As propostas legislativas apresentadas pela Comissão, à então chamada a Revisão Intercalar da PAC, não alteram muito os objectivos e as propostas apresentadas na sua Comunicação de 10 de Julho de 2002, com excepção das áreas condicionadas pelas decisões do Conselho Europeu de Bruxelas, que congelou a despesa agrícola relativa ao pilar de mercados entre 2007 e 2013. De forma mais diluída, as propostas do PE e o acordo final do Conselho, mantém os objectivos centrais quanto à desvinculação das ajudas da produção e às poupanças orçamentais. Em tabela anexa resumem-se as principais diferenças entre as propostas da Comissão (Janeiro de 2003), as propostas do PE votadas na sessão plenária de Junho de 2003 e o acordo final do Conselho de 25 a 26 de Junho de 2003, em comparação com a manutenção do quadro da Agenda 2000.
Proposta da Comissão | Proposta do PE | Compromisso do Conselho | |
Desvinculação das Ajudas | Pagamento único por exploração baseado em referências históricas, abrangendo: | Pagamento único por exploração baseado em referências históricas, abrangendo: | Pagamento único por exploração baseado em referências históricas, mas mantendo partes desvinculadas parcialmente como opção: |
- culturas arvenses, suplemento trigo duro, fécula de batata (apenas 50%), leguminosas de grão, arroz, forragens secas, carne de bovino, ovinos, sementes e leite a partir de 2004. | - culturas arvenses e carne de bovino (bovino macho e extensificação). | - até 25% nas culturas arvenses ou em alternativa 40% no trigo duro, | |
São excluídos o prémio qualidade do trigo duro, o suplemento proteaginosas e o suplemento no sector do arroz. | São excluídos os restantes sectores. | - até 100% do prémio vaca aleitante e 40% no prémio de abate ou, em alternativa, 100% do prémio de bate e 75% do prémio bovino macho, | |
Suspensão das transferências aos Estados-membro incapazes de aplicar correctamente o novo sistema. | - até 50% do prémio dos ovinos e caprinos. | ||
Exclusão de produzir culturas permanentes. | O critério das referências históricas é substituído pela superfície e o emprego agrícola a partir de 2007. | ||
Exclusão de produzir frutas e legumes, incluído a batata. | Exclusão de produzir frutas e legumes, incluído a batata. | ||
Reserva Nacional de Direitos | Reserva Nacional de Direitos, com atenção para os jovens agricultores. | O sistema poderá ter uma derrogação de 2 anos, ou seja, até 2007. | |
Período de Referência: 2000 a 2002 | Período de Referência: 2000 a 2002. | ||
Período de Referência: 2000 a 2002 | Transferência de Direitos com ou sem terra. | Transferência de Direitos com ou sem terra. | |
Transferência de Direitos com ou sem terra. | Auditoria obrigatória a quem receba mais de 30.000€ de ajudas, faseada a partir de 2007. | Auditoria voluntária. | |
Auditoria obrigatória a quem receba mais de 15.000€ de ajudas ou mais 100.000€ de volume de negócios. | |||
Degressividade "Modulação" | Redução das ajudas obrigatória. | Redução das ajudas opcional. | redução das ajudas obrigatória. |
Taxas anuais de redução: progressivas de 1% em 2006 a 19% em 2012. | Taxas anuais de redução: 6% para as zonas desfavorecidas e 8% para as restantes. | Taxas anuais de redução: 3% em 2005, 4% em 2006 e 5% a partir de 2007 | |
Franquia de isenção: 5.000€ | Franquia de isenção: 7.500€ | Franquia de isenção: 5.000€ | |
Outras Franquias: dos 5.000€ aos 50.000€ apenas 50% da redução | Outras Franquias: não | Outras Franquias: não | |
Transferências Desenvolvimento Rural: progressivas de 1% em 2006 a 6% em 2012. | |||
Transferências Desenvolvimento Rural: totalidade, mas com obrigatoriedade de co-financiamento nacional. | Transferências Desenvolvimento Rural: um mínimo de 80% deverá retornar aos Estados-membro, ou seja, só 20% irão para redistribuição comunitária. | ||
Redistribuição Comunitária com base nos critérios: superfície agrícola, emprego agrícola e PIB per capita. | |||
