A credibilidade e a voz respeitada de Portugal no Mundo é a voz da Paz e não o Portugal da lógica da guerra e do seguidismo.
O Senhor começou por declarar que da Cimeira dos Açores não ia sair nenhuma declaração de guerra. Mas o Senhor sabia que isso não era verdade. O Senhor sabia que a Cimeira dos Açores era uma cimeira de guerra mesmo que não houvesse uma declaração formal nesse sentido.
No dia seguinte em entrevista já afirmava que a chance de paz tinha menos de 1%.
É uma evidência que a paz não tinha chance nenhuma, a decisão de declaração de guerra já estava tomada.
O que tinha uma chance de menos de 1% era obter o apoio dos nove países à nova resolução. A Cimeira destinava-se apenas ao cenário para se fazer uma nova pressão sobre o Conselho de Segurança – o ultimato – e a tentar encontrar uma saída airosa para Blair e Aznar. As referências a soluções políticas e diplomáticas no quadro da ONU visavam apenas iludir a opinião pública mundial que está contra a guerra.
Portugal fica assim associado a uma cimeira de guerra, a uma guerra unilateral, contrária à Carta das Nações Unidas e ao Conselho de Segurança, que destruirá haveres e matará milhares de civis e crianças inocentes. Triste papel para o Portugal de Abril, para o Portugal que afirma no artigo 7º da Constituição, que se rege nas relações internacionais pela solução pacífica dos conflitos internacionais e pela não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados, Constituição que todos devem respeitar, triste papel para um País que ainda há pouco tempo soube envolver a ONU na questão de Timor.
Mas o Sr. Primeiro-Ministro foi mais longe. De forma gratuita declarou mesmo que se Portugal fosse membro do Conselho de Segurança votaria a nova resolução de Bush. E disse-o sem parar um segundo, sem sequer ter em conta as posições do Presidente da República, numa postura de quem diz: as posições do Presidente da República não contam, são um verbo de encher...
É uma posição inaceitável.
Depois Sr. Primeiro-Ministro, afirma que o Governo não fica neutro que entre Bush e Saddam escolhe Bush, que entre a democracia e a ditadura opta pela democracia. É um sofisma.
O Governo não opta pela democracia contra a ditadura. O Governo opta sim, por uma guerra dita preventiva, unilateral, contra a Carta das Nações Unidas e a vontade do Conselho de Segurança. Opta pela guerra contra a paz; opta pela chacina de inocentes contra a saída diplomática quando os próprios inspectores da ONU diziam que precisavam de mais alguns meses para acabarem o seu trabalho, opta pela força contra o direito, opta pela subserviência contra a diginidade!
Nós sabemos que para o Governo uma fotografia de família com o Aznar, o Tony e o George W., vale bem uma guerra no Iraque, mesmo que a imprensa internacional o tenha cortado. Quantas crianças mortas vale essa fotografia? Quantas crianças terão de ser sacrificadas para satisfazer a arrogância imperial, a ganância das companhias petrolíferas dos EUA. Quantas crianças terão de ser sacrificadas com a bomba atómica sem átomo, a “mãe de todas as bombas”, no odioso «game is over» de Bush?
É também do maior cinismo que seja agora à beira do desencadeamento de uma nova guerra que os EUA venham fazer promessas de solução do conflito israelo-palestiniano quando está viva na memória do mundo árabe e da opinião pública mundial a prolongada cumplicidade da Administração Bush com a criminosa política de Ariel Sharon, com o desrespeito da parte de Israel de sucessivas Resoluções da ONU e com o sangrento espezinhamento dos direitos nacionais do povo palestiniano.