Sr.ª Presidente,
Sr.ª Deputada Cecília Honório,
Esta questão que aqui traz tem uma enorme importância democrática, porque sabemos que, nos tempos que correm, existe uma campanha populista, associada até, diria, a laivos antidemocráticos e antiparlamentares, e que assenta, precisamente, na demagógica reivindicação da redução do número de Deputados.
E dir-se-ia que essa campanha não tem fim, porque enquanto houver mais do que um Deputado, essa campanha não cessará!
De facto, a grande surpresa do 5 de Outubro, para além de outras surpresas que a Sr.ª Deputada também referiu, foi vermos o Secretário-Geral do Partido Socialista a alinhar nesse coro, contrariando, até, posições expressas, nesta Assembleia, em diversos momentos pelo próprio Partido Socialista.
Lembramos que, em 1998, após a revisão constitucional de 1997, quando o Governo do Partido Socialista apresentou uma proposta de lei para alterar profundamente o sistema eleitoral, não chegou a acordo com o PSD, porque o então Governo do Partido Socialista — e, aqui, pela voz do então Ministro dos Assuntos Parlamentares, António Costa — considerava que, para o Partido Socialista, a redução do número de Deputados era inaceitável; e não chegou a acordo com o PSD, nessa altura.
E era inaceitável, porquê? Porque o que pretendia o PSD era, de facto, bipolarizar artificialmente este Parlamento, fazendo com que os partidos com maior representação pudessem obter maiorias absolutas, com menos votos, ou seja, que pudessem «ganhar na secretaria».
E que isso lesaria, profundamente, a pluralidade da democracia e a proporcionalidade do sistema eleitoral. Por isso, na altura, o Partido Socialista recusou essa proposta do PSD.
Lembramos, também, que, em 1998, um estudo encomendado, precisamente pelo Partido Socialista e da autoria dos Professores André Freire, Manuel Meirinho e Diogo Moreira, considerava que a proporcionalidade do sistema eleitoral português não era compatível com a redução do número de Deputados. Aliás, os estudos comparativos que faziam demonstravam que Portugal era dos países que, em termos relativos, tinha menos Deputados na Europa, até pela simples razão de que é um dos poucos países que tem apenas uma Câmara parlamentar — e dizemos nós, ainda bem que só tem uma Câmara parlamentar!
Portanto, esta proposta avançada pelo Secretário-Geral do Partido Socialista, de facto, surpreendeu-nos, porque vem completamente ao contrário daquilo que o Partido Socialista sempre tem defendido e, Sr.ª Presidente — isso é o que nos choca mais —, vem de encontro às campanhas mais demagógicas, mais populistas e antiparlamentares que, de facto, só fazem mal à democracia portuguesa.
Isso é que não esperávamos ver, do Partido Socialista, num momento como este!