Comunicado do Gabinete de Imprensa dos Deputados do PCP ao PE

Deputados do PCP condenam intervenção da UE na República Centro-Africana

Os deputados do PCP no Parlamento Europeu, João Ferreira e Inês Zuber condenam a decisão tomada ontem pelo Conselho de Assuntos Externos da UE de avançar para a preparação de uma "possível" intervenção militar na Republica Centro-Africana, uma acção convergente e concertada com a intervenção em curso da França, antiga potência colonial deste empobrecido país africano.

A situação que se vive neste país do coração de África e o conflito interno que nele eclodiu é inseparável da ingerência externa da UE, da França, das potências da NATO e de instituições ao seu serviço como o FMI e o Banco Mundial. É igualmente inseparável da indisfarçável ambição das principais potências europeias de domínio e rapina das enormes e ainda pouco exploradas riquezas naturais deste país e da região onde se insere. A intervenção militar é assim um desenvolvimento dessa política, acicatando divisões étnicas, religiosas e lutas internas pelo poder para criar melhores condições de domínio e para impor um poder político disponível para assegurar os interesses dos monopólios e das grandes potências.

Com ou sem o mandato da ONU, esta intervenção militar confirma uma vez mais a UE como bloco imperialista e o seu papel enquanto pilar europeu da NATO, a partilha de tarefas e zonas de influência entre os seus membros que decorre da aprovação do seu conceito estratégico.

Esta decisão configura-se como um impulso experimental decorrente das decisões tomadas pelo Conselho Europeu de Dezembro passado, que visa dar um carácter mais activo e interventivo à chamada Política Comum de Segurança e Defesa, canalizando para o desenvolvimento do complexo industrial militar e para o intervencionismo verbas e recursos que hipocritamente se afirmam escassos para acorrer à grave situação económica e social, ao desemprego e à pobreza crescente no países da UE, de que Portugal é um exemplo gritante.

As "consequências para os países vizinhos" ou a "situação humanitária" são velhas e recauchutadas desculpas uma vez mais utilizadas para justificar a ingerência externa, negar a soberania deste país e o direito à autodeterminação do seu povo, inviabilizando ou menorizando o papel do diálogo e da negociação na procura de soluções políticas pacíficas para os conflitos. ”Justificações" que procuram esconder que a cada intervenção militar; que a cada guerra feita em nome da paz se acentua a rapina, a situação dos povos deteriora-se e aprofunda-se a pobreza e a miséria.

A decisão da UE procura arrastar a ONU para factos consumados, instrumentalizando-a, utilizando uma vez mais interpretações abusivas do direito internacional adequadas às suas ambições hegemónicas, particularmente no continente africano, e instrumentalizando organizações como a União Africana.

Por fim, os deputados do PCP chamam a atenção para os desenvolvimentos perigosos que esta intervenção poderá vir a ter, nomeadamente no quadro de uma onda recolonizadora, de desestabilização de vários países que ainda hoje sofrem os efeitos do colonialismo e de profusão de conflitos militares.

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