Redistribuição Comunitária com base nos critérios: superfície agrícola, emprego agrícola e PIB per capita. | Redistribuição Comunitária com base nos critérios: superfície agrícola, emprego agrícola, PIB per capita e superfície agrícola em zonas desfavorecidas. | Mecanismo de disciplina orçamental para cortar automaticamente as ajudas (a franquia de 5.000€. | |
Parte das verbas vão para financiar futuras reformas de OCM. | Suprimido. | ||
Desenvolvimento Rural | Sem alteração. | Agro-ambientais: taxas de financiamento comunitário a 85% para as zonas de objectivo 1 e 60% nas outras zonas. | Agro-ambientais: taxas de financiamento comunitário a 85% para as zonas de objectivo 1 e 60% nas outras zonas. |
Sem alteração. | Bem Estar Animal: 500€ por CN (máximo) | ||
Qualidade: 3.000€/ano por exploração até 5 anos (máximo); apoio público até 70% dos custos elegíveis para a promoção de produtos. | |||
Bem Estar Animal: 500€ por CN (máximo) | Auditoria: ajuda máxima de 80% dos custos, limitada a 1.500€ por exploração | ||
Qualidade: 1.500€/ano por exploração até 5 anos (máximo); apoio público até 50% dos custos elegíveis para a promoção de produtos. | Cumprimento das normas: 10.000€ por exploração | ||
Auditoria: ajuda máxima de 80% dos custos, limitada a 1.500€ por exploração | Indemnização Compensatória: mínimo 25€ a um máximo de 200€. | ||
Cumprimento das normas: 10.000€ por exploração | Aumento dos apoios jovens agricultores. | ||
Sem alteração. | |||
Indemnização Compensatória: mínimo 125€ a um máximo de 300€ | |||
Criação de uma ajuda específica á mulher rural e as explorações de semi-subsistência. | |||
Cereais | Preço de Intervenção: 95.35€/t (-5%,-6€) | Preço de Intervenção: 101,31€/t | Preço de Intervenção: 101,31€/t |
Pagamento Directo: 66€/t (+5%,+3€) | Pagamento Directo: 66€/t (+5%,+3€) | Pagamento Directo: 63€/t | |
Incrementos Mensais: Eliminados | Incrementos Mensais: 0,93€/t (7 etapas) | Incrementos Mensais: 0,47€/t (7 etapas) | |
Centeio não incluído na intervenção | Centeio incluído na intervenção | Centeio não incluído na intervenção | |
Pagamento Proteaginosas: 55,57€/ha | Pagamento Proteaginosas (leguminosas): 55,57€/ha | Pagamento Proteaginosas: 55,57€/ha | |
- SMG de 1,4 milhões de ha | - SMG de 2 milhões de ha | - SMG de 1,4 milhões de ha | |
Arroz | Armazenagem: 150€/t (-50%,-148.35€) | Eliminada. | Eliminada. |
Preço de Intervenção: 120€/t (-60%,-178,35€) | Preço de Intervenção: 150€/t ((-50%,-148.35€) | Preço de Intervenção: 150€/t ((-50%,-148.35€) | |
Pagamento Directo: 177€/t(+236%,+124,35€,<70%) | Pagamento Directo: 177€/t(+236%,+124,35€,<70%) | Pagamento Directo: 177€/t(+236%,+124,35€,<70%) | |
Redução das SNG e super-penalização | Eliminada | Eliminada. Intervenção limitada a 75.000/t | |
Leite | Regime de Quotas: 2015 | Regime de Quotas: 2015 | Regime de Quotas: 2015 |
Preço Indicativo (100 kg): 30,98€ para 2000 a 2005 a 22,21€ a partir 2008 (-28%,-8.77€) | Preço Indicativo: suprimido | Preço Indicativo: suprimido | |
Intervenção Manteiga (100 kg): 328,20€ para 2000 a 2004 a 213.95€ a partir 2008 (-35%,-114.15€) | |||
Intervenção Leite em Pó (100 kg): 205,52€ para 2000 a 2004 a 169,74€ a partir 2008 (-17%,-35,78€) | Intervenção Manteiga (100 kg): 328,20€ para 2000 a 2005 a 259.52€ a partir 2007 (-15%,-68,68€) | Intervenção Manteiga (100 kg): 328,20€ para 2000 a 2004 a 262,56€ a partir 2007 (-25%,-65,64€) | |
Suprimido. | Intervenção Leite em Pó (100 kg): - 205,52€ para 2000 a 2005 a 184,01€ a partir 2007 (-17%,-35,78€) | Intervenção Leite em Pó (100 kg): 205,52€ para 2000 a 2004 a 178,71€ a partir 2006 (-15%,-26,81€) | |
Pagamento vaca leiteira | Pagamento vaca leiteira | ||
Quota - Portugal: 1999/2000 de 1.872.461/t a | - de 9.58€ em 2005 a 28.74€ a partir 2007 | - de 11.81€ em 2005 a 35.5€ a partir 2007 | |
2007/2008 de 1.917.534/t (+2,4%) | Sem alteração. | A verificar. | |
Expira a isenção. | |||
Derrogação da isenção de 73.000t para a campanha de 2003/2004, de 61,500t em 2004, 2005 e a partir daí 50.000t. | |||
Trigo Duro | Zonas Tradicionais: 250€/ha (-27%,-94,5€/ha) | Zonas Tradicionais: 250€/ha (-27%,-94,5€/ha) | Zonas Tradicionais: 304,25€/ha (2004) até 285€/ha a partir de 2006 (-17%,-59,5€/ha) |
Zonas Consolidadas: zero | Zonas Consolidadas: zero | Zonas Consolidadas: eliminar a prazo. | |
