Intervenção de Bernardino Soares na Assembleia de República

Debate do Programa do XIX Governo Constitucional

Sr.ª Presidente,
Não sei se estarei nas melhores condições para fazer esta intervenção porque, há minutos, pareceu-me ter tido aqui lugar um déjà vu um pouco complicado ao ouvir o Sr. Deputado Pedro Marques criticar o Governo por não ser capaz de cortar na despesa e recorrer ao aumento dos impostos!
Sr.ª Presidente,
Com a licença da Mesa, queria dizer que há pouco não fui completamente justo com o Sr.
Primeiro-Ministro quando lhe disse que ele fazia lembrar o seu antecessor. E não terei sido completamente justo porque se é verdade que o Sr. Primeiro-Ministro diz agora aquilo que o governo do PS dizia, também é verdade que o PS diz agora na oposição aquilo que fazia no governo e que era o que PSD dizia quando estava na oposição e ainda não tinha chegado ao Governo. É tudo «farinha do mesmo saco», Sr.ª Presidente!
É tudo «farinha do mesmo saco»!
Sr. Ministro, queria colocar-lhe duas perguntas.
Em primeiro lugar, embora o Sr. Ministro não fosse membro do governo na altura, saberá certamente que há um ano atrás estávamos aqui a discutir também um aumento do IRS sobre os rendimentos dos trabalhadores justificado com a necessidade de corresponder ao equilíbrio das contas públicas, coisa que não aconteceu porque não houve crescimento económico — enquanto não houver crescimento económico não haverá equilíbrio das contas públicas. E os senhores agora vêm com a mesma receita: um novo saque aos salários dos trabalhadores, dizendo que isto vai servir para equilibrar as contas públicas. Ora, nós sabemos que não é isso que vai acontecer.
Mas há uma outra questão à qual o Sr. Ministro não respondeu — reconheço que algumas têm sido respondidas: onde é que vai cortar os 800 milhões de euros que o Sr. Primeiro-Ministro referiu, e que o Sr. Ministro já confirmou, que vão ser cortados na despesa pública? É preciso dizer onde vão ser cortados! É nas comparticipações? É no abono de família? É no subsídio de desemprego? É no material indispensável para o funcionamento dos hospitais? É nas escolas públicas? Onde é, Sr. Ministro? É que ninguém acredita que a esta altura, com esse anúncio, o Governo não tenha uma ideia de quais são os agregados de despesa que vão ser cortados para atingir 800 milhões de euros.
É essa resposta que o Sr. Ministro deve a esta Câmara neste momento.

  • Administração Pública
  • Assuntos e Sectores Sociais
  • Economia e Aparelho Produtivo
  • Regime Democrático e Assuntos Constitucionais
  • Trabalhadores
  • Assembleia da República
  • Intervenções