhadores e a reposição dos direitos roubados nos salários e pensões e de outros direitos sociais;

exorta aos Estados-Membros, nomeadamente aos países sob o Memorando de Entendimento, a valorizarem os salários e as prestações sociais, repondo o nível de salários, rendimentos e direitos sociais roubados, de forma a resolver graves problemas sociais, melhorar a procura interna, dinamizar a actividade económica e criar mais e melhor emprego; exorta os Estados-Membros a realizarem uma política de defesa e recuperação dos serviços públicos, em particular no que concerne às funções sociais do Estado, reforçando os seus meios humanos e materiais, como elemento essencial à concretização dos direitos das populações;

sublinha a importância de se aplicarem políticas orçamentais de combate ao despesismo, à despesa sumptuária, baseadas numa componente fiscal de aumento da tributação dos dividendos e lucros e de alívio dos trabalhadores e das pequenas e médias empresas, garantindo as verbas necessárias ao funcionamento eficaz dos Estados;

defende uma profunda alteração dos estatutos, das orientações e da falsa autonomia do Banco Central Europeu, garantindo a presença em igualdade dos Estados na sua direcção, de forma a assegurar o efectivo controlo político pelos seus Estados-membros, o controlo por cada Estado do banco central nacional e da política monetária - incluindo o instrumento-moeda -, a favor do crescimento económico e do emprego.

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