Prémio Qualidade: 15€/t | Prémio Qualidade: 15€/t | Prémio Qualidade: 40€/ha (<70%) | |
Prémio Zonas Tradicionais: 40€/ha (<50%) | Prémio Zonas Tradicionais: 40€/ha (<50%) | SNG - Portugal: 118.000 Ha | |
SNG - Portugal: 118.000 Ha | SNG - Portugal: 118.000 Ha | ||
Frutos de casca rija | Pagamento: 100€/ha (-60%,-141€) | Pagamento: 241.5€/ha | Pagamento: 120.75€/ha (-50%,-120,25€) |
Complemento Nacional Máximo: 109€/ha | Complemento Nacional Máximo: 109€/ha | Complemento Nacional Máximo: 120.75€/ha | |
SMG: 800.000 ha | SMG: 886.600 ha (+11%) | SMG: 800.000 ha | |
SNG - Portugal: 41.300 Ha | SNG - Portugal: 66.300 Ha (+61%) | SNG - Portugal: 41.300 Ha |
Fonte: COM (2003) 23; A5-197/2003, acta final de 5/6/2003; Final Presidency Compromise - DS 223/02; cálculos próprios
Défice da Balança Agrícola Aumenta 330% €3.550 milhões era o valor do défice agrícola português com o exterior; entre 1991 e 2001, o défice da balança comercial agrícola portuguesa passou de €827 milhões para cerca de €3.550 milhões, ou seja, um aumento de cerca de 330% (Gráfico 2); 40% era o valor da taxa de cobertura das importações; entre 1991 e 2001, a taxa de cobertura das exportações passou de cerca de 57% para cerca de 40%; as importações cresceram de forma vertiginosa! €2.550 milhões era o montante do défice comercial português com a UE; entre 1991 e 2001, o défice comercial agrícola português com a UE passou dos €457 milhões para mais de €2.550 milhões, ou seja, um aumento de cerca de 460%; no mesmo período, a taxa de cobertura passou de cerca de 60% para 40%. |
Emprego agrícola cai mais depressa em Portugal que na UE Entre 1991 e 2001, o emprego agrícola, medido em UTA, teve uma redução de 314 mil UTA, ou seja, mais de 37%; no mesmo período, na UE, o emprego agrícola teve uma redução de 2.272 mil UTA, ou seja, mais de 27%. |
220 mil explorações agrícolas desapareceram desde a Adesão
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PAC é injusta na distribuição das ajudas entre países, produções e produtores 41% da despesa agrícola em 2000 foi para as culturas arvenses, apesar destas representarem cerca de 13% do produto final agrícola, enquanto as frutas e legumes recebem menos de 4% do total de ajudas, apesar de representarem cerca de 16% da produção agrícola final (Gráfico 3); 44% das ajudas agrícolas em Portugal, em 2000, foram para 1% dos (grandes) agricultores; na UE menos de 20% dos (grandes) agricultores recebeu mais de 80% das ajudas; 1,6% foi o volume de ajudas que Portugal recebeu do FEOGA-Garantia em 2000 (Gráfico 4), sendo Portugal um dos países que menos recebe da PAC; 16 é o número de vezes que um agricultor dinamarquês recebe a mais que um agricultor português, em termos médios; um irlandês recebe 8 vezes mais e um grego 4 vezes mais, por exemplo. |
Portugal é contribuinte líquido da PAC €2.000 milhões foi o montante da contribuição líquida de Portugal para a PAC, entre 1989 e 1998, ou seja €262 por habitante, apesar de ser um dos países mais pobres da UE e do peso sócio-económico do sector, sobretudo ao nível do emprego. No segundo relatório sobre a coesão económica e social na UE, a Comissão afirmava que Portugal era contribuinte líquido da PAC. A Comissão forneceu o estudo em que baseou esta afirmação em resposta à pergunta escrita n.º. 897/2001, da deputada do PCP Ilda Figueiredo. |
Deputados do PCP votam contra a reforma da PAC e propõem ajuda para os pequenos produtores
Os deputados do PCP rejeitaram o relatório do deputado do PSD, Arlindo Cunha, sobre os apoios directos, elemento central da proposta da reforma da PAC, que foi votado na Sessão Plenária do PE de Junho de 2003. Na sua declaração de voto, a deputada Ilda Figueiredo justificou o voto favorável à rejeição, visto o relatório "aceitar, ainda que de forma algo mitigada, o princípio da desvinculação das ajudas da produção, não apresentar uma verdadeira proposta de modulação e plafonamento das ajudas da PAC, e, em certos aspectos, piorar a proposta inicial" da Comissão. A deputada lamentava ainda que as propostas do PCP tivessem sido rejeitadas.
Em comunicado de imprensa de Maio de 2003, os deputados do PCP já tinham lembrado que "estes projectos de relatório acabam por se inserir na lógica da proposta da Comissão, não respondendo às necessárias mudanças de fundo na PAC" e classificaram, então, como "preocupante a política do governo português que não está a assumir a defesa intransigente da especificidade da agricultura portuguesa", como veio posteriormente a confirmar-se no Conselho de Agricultura de 25 a 26 de Junho de 2003.
Não obstante a rejeição de fundo à actual reforma da PAC, a deputada do PCP, Ilda Figueiredo, apresentou diversas propostas com vista a minimizar alguns dos aspectos mais gravosos da reforma, de onde se destacam:
- Uma proposta de verdadeira modulação que visava duplicar o montante especial de ajudas para os agricultores que recebem até €5.000 e isentar de reduções os agricultores que recebem menos de €10.000, financiada pela introdução do princípio do plafonamento ao nível comunitário, impondo um limite máximo de ajudas de €100.000 por agricultor:
- A criação, no âmbito do desenvolvimento rural, de uma indemnização compensatória complementar para os pequenos agricultores e a agricultura familiar. Esta proposta, em conexão com critérios de elegibilidade estritos, visaria dar uma ajuda anual de €1.000 aos agricultores mais necessitados;
- Aumento das valores máximos e mínimos das indemnizações compensatórias para as regiões mais desfavorecidas em €100, financiada por uma maior transferência das verbas para o desenvolvimento rural (esta proposta foi aprovada pelo PE).
Quota de leite dos Açores
O Conselho de Agricultura, realizado a 25 e 26 de Junho do corrente ano, chegou a um acordo político sobre a reforma da PAC. Nesse acordo, a solução encontrada para a quota de leite dos Açores foi a prorrogação da isenção de 73.000 toneladas para a campanha de 2003/2004, uma isenção 61.500 toneladas para a campanha de 2004/2005 e a partir da campanha 2005/2006 uma quantidade de referência adicional de 50.000 toneladas.
A própria Comissão, no seu relatório de 2003, sobre a situação da agricultura portuguesa reconheceu “a importância económica especial deste sector nos Açores e, por isso, os problemas ligados ao desenvolvimento da produção de leite na região merecem uma atenção especial e que é necessário solucionar esses problemas através de medidas adequadas”.
Para a deputada do PCP ao PE, Ilda Figueiredo, a solução apresentada pela Comissão é insuficiente perante as necessidades do sector do leite nos Açores (que representa 80% do produto agrícola bruto regional, 25% das entregas de leite e mais de 13% dos produtores nacionais, ou seja, cerca de 5 mil produtores) e o pedido de Portugal de aumento da quota em 100.000 toneladas. Situação tanto mais injusta quando outros países, como a Grécia, obtiveram aumentos de 120.000 toneladas. Face a este problema, e à semelhança de anteriores ocasiões (1999 e 2002), Ilda Figueiredo, questionou a Comissão Europeia sobre a situação específica do sector do leite nos Açores e o seu estatuto de região ultraperiférica e, ainda, sobre as medidas que pretende tomar, em conformidade com o relatório, para resolver este importante constrangimento para os Açores.