Pergunta ao Governo N.º 266/XII/2

Crescentes dificuldades de acesso aos cuidados de saúde na Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados do Carvalhido

Crescentes dificuldades de acesso aos cuidados de saúde na Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados do Carvalhido

O Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português tomou conhecimento do relato de uma família (Arminda Gonçalves Azevedo e Joaquim Dias Queirós, casados, com 79 e 77 anos de idade, respetivamente, e utentes da Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados do Carvalhido - UCSPC) quedenuncia as crescentes dificuldades no acesso aos cuidados de saúde, que passamos a citar:
«Durante aproximadamente 30 anos, Arminda Azevedo e Joaquim Queirós foram acompanhados pela Dra. Amélia Moreira, médica de família que em Julho deste ano se reformou e não foi, nem será, segundo informações dadas no local, substituída. Foram ainda acompanhados por um assistente da Dra. Amélia que cremos ser estagiário que, em articulação com a médica até à sua aposentação, os acompanhou e em meados de Agosto, saiu também da UCSPC. Ficaram, ao fim de 30 anos, sem médico de família. Agora que estão velhos e com problemas de saúde acrescidos e que recorrem com maior frequência à UCSPC, perderam o apoio personalizado que tinham e do qual usufruíam na UCSPC.
A Arminda Azevedo é diabética, faz regularmente controlo dos diabetes, tem tido necessidade de rever a medicação crónica com a médica e vai regularmente ainda à consulta do pé diabético. Recentemente, a 1 de Outubro, foi operada a um joelho no Hospital da Prelada (HP), estando ainda em fase de recuperação, a fazer fisioterapia, e o papel que trouxe do seu médico ortopedista do HP, Dr. Alberto Lemos, dirigido ainda à Dra. Amélia, recomenda “fazer vigilância do estado geral pelo médico assistente”. Quando se dirigiu à UCSPC, não pode ter consulta de recurso porque estas só poderiam acontecer a partir de 14 de Outubro, sem ter sido possível perceber a razão de tal facto, nem pode deixar a referida carta dirigida à médica que ficará guardada com a Arminda até `a consulta de recurso. Ainda abordou uma outra médica que conhece arriscando perguntar se “não queria ficar consigo”, mas foi-lhe explicado pela médica que não podia tomar essa decisão. Está previsto, tanto pela sua antiga medica, como pelo ortopedista, fazer a mesma operação ao joelho direito, sob pena de deixar de andar se tal não acontecer. Até Julho deste ano, havia articulação entre a médica de família e o ortopedista e neste momento só restam incertezas quanto à forma como se processarão futuras articulações.
O Joaquim Queirós, relativamente saudável até há bem pouco tempo, embora hipertenso,começou a ter dificuldades em andar desde Março e com o apoio da médica de família, fez vários exames de diagnóstico, fisioterapia e foi encaminhado para a consulta de neurocirurgia do Hospital de Santo António que aconteceu no passado dia 8 de Outubro. Esta consulta não foi conclusiva, só lhe foi transmitido que não precisava de ser operado e agora que a fisioterapia terminou e que o problema de locomoção persiste, precisa que se continue a avaliar o seu problema para poder resolvê-lo ou, pelo menos, garantir alguma qualidade de vida no dia-a-dia.
Estão ambos sem médico de família, sujeitos a estarem com médicos diferentes e sem poder antecipar a marcação de consulta, mas só arriscar, com o tempo de espera que se sabe e sem garantia de consulta, a “vaga”.
Outros problemas de outra ordem vão surgindo com cada um deles, sobre os quais não irei pronunciar-me nesta carta, mas acreditem que só numa relação de alguma continuidade, confiança e segurança, se sentirão à vontade para falar de tudo o que é necessário para o médico os conhecer e fazer uma avaliação global e pertinente. Não é fácil serem atendidos hoje por um médico, amanhã por outro, apresentar a cada um uma parcela de si e das doenças, aquela doença que naquele dia os leva a marcar consulta e que traz acoplado informações associadas à doença e por isso, parcelares e lacunares. Não é fácil serem eles “responsáveis” por saber quando devem tentar uma consulta de recurso, afinal nenhuma consulta fica marcada:
estará na altura de voltar a fazer análises por causa dos diabetes? Estará na altura de rever a medicação? Haverá outro exame qualquer que os médicos assistentes mandem os seus pacientes com estas idades fazer?...
Sabemos que os problemas da Arminda e do Joaquim se vão agravando e atropelando uns aos outros com a idade e, paradoxalmente, estão menos amparados. Perderam o apoio (legitimamente) de quem já os conhecia mas viram-se impedidos de continuar a ter o apoio de um outro médico de família que desse continuidade ao trabalho feito até à data. Sem desprimor para cada médico da UCSPC, sem médico de família não serão acompanhados da mesma forma nem terão o olhar atento e preventivo de quem os poderia conhecer daqui para a frente.
Sabemos também que é muito fácil desistir de pequenas grandes coisas nestas idades e, em concreto, a Arminda e o Joaquim tinham por parte da Dra. Amélia um papel ativo e motivador que perdem sem a atribuição de um médico de família. Da sua rede social fazia parte também a médica de família, espaço que fica agora vazio. Acrescento que este casal não tem filhos nem outro tipo de apoio familiar.
Pelo exposto, solicito apreciação desta situação e a atribuição de médico de família a ambos, nesta UCSPC ou na Unidade de Saúde Familiar de Serpa Pinto (bastante mais perto da residência do casal), e peço resposta a esta carta.
Consciente de que este problema – perda de médico de família - não se esgota neste “caso” da Arminda Azevedo e do Joaquim Queirós, e que tem um enquadramento político bem atual - a brutal contenção de custos, de perda de direitos dos utentes e de progressivo ataque ao serviço nacional da saúde - darei conhecimento desta carta aos grupos parlamentares da Assembleia da República.»
Ao abrigo das disposições legais e regimentais aplicáveis, solicitamos ao Governo que por intermédio do Ministério da Saúde, nos sejam prestados os seguintes esclarecimentos:
1.Face ao exposto, o Governo não considera urgente a atribuição de médico de família concretamente a esta família, como garantia do acesso aos cuidados de saúde de que necessitam?
2.Quando será atribuído médico de família a estes utentes, para assegurar o pleno direito à saúde?